Documentos obtidos com exclusividade pelo ATUAL7 relacionados à Lava Jato comprovam que o codinome de Flávio Dino (PCdoB) na planilha de propina da Odebrecht era realmente ‘Cuba’.
A informação — diferentemente do que alega o governador do Maranhão, dando conta de que contra ele há apenas uma uma simples delação — está no calhamaço enviado pela Procuradoria-Geral da República (PRG) ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo autorização para o compartilhamento com o Superior Tribunal de Justiça (STJ) dos indícios da participação do comunista no maior esquema de corrupção do pais já desbaratado pela Polícia Federal.
O codinome de Dino é confirmado em Termo (TC) de Colaboração Premiada do ex-funcionário da empreiteira, José de Carvalho Filho, único aceito por Fachin — ele não aceitou a remessa ao STJ do TC do ex-executivo Hilberto Mascarelhas Alves Silva Filho, onde é explicada didaticamente, mas de forma genérica, sem citar nomes, como funcionava o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht , o chamado “departamento da propina”.
Planilhas, ligações telefônicas, registros de viagens…
Além do registro audiovisual divulgado pelo ATUAL7 na semana passada, na delação, José de Carvalho Filho também entregou aos procuradores da República Rafael Ribeiro Rayol e Bruno Jorge Rijo Lamenha Lins alguns documentos, dentre eles uma planilha em que o chefe do Executivo estadual maranhense aparece juntamente com outros agentes públicos e políticos corrompidos pela Odebrecht.
Há ainda um outro documento, que apresenta dados não lembrados por Filho durante a delação gravada. Nele, o próprio delator afirma que repassou o dinheiro por fora para a campanha de Flávio Dino, mesmo tendo conhecimento de que o Projeto de Lei 2.279/2007, então sobre a Relatoria do comunista Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, sequer tenha sido aprovado.
Segundo o ex-funcionário da Odebrecht, o pedido de ajuda financeira feito por Flávio Dino para a campanha eleitoral de 2010 ocorreu numa reunião, no gabinete do próprio comunista. Apesar de, na gravação, José de Carvalho Filho haver informado que esse encontro teria acontecido no final de 2009, no documento, é informado como tendo sido no segundo semestre de 2010. Essa informação, porém, não foi encarada como contraditória pelo chefe da PRG, Rodrigo Janot, ao pedir a abertura de inquérito contra o governador do Maranhão.
José de Carvalho Filho, segundo os procuradores da República que colheram as informações e Rodrigo Janot, também forneceu em sua colaboração registros de ligações telefônicas e de viagens ao Maranhão, dentre outros documentos que corroboram com a sua delação sobre o envolvimento de Dino no esquema da Odebrecht.
Até mesmo matérias jornalísticas sobre a visita de Flávio Dino à Alcântara, no início de 2015, supostamente para tratar sobre interesses do empreiteira na manutenção de um acordo entre os governos brasileiro e ucraniano para a continuidade da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), foram anexadas à documentação que pesa contra o governador do Maranhão.
Baixe o TC e o Anexo da delação do ex-Odebrecht José de Carvalho Filho.
‘Charuto’
Uma outra planilha, publicada pelo ATUAL7 na última segunda-feira 17, revela que a senha repassada pelo ex-funcionário da Odebrecht para Flávio Dino, segundo o delator, era ‘charuto’.
Apesar de também servir como indício de participação do governador do Maranhão no esquema da Lava Jato, esse documento não foi anexado pela PGR contra o comunista no pedido de abertura de inquérito contra ele. A não inclusão dessa planilha, que revela ainda a senha e o codinome do responsável pela suposta entrega dos R$ 200 mil de caixa 2 para a campanha de Dino, se deu por este documento fazer parte dos entregues à força-tarefa da Lava Jato por outro outro delator, o ex-executivo Cláudio Melo Filho.
“TUTAR” e DF
Numa possível abertura de inquérito contra o governador do Maranhão, todos os documentos serão anexados ao arquivo do comunista na Lava Jato, identificado pela PRG como “Campanha Flávio Dino”. Somente durante essa investigação é que será esclarecido se a entrega do dinheiro em espécie pelo operador “TUTAR” foi feita em São Paulo ou no Distrito Federal.
Pelo cruzamento de dados feito pelo ATUAL7, SP teria relação com a equipe no Setor de Operações Estruturadas, o “departamento da propina” liderada por Hilberto Mascarelhas Silva, o qual se dividia entre São Paulo e Salvador. Já DF, identificado na outra planilha entregue pelos delatores aos procuradores da Lava Jato, seria o real local onde o dinheiro por fora foi supostamente entregue.
Essa indicação é baseada na delação da ex-funcionária da Odebrecht, Maria Lúcia Tavares, que detalhou que a área operada por “TUTAR”, também chamado no sistema Drousys de “TUTA”, era Brasília e Belo Horizonte — embora ele tenha feito algumas entregas em outros locais, quando Lúcia Tavares não conseguia contactar os “prestadores de serviços” “PAULISTINHA” e “CARIOQUINHA”.
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