Alegação de Sérgio Muniz sobre fuga de Lidiane Rocha revela formação de quadrilha
Política

Alegação de Sérgio Muniz sobre fuga de Lidiane Rocha revela formação de quadrilha

Para despachar pagamentos a fornecedores e servidores, ex-prefeita obrigatoriamente precisou ter contato com terceiros

A alegação do advogado Sérgio Muniz, ex-membro do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Maranhão e que compõe a bancada de defesa da ex-prefeita de Bom Jardim, Lidiane Rocha (sem partido), sobre o paradeiro da ex-gestora durante os 39 dias em que ela esteve foragida da Justiça, abre margem para formação de quadrilha dentro da prefeitura no período em que a Polícia Federal estava em seu encalço.

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Segundo Muniz, durante o tempo de ampla cobertura da imprensa sobre o caso e do reforço da vigilância nas rodoviárias, aeroportos e rodovias do Maranhão para capturar Lidiane, a ex-prefeita não fugiu, estava alojada em uma tribo indígena no próprio município de Bom Jardim e ainda despachou como gestora, chegando a "efetuar o pagamento de fornecedores, da limpeza e o pagamento de servidores".

“Ela estava em Bom Jardim. Ela seria cassada ou declarada à vacância do cargo em qualquer situação. Você imagina que, na quinta-feira [27 de agosto], antes do juiz dar a decisão mandando empossar a Malrinete Gralhada, ela [Lidiane] mandou efetuar o pagamento de fornecedores, da limpeza e o pagamento de servidores. E, na sexta-feira, o juiz deu uma decisão dizendo que ela não se encontrava no município”, afirmou o advogado Sérgio Muniz.

Além de ir de encontro a declaração do primeiro advogado de Lidiane Rocha, Carlos Sérgio de Carvalho, que afirmou que a ex-prefeita se "escondeu em um momento de pânico", e que estava "depressiva, doente, ansiosa e sofrendo muito" por conta do pedido de prisão preventiva, a declaração de Sérgio Muniz, que é advogado eleitoral mas atua no caso como criminalista, revela que funcionários da Prefeitura de Bom Jardim, provavelmente do setor administrativo, sabiam do paradeiro de Lidiane ou mantiveram contato com ela mesmo após a PF alertar que quem estivesse ajudando a então foragida a se esconder seria tratado como integrante de organização criminosa.

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“Pelo tempo que ela está desaparecida, é muito provável que ela esteja recebendo o auxílio de outras pessoas. Isso pode fazer com que essas pessoas sejam incluídas na organização criminosa que se investiga", declarou o superintendente da PF no Maranhão, Alexandre Saraiva, no dia 22 de agosto, portanto cinco dias antes de Lidiane Rocha "efetuar o pagamento de fornecedores, da limpeza e o pagamento de servidores".

Por declarar que houve despachos da ex-prefeita no período em que ela foi declarada como foragida pela Polícia Federal, é esperado que Sérgio Muniz forneça documentos que comprovem que efetivamente houve os pagamentos. E serão esses documentos que apontarão quem teve contato com Lidiane e, inclusive, quem pode ter dado cobertura a ela na fuga e no esconderijo.

Todos devem ser indicados pela PF por formação de quadrilha.

Tentativa de retorno ao cargo

Nos bastidores, especula-se que a estratégia do advogado Sergio Muniz em declarar que a Lidiane Rocha não saiu do município seria para retornar a ex-prefeita ao cargo. Se verdadeira, além de demostrar o total conhecimento do causídico sobre a única área onde ele é especializado, a estratégia barra no que diz a Lei Orgânica do município.

A cassação da ex-gestora pela Câmara Municipal de Bom Jardim - que já estava afastada da prefeitura uma semana antes por decisão da Justiça - se deu pela sua ausência do cargo por mais de 15 dias, sem autorização do Legislativo municipal, o que é proibido, e não por estar estar ausente do município.



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