Que o secretário estadual de Segurança Pública, delegado Jefferson Portela, é midiático e por isso acaba tagarelando mais do que deve sobre operações da pasta, isso não é novidade para ninguém. Basta acompanhar as aparições dele em qualquer veículo de comunicação para constatar o fato.
Após mais de uma semana de prisões de supostos integrantes de uma organização criminosa de contrabandistas, exatamente por essa superexposição, lacunas foram surgindo sobre as investigações, todas provocadas por informações seletivas vazadas ou oficialmente divulgadas pela própria SSP. Afinal, seria apenas o uso político da pasta contra desafetos e estorvos ou de fato está sendo desarticulada a maior Orcrim dos últimos 20 anos? Separamos sete perguntas que precisam ser respondidas pelo próprio Portela para acabar com essa confusão.
1. O que aconteceu com o contrabando de armas, munições e drogas?
Em coletiva de imprensa sobre a suposta megaoperação de combate à corrupção e ao crime organizado — que nem nome teve, desmontando a versão de que havia uma investigação sobre o caso —, Jefferson Portela divulgou haver desarticulado uma poderosa quadrilha que contrabandeava armas, munições, drogas e itens como bebidas e cigarros no Maranhão.
De lá pra cá, apesar de haver sido deflagradas novas operações, a SSP deixou de divulgar sobre a apreensão de novas armas, munições e drogas. Apenas as bebidas e os cigarros, segundo as informações oficiais, continuaram sendo encontrados no novos galpões encontrados pela polícia. Não houve mais qualquer menção sobre os outros itens.
2. Como as mercadorias chegavam a São Luís?
Segundo as primeiras informações, as bebidas e cigarros supostamente contrabandeados pela quadrilha seriam oriundos da República do Suriname, país do norte da América do Sul.
Os primeiros itens apreendidos foram encontrados na localidade Arraial, no bairro Quebra Pote. Também já foram encontrados depósitos abarrotados de cigarros e bebida no bairro da Vila Esperança e na entrada do Rio Grande. Todos ficam na zona rural de São Luís.
Se as cargas realmente chegavam do Suriname ou não, o fato é que entraram na cidade, abrindo suspeitas sobre a fiscalização das entradas de São Luís.
3. Que versão Bardal deu a Portela?
Durante entrevista sobre as suspeitas de que o ex-titular da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), delegado Tiago Bardal, teria ligações com a quadrilha, Jefferson Portela declarou que Bardal havia dado uma versão diferente das apresentadas aos demais agentes da segurança pública.
Ainda na entrevista, Portela chegou a ameaçar Bardal, dizendo que essa versão está declinada no inquérito policial, e que, se o ex-titular da Seic quiser, ele pode torná-la pública. Que torne a declaração pública!
4. Quem são os comerciantes?
Salvo se os supostos integrantes da quadrilha fumavam e bebiam todos os produtos encontrados nos depósitos clandestino até caírem no chão, a mercadoria era contrabandeada para ser vendida para comerciantes locais.
O primeiro galpão estourado possuía, segundo Portela, cerca de R$ 2 milhões em mercadorias. O segundo mais do que o dobro e o mais recente tinha quase quatro vezes mais do que o primeiro depósito.
Já foram presos policiais, um advogado, um ex-vice-prefeito e até estivadores. Os compradores desse material, porém, ainda são desconhecidos da população e a SSP parece centrar as forças apenas na prisão de novos policiais.
Ou havia muita orgia com bebidas e cigarros apenas entre os membros da Orcrim ou grandes empresários de alto poder aquisitivo adquiriam esses produtos contrabandeados. Até o momento, não há qualquer apontamento, por parte de Portela, de que as investigações estão avançando e será pedida a prisão desses comerciantes.
5. De quem são os depósitos?
Apenas um, dos três depósitos estourados, teve seu dono conhecido, por estar no local no dia das primeiras prisões.
Os proprietários dos outros galpões, porém, permanecem desconhecidos, mesmo com a informação sendo facilmente obtida por meio das pastas comandas por Simplício Araújo, de Indústria e Comércio; e Sérgio Sombra, da Junta Comercial do Maranhão.
6. Quem são os deputados e o secretário?
Num áudio vazado pela própria SSP na semana passada, o ex-vice-prefeito de São Mateus, Rogério Sousa Garcia, já preso e apontado como um dos chefes do esquema criminoso, promete buscar a ajuda de um secretário e dois deputados para resolver problemas que a quadrilha vinha enfrentando.
Pela lógica, como os agentes públicos auxiliariam a organização criminosa por meio de articulação junto a segurança pública, o secretário é do próprio governo e os deputados fazem parte da base dinista na Assembleia Legislativa.
Esse poder, de mexer nas orientações da SSP, é garantido apenas ao próprio titular da pasta ou algum secretário que tem ingerência sobre Jefferson Portela e, provavelmente, sobre o próprio governador Flávio Dino (PCdoB).
Há rumores de que já há pedidos de prisão na mesa do presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão, José Joaquim Figueiredo, mas apenas contra os parlamentares.
7. Quem é o interlocutor do ex-vice-prefeito de São Mateus?
Uma outra questão ronda sobre essa gravação. Talvez até a mais intrigante.
Não se sabe ainda como o áudio de Rogério Garcia foi obtido, se por meio de interceptação telefônica ou se encaminhado pelo aplicativo WhatsApp.
O fato é que, seja por interceptação ou se encontrada no celular de Garcia, a gravação aponta para um diálogo do ex-vice-prefeito com alguém. Esse interlocutor, porém, permanece livre e desconhecido.
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