Voto nulo: Pureza política de setores míopes da esquerda fortalece bozo-sarneysmo de Braide
Artigo

Voto nulo: Pureza política de setores míopes da esquerda fortalece bozo-sarneysmo de Braide

Por Fernando Abreu*

Artigo, originalmente, publicado no blog do Garrone.

Na melhor das hipóteses, a falta de clareza em relação ao que está em jogo explica a opção pelo voto nulo nas eleições municipais de São Luís. Uma miopia que geralmente se apresenta, aos olhos do próprio míope, como heroísmo. O heroísmo de quem não abre mão de seus princípios haja o que houver. Já que nenhum dos dois lados se apresenta como o ideal diante de seus olhos, o míope se vê como alguém inflexível. Não consegue ver que ser flexível é condição do jogo democrático. Se consola no auto-engano de uma omissão que não existe. O míope dorme com o inimigo, de olhos semi-abertos.

Além de heroica, a pregação do voto nulo aparenta uma falsa sofisticação intelectual. O míope se sente acima do eleitor que está no mesmo campo dele, democrático e progressista, mas decidiu não se omitir. Com a visão turvada agora pelo orgulho, ele vê a si mesmo como o único que tem não apenas clareza mental, mas pureza para não se misturar com quem não está à altura de seu voto.

É a tal pureza de certos esquerdistas de que fala o filósofo basco Daniel Inennarity no livro “A política em tempos de Indignação” (Leya, 2017). Um dos grandes pensadores políticos do ocidente na atualidade, o catedrático em filosofia política e social aponta a exigência de que a política esteja sempre à altura de nossos mais puros ideais como um dos principais riscos para a democracia. A tese é ousada, mas simples de entender.

Poderia ser resumida grosseiramente da seguinte forma: ao rejeitar os arranjos e compromissos democráticos em determinada conjuntura por não estarem à altura de seus ideais e princípios mais “puros”, a esquerda termina por enfraquecer a democracia, abrindo espaço para o arrivismo fascista, sempre muito esperto em se aproveitar da frustração política inerente ao jogo democrático.

Só que para o filósofo, o campo progressista deveria abrir os olhos para o óbvio. Ou seja, para o fato de que a democracia está destinada a ser sempre uma experiência frustrante, porque é sempre algo em construção, feita por seres humanos imperfeitos ao sabor de conjunturas igualmente imperfeitas. Aceitar opções políticas imperfeitas, para ele, é essencial ao jogo democrático, no limite, para evitar um mal maior, a instalação do populismo de teor fascista.

Não é difícil imaginar o filósofo de cabeleira em pé diante da postura inflexível de parte do eleitorado progressista de São Luís nestas eleições, que prefere reforçar pela via da omissão o fascismo em nível nacional. Ou o que se poderia chamar de bozo-sarneysmo. porque, além do mais nefasto expoente do bolsonarismo no Maranhão, o senador Roberto Rocha, a candidatura de Eduardo Braide acolhe ainda os órfãos da oligarquia Sarney.

Mais construtivo em termos democráticos seria abraçar uma candidatura que pode até não se encaixar em um vago ideal de pureza política, mas da qual é possível concretamente obter, pelas lideranças que agrega neste segundo turno, compromissos sintonizados com as pautas do campo democrático.

*Fernando Abreu
Poeta e jornalista



Comentários 1

  1. CARLOS COSTA

    CARA FAZ UM TESTÃO DESSE DANDO UMA DE INTELECTUAL E TAL COISAS, PARA DIZER QUE VOTAR EM DUARTE JR. E ALINHAMENTO COM O DEMOCRATICO. POR DE BRINCADEIRA ISSO AI. IMAGINO O QUE ELE JULGA DEMOCRATICO. PQ QTE AONDE SAIBA O TAL BOZO FOI ELEITO PELO VOTO DIRETO. O POVO SO PASSOU A SER "BURRO PARA ESSES PSEUDO INTELECTUAL QUANDO ACABOU COM A FARRA DO PT. PSOL E OUTROS PARTIDOS. PELO AMOR DE DEUS.

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