O ex-senador José Sarney (PMDB-AP) publicou artigo em seu blog oficial em que ironiza o governador Flávio Dino (PCdoB), seu desafeto no Maranhão, pelo fato de, segundo força-tarefa da Operação Pegadores, 5ª fase da Sermão aos Peixes, até mesma uma sorveteria haver sido utilizada pela organização criminosa para afanar mais de R$ 18 milhões da Secretaria de Estado da Saúde (SES), entre os anos de 2015 e 2017.
Além do uso de empresa de fachadas, segundo a força-tarefa, recursos enviados pelo governo federal ao Palácio dos Leões também foram desviados por meio de empregos fantasmas e salários extras pagos por fora. Até mesmo “namoradas, esposas e amantes” foram bancadas com o dinheiro da saúde.
Abaixo, leia a íntegra do artigo de Sarney:
Governo Sorvete
É uma glória para o nosso Estado a descoberta que acaba de ser feita no Maranhão — o penúltimo estado comunista no mundo depois que a Albânia acabou com esse sistema —, de que descobrimos aquilo que nunca tinha sido achado na mesa dos cientistas: o medicamento universal que liquida com qualquer doença.
A Sociedade Internacional de Medicina, com sede em Londres, acaba de tomar conhecimento de que aqui foi descoberto o remédio final para a saúde, que causa verdadeiro milagre: o Sorvete Milagroso!
A Operação Pegadores, deflagrada pela Polícia Federal, que há quinze meses acompanhava os trabalhos estatais, tornou transparente o programa governamental para salvar a Saúde Pública.
Mais de UM MILHÃO DE REAIS custou a empreitada do Governo do Maranhão.
Foi feito o cálculo de que é um remédio muito barato para os hospitais. O problema é saber se cada paciente precisa de casquinha de uma bola ou de duas bolas e também o sabor, se de coco ou de cocô, de chocolate, de baunilha ou de açaí. Tudo feito aqui.
Foi um número tão exagerado que levou a Polícia Federal a desconfiar. Só um hospital consumiu quinhentos mil casquinhas de sorvete de uma bola, ao custo unitário de dois reais por bola. Assim, em cada cama, quem chegava encontrava o paciente chupando uma casquinha de sorvete. Faltava remédio, algodão, seringa e roupa lavada, mas sorvete jamais. Quinhentos mil sorvetes sabor Dino. Não ficou muito claro se, burlando a pesquisa, a turma também chupava picolé.
Outra coisa fantástica é o fato de que toda essa produção brutal de sorvete (e picolé?) era produzida por uma firma fantasma, que não existia, mas produzia e consumia o dinheiro que, segundo o slogan do governo, deveria ser “de todos nós”. E os marqueteiros ficaram também ouriçados com a possibilidade de substituir o slogan do Governo por “Sorvetes de Todos Nós!” Seria mais atrativo e chamativo.
Mas a coisa não ficou só por aí: para essa comilança de sorvete tinha que ter pessoal e, portanto, houve a contratação de 424 funcionários fantasmas, para preparar e para saborear os sorvetes (e os picolés?).
A operação era tão secreta que de nada sabiam o Secretário de Saúde, Dr. Carlos, o Governador, Dr. Dino, o Secretário da Articulação Política, Dr. Jerry, o Dr. dos Direitos Humanos e Participação Popular — sim, pois tanto sorvete é caso de direitos humanos e dos direitos dos políticos que apoiavam todo o governo do sorvete.
O milagre é que toda a fórmula de feitura do sorvete da trapaça era explicada ao Secretário de Saúde, com folha suplementar mandada preparar por alguém (?) de cima, que também não sabia de nada — só de tudo.
Sendo assim, entre sorvetes, picolés e roubalheira fica o pobre Maranhão com 20 mortes por semana, estradas esburacadas, filas e filas nos hospitais e nas UPAs, sem remédios e algodão. Os doentes, à beira da morte, só podem balbuciar:
— Me dá um sorvete aí!
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