O promotor de Justiça Augusto Cutrim vai disputar o comando do Ministério Público do Maranhão pelo biênio 2022-2024 contra o atual procurador-geral de Justiça, Eduardo Nicolau.
Apenas os dois se candidataram para a formação da lista tríplice que será levada a Carlos Brandão (PSB), que já estará na condição de mandatário do Estado, com o resultado da eleição interna do órgão marcada para acontecer no dia 23 de maio.
Diferentemente do que acontece na PGR (Procuradoria-Geral da República), cujo chefe pode ser qualquer membro do Ministério Público Federal escolhido pelo presidente, a Constituição maranhense determina que o governador escolha entre os mais votados quem comandará a PGJ (Procuradoria-Geral de Justiça), órgão máximo do Ministério Público, pelos próximos dois anos. Contudo, não é obrigatório respeitar a ordem da votação e escolher o primeiro colocado.
Flávio Dino (PSB), mandatário do Maranhão até o próximo dia 2 de abril, por exemplo, optou pelo segundo mais votado duas vezes, quando escolheu para a PGJ o promotor Luiz Gonzaga, para o biênio 2016-2018 –reconduzido para mais dois anos, após concorrer como candidato único, apesar de enfrentar rejeição interna–, e o atual chefe do órgão, Eduardo Nicolau, em 2020.
O procurador-geral de Justiça é o membro do Ministério Público do Estado que representa a instituição nas instâncias judiciais e extrajudiciais. É atribuição do cargo investigar crimes atribuídos a deputados estaduais, juízes, promotores, prefeitos, secretários estaduais e vice-governador. Também é de responsabilidade do PGJ a proposição de ações civis públicas contra o governador.
Entre as investigações sensíveis em curso no gabinete da assessoria especial do atual procurador-geral está a apuração sobre suspeitas de irregularidades no processo de aquisição de revistas pelo governo durante a pandemia da Covid-19 por mais de meio milhão de reais, que pode atingir o secretário Felipe Camarão (Educação), que se filiou ao PT para disputar uma cadeira na Câmara Federal, mas está sendo empurrado por seu padrinho político para ocupar a vaga de vice na chapa que será encabeçada por Carlos Brandão.
Em publicação nas redes sociais Instagram e Facebook no início desta semana, Augusto Cutrim –que foi o mais votado na eleição em que Dino optou por escolher o segundo colocado Gonzaga– divulgou uma carta sobre o lançamento da candidatura à chefia da Procuradoria-Geral de Justiça. No documento, garante que, se chegar ao comando do órgão, continuará se empenhando e priorizando a luta pela defesa de um Ministério Público respeitado, independente, forte e com impacto efetivo na coletividade de suas ações.
“Combaterei, rigorosamente, ataques e qualquer atitude que procurem limitar a atuação do Ministério Público, cause constrangimento ou intimidação a seus membros. Nossa linha de atuação será norteada pelo pleno diálogo, respeito, independência e harmonia com os demais poderes”, escreveu.
Já Eduardo Nicolau, que tenta a recondução ao cargo, também usou uma rede social, o Instagram, na semana passada, mas para fazer uma publicação em que se coloca como próximo de Carlos Brandão, que é pré-candidato à reeleição ao governo do Maranhão e justamente o responsável pela escolha no PGJ pelos próximos dois anos.
“Eu e o meu amigo Dr. Brandão, nosso futuro Governador (sic!)”, publicou no Instagram com foto em que ambos aparecem dando as mãos em sinal de parceria.
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público veda aos promotores que exerçam “atividade político-partidária”.
Em 2016, o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) expediu recomendação de caráter geral que trata da relação entre liberdade de expressão e cumprimento dos deveres funcionais dos membros do MP, deixando expresso ser proibida “a participação de membro do Ministério Público em situações que possam ensejar claramente a demonstração de apoio público a candidato ou que deixe evidenciado, mesmo que de maneira informal, a vinculação a determinado partido político”.
A legislação, contudo, não deixa expressa sanções para a prática. A análise cabe à Corregedoria Nacional e às corregedorias das unidades do MP, que têm o poder de advertir, censurar, suspender, demitir e cassar a aposentadoria dos membros do Ministério Público “em caso de negligência no exercício das funções”.
Após insistência do ATUAL7 para que se posicionasse sobre a publicação na rede social, Eduardo Nicolau respondeu que não estava promovendo eleitoralmente Carlos Brandão, mas apenas ressaltando que o vice-governador vai assumir o cargo no próximo mês. A explicação do procurado-geral de Justiça, contudo, beirou cunho político.
“Quer vocês queiram ou não, ele será governador”, disse, irritado.
Questionado se tratou com Brandão sobre a recondução ao cargo de chefe do Ministério Público, Nicolau desconversou, e garantiu que o encontro “foi uma agenda institucional”.
Minutos depois, contudo, diante da insistência para que informasse qual assunto institucional foi conversado com Carlos Brandão, Eduardo Nicolau se desmentiu, e declinou que o encontro foi exatamente para tratar sobre a eleição para o comando da Procuradoria-Geral de Justiça.
“Não foi institucional. Foi pessoal. Eu tenho direito, como qualquer um, qualquer cidadão. Fui falar para ele que sou candidato novamente”, disse, se despedindo e desligando o telefone abruptamente quando ainda estava sendo indagado pelo ATUAL7.
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