Maranhão 2022: Dino se movimenta e incomoda muita gente
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Maranhão 2022: Dino se movimenta e incomoda muita gente

Por Abdon Marinho*

QUASE tão previsíveis e esperadas quanto a subida e a descida das marés na baía de São Marcos, o governador Flávio Dino anunciou sua saída do Partido Comunista do Brasil - PCdoB e, em seguida, anunciou que requerera filiação ao Partido Socialista Brasileiro - PSB.

Tais acontecimentos, previstos para acontecer há muito tempo – eu mesmo, já em 2013, dizia tratar-se de um equívoco a candidatura majoritária pelo partido comunista –, não mereceria um texto se não fosse o “estranhamento” que essa “mexida” parece ter causado nos adversários e, também, nos aliados do agora ex-comunista.

Sobre as reações, ressalvadas as raras opiniões isentas, o que vimos foi cada um analisando o fato a partir de sua conveniência e interesse próprio e/ou da facção política que está pagando.

Nas próximas linhas tentaremos descortinar o que se encontra por trás desta “mexida” política do governador.

Inicialmente cumpre esclarecer que o senhor Dino não teria nenhuma necessidade de sair do PCdoB se o seu interesse fosse apenas um mandato de senador da República.

Os maranhenses votaram nele inúmeras vezes sem ligar para esse falso viés ideológico, o que significa dizer que o seu projeto não corria risco.

Aliás, arrisco dizer que no Maranhão tem mais comunista rico do que em Pequim, China.

A mudança para o PSB ocorre porque sua excelência ainda acalenta o sonho de ser o candidato a vice-presidente na chapa do ex-presidente Lula, o que seria inviável caso permanecesse no PCdoB.

Muito embora o ex-presidente busque, na verdade, alguém “de direita” para compor a chapa, ter como companheiro de chapa alguém do PSB – que é um partido de centro-esquerda, e do nordeste, bom de mídia e que se vende a um preço bem superior ao que efetivamente vale –, não é descartado.

Essa, ao nosso sentir, a primeira motivação para a mudança partidária do governador.

Aqui abro um parêntese para dizer que o PCdoB – se é que não foi tudo combinado –, não tem motivos para se sentir “enganado” ou traído pelo ex-filiado.

Caso se tire a “prova dos noves”, é muito provável que a “relação” Dino/PCdoB tenha sido bem mais “lucrativa” ao segundo, que, exceto aos partidos que deram sustentação ao sarneísmo, é o partido com mais tempo de poder no Maranhão, se contarmos os anos que integrou o governo Roseana Sarney/José Reinaldo, Jackson Lago e, com Dino – chega ser quase uma oligarquia.

A segunda motivação do senhor Dino ao pedir guarida aos socialistas é empurrar a candidatura do senador Weverton Rocha (PDT) para a direita bolsonarista.

Não sei se por erro de estratégia ou mesmo incompetência política, os partidos do centrão que se lambuzam com polpudas verbas públicas para apoiar o governo do senhor Bolsonaro já declararam que estão “fechados” com o senador pedetista para o governo.

Logo, não é sem razão, até pelos outros motivos que já tratamos no texto sobre a República de Planaltina, que o candidato público ou oculto do senhor Bolsonaro no Maranhão será o senador do PDT.

Favorece ainda mais tal percepção o fato do PDT comungar com uma das pautas mais caras ao bolsonarismo no momento: a questão do voto impresso.

O senhor Dino sabe que o seu adversário na política local é o senador pedetista, ao fazer essas “mexidas” ele quer delimitar o seu campo de atuação. Ou seja, o terá como adversário, mas vinculando-o ao projeto político do atual presidente da República.

Não sem razão lá atrás já havia recomendado aos aliados mais próximos que deixassem os partidos vinculados ao presidente da República no estado.

Ao sentar praça no PSB o senhor Dino – que não foi para o partido sem garantias –, retirou do palanque pedetista um partido que já estava na conta dos “garantidos”.

Como disse em outro texto, o senhor Dino fugiu do “prato-feito” do senador pedetista, que queria ser “ungido” como uma espécie de candidato único em um leque de alianças englobando do PCdoB ao DEM.

