O PCdoB do Maranhão realiza nesta sexta-feira (13), às 18h, um evento no Rio Poty Hotel, em São Luís, para celebrar os 10 anos da eleição que levou Flávio Dino ao Palácio dos Leões. Em 2014, Dino derrotou o empresário Edinho Lobão, filho do ex-senador Edson Lobão e candidato da então governadora Roseana Sarney (MDB), tornando-se o primeiro governador comunista eleito no Brasil. Ele permaneceu no partido até 2021, quando migrou para o PSB. Atualmente, por indicação do presidente Lula (PT), ocupa o cargo de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Segundo publicação nas redes sociais do presidente estadual do partido, deputado federal Márcio Jerry, a eleição “marcou a ruptura democrática com o sistema de poder familiar que hegemonizou a política maranhense por quase cinco décadas”.
Resgatada em 2018 na reeleição de Dino contra a própria Roseana Sarney, essa narrativa enfrenta contradições históricas.
Durante os dois primeiros mandatos da filha do ex-presidente José Sarney, o PCdoB integrou a base aliada da oligarquia que dominou o Maranhão por quase meio século. Três cargos do governo de Roseana pertenciam aos comunistas: o de gerente regional de Santa Inês, comandado por Marcos Kowarick – emplacado depois no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) por articulação de Sarney; o de presidente do Iterma (Instituto de Terras do Maranhão), entregue a Stefano Silva Nunes; e o de diretor fundiário da mesma autarquia, com Eurico Fernandes.
Foi somente depois da perda de espaços no governo, mostrou o Atual7, que o partido começou a mirar a família Sarney, o que coloca em xeque a coerência do discurso de ruptura promovido para o evento pró-Dino.
Além do histórico de aliança, o próprio Flávio Dino, após ser reeleito governador em 2018, estabeleceu diálogos e fez elogios públicos ao ex-presidente José Sarney, apontando-o como defensor da democracia e da Constituição — postura que não gerou qualquer desconforto entre apoiadores de Dino que, ao contrário, saíram em defesa do que definiam como maturidade política e novo momento para o Maranhão.
Mais recentemente, o próprio PCdoB passou a integrar uma federação partidária com o PT e o PV. No Maranhão, o PV é liderado por Adriano Sarney, neto de José Sarney, adicionando outra camada de complexidade à narrativa de ruptura política com o clã maranhense.
Outro ponto controverso envolve Sálvio Dino, pai do ministro do agora STF. Conforme revelou o Atual7, ele passou anos ocupando diversos cargos durante o governo Roseana.
Além disso, já fora do PCdoB e no final do mandato de governador, o próprio Flávio Dino buscou José Sarney e pediu o apoio do ex-presidente para conseguir sentar na cadeira de número 32 da AML (Academia Maranhense de Letras), na vaga que era ocupada pelo pai, Sálvio Dino, falecido em agosto de 2020, vítima da Covid.
Esses movimentos evidenciam que, apesar da narrativa de ruptura, as conexões políticas e pessoais entre o PCdoB, a oligarquia Sarney e o próprio Flávio Dino permaneceram ativas ao longo dos anos.
Procurado pelo Atual7 para comentar essas contradições históricas, o deputado federal Márcio Jerry, principal articulador do evento do partido, não se manifestou.
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