Dino refugou, desmarcou diversas reuniões com os chamados partidos da chamada base e fez o seu próprio jogo.
Primeiro articulou junto com o vice-governador, Carlos Brandão, a retomada do PSDB.

Jogou muito bem, novamente, quando colocou um dos principais “golden boys” no Partido dos Trabalhadores - PT, no caso, o Camarão.

Diferente do que um ou outro petista pensou (ou pensa) o crustáceo, não representa qualquer ameaça a eleição de algum petista à Câmara dos Deputados, pelo contrário, ele pode ajudar a eleger mais de um deputado federal pela legenda.

Essa é uma das hipóteses, a outra é que o crustáceo tenha sido colocado no PT com o propósito de vir a compor com o PSDB para o governo estadual.

Noutras palavras, menos um partido no palanque pedetista.

No jogo político gestos contam mais do que muitas ações.

Se Dino articula uma aliança PSDB/PT, até pela simbologia que isso significa no cenário nacional, se credencia como “grande” articulador político a ponto de pleitear o Jaburu.

Até para diminuir a rejeição que tem, o PT vai querer essa fotografia.

Um palpite – repito, apenas um palpite –, é que o senhor Dino sonha com a seguinte chapa: Lula, do PT (presidente), ele, Dino do PSB (vice-presidente), Brandão, do PSDB (governador), Camarão, do PT (vice-governador) e para provar que é mesmo um articulador “porreta” chama Roseana, do MDB para ser a candidata ao Senado Federal, claro se contar com a simpatia e apoio do ex-presidente Sarney advogando seu pleito no MDB e junto ao ex-presidente Lula.

Não dando certo a articulação para o Jaburu, será candidato a senador, como já programado.

Claro que posso está completamente errado, mas é assim que, no momento, estou vendo o cenário estadual.

Dando certo o plano de Dino, ao senador Weverton restará articular-se, caso queira pleitear o governo estadual – e já ouvi de quase uma dúzia de pessoas que não será, muito embora ninguém decline os motivos –, com os partidos e os políticos vinculados ao presidente da República, se compondo, além dos partidos que já lhe declararam apoio, com políticos como o senador Roberto Rocha, que precisa de um palanque forte para disputar a reeleição para o Senado Federal contra Dino ou Roseana (no caso das articulações do ex-comunista darem certo).

Caso seja mais que um boato a não candidatura do senador pedetista, não o vejo se recompondo com o governador Flávio Dino, sendo mais provável que apoie outra força política, sendo prematuro especular sobre quem seria.

Como disse em textos anteriores, o quadro político no Maranhão ainda se encontra bastante embaralhado e só agora começa a desanuviar com essas movimentações do governador Dino, que até então jogava parado.

Com as últimas articulações do governador, nem mesmo o fato de, supostamente, o PDT haver colocado a candidatura de Ciro Gomes na mesa de negociações com o PT, o fará retroceder no projeto de conduzir a sua sucessão.

Foi esse, digamos, “ativismo” que incomodou bastante a classe política local.

Uns diretamente, outros através de assessores de imprensa, vestidos de jornalistas, já não pedem licença para enxergar os defeitos do governador que antes fingiam não existir.

Sobre as outras candidaturas que se dizem postas ainda é precipitado falar.

Esta semana, tomei conhecimento que o secretário de Indústria e Comércio, Simplício Araújo, do Solidariedade, se coloca como candidato ao governo – mas fechado com Dino para o Senado.

Mas vai se compor e articular com quem?

Ainda para um partido estruturado em todo o estado é complicado sair sozinho.

Pior é a situação de outros possíveis postulantes.

O senador Roberto Rocha, por exemplo, é um exímio articulador político, entretanto, faltando pouco mais de um ano para as eleições, não sabemos, sequer, se tem partido.

O prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim, que se apresenta como bolsonarista raiz e percorre o estado, será que ao menos terá legenda para disputar?

O deputado federal Josimar de Maranhãozinho, do PL, tem legenda e até sustentação política – conta com o apoio de um grande grupo de prefeitos –, possuirá condições objetivas para enfrentar uma eleição majoritária de governador?

Todas essas situações nos impedem de analisar com mais profundidade a sucessão do ano que vem.

Apesar disso, continuaremos no nosso observatório político, de olho nos lances e capítulos dessa novela.

Abdon Marinho é advogado.



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