Os números mais recentes de infectados e mortos pela Covid-19 trazem algum alento. Mesmo com os indicadores de novos casos e de óbitos, ainda elevados, a tendência é de queda nas últimas semanas – ainda bem. Com mais de 589 mil vidas perdidas para a pandemia, fica claro que a “velha e boa” vacinação, que alcança, com a primeira dose, 65% da população brasileira, começa a dar resultados satisfatórios. Contudo, em alguns campos da economia, que até algumas semanas atrás ainda traziam alguma expectativa de melhora, têm se revelado pouco promissores e indicam dificuldades para a recuperação econômica, que resvalam para a área política – notadamente em relação aos governistas.
No início de setembro, a divulgação pelo IBGE do Produto Interno Bruto (PIB), – que mede o desempenho econômico – relativo ao segundo trimestre deste ano foi uma dessas más notícias. A economia regrediu 0,1% no segundo trimestre, em relação ao primeiro. Quando se olha para os setores, o declínio de 2,8% na agropecuária, que vinha ajudando a segurar a economia nos últimos anos, é preocupante. A indústria também andou para trás 0,2%. Esses dois segmentos foram influenciados, negativamente, pela falta de insumos e por infortúnios climáticos. A questão é que os efeitos da queda no PIB do segundo trimestre, se prolongam para todo 2021, que tem previsão média de crescimento de 5%, ante a catástrofe de -4,1% de 2020. Mesmo para 2022, as projeções de expansão são declinantes, e variam entre 0,5% (Itaú) e 1,3% (XP Investimentos).
A escalada inflacionária é outro vetor de adversidades. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE – a inflação oficial do país – foi de 0,87% em agosto, a maior variação para esse mês desde 2000. O relatório de mercado Focus (Banco Central/BC), de segunda-feira, 13, traz os prognósticos de mais de 100 instituições financeiras e indica alta da inflação pela 23ª semana seguida, sugerindo, agora, que ela vai ficar em 8% neste ano, e em 4,03% em 2021. Como a meta inflacionária é de 3,75% neste ano, e a subida dos preços chega a 5,67%, só nos oito primeiros meses de 2021, fatalmente essa conjuntura obrigará o BC, responsável pelo cumprimento da meta, a aumentar a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 5,25%.
O desemprego é mais uma fonte de preocupação. Apesar de ele ter recuado para 14,1%, no 2º trimestre, em relação ao primeiro, quando era de 14,7%, a falta de trabalho ainda atinge mais de 14,4 milhões de brasileiros, fora os 7,5 milhões que trabalham menos horas do que gostariam e dos 5,6 milhões que desistiram de procurar emprego. Há também problemas fiscais e orçamentários. Ações de forte apelo social sofrem imbróglios. O Auxílio Emergencial, cujas parcelas deste ano foram em valores menores que as de 2020, acaba em outubro. Até o momento, o governo não sabe como obter recursos para turbinar o Auxílio Brasil, que irá substituir em novembro, o Bolsa Família. Para 2022, o Projeto de Lei Orçamentária prevê o mesmo montante de recursos destinado em 2021 ao programa criado pelo PT – R$ 35 bilhões. Mesmo o controverso aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciado dia 16, só é suficiente para bancar o Auxílio Brasil até dezembro. Os precatórios (dívidas da União com pessoas físicas, jurídicas, estados e municípios, oriundas de decisões judiciais) devem crescer de R$ 50 bilhões neste ano para R$ 90 bilhões no ano que vem, e não se sabe de onde virão os valores para cobrir essa diferença. Diante desses impasses, ideias fiscais mirabolantes têm surgido, como flexibilização do teto de gasto e do resultado primário, que lançam mais incertezas sobre a solvência do país.
Outros transtornos não podem ser esquecidos. A crise hídrica, decorrente da estiagem, fez reservatórios de usinas hidrelétricas secarem, a conta de energia subir 10,61% somente este ano, e com acionamento recorde das usinas termoelétricas, que têm maiores custos, a tendência é de mais inflação – além do risco de racionamento e de apagões não estarem afastados. Para barrar o descontrole inflacionário, Roberto Campos Neto, presidente do BC, afirmou, semana passada, que vai levar os juros para “aonde precisar”. É sinal de que vêm mais aumentos da Selic, provavelmente nesta semana, quando o Conselho de Política Monetária (Copom) se reunirá novamente. A elevação, se por um lado ajuda a conter a inflação, deprime o consumo e o crescimento, via encarecimento dos empréstimos e financiamentos.
As constantes turbulências políticas e interinstitucionais, alimentadas por Bolsonaro – que até arrefeceram depois da “Declaração à Nação” divulgada na sequência das manifestações de sete de setembro, que trouxeram demandas autoritárias – fazem a bolsa cair e o dólar disparar, retroalimentando a inflação e as instabilidades. Portanto, em vista dos fatores negativos trazidos, a perspectiva econômica está em franca deterioração. Deixar de poder contar com a economia como propulsor de uma candidatura não é nada auspicioso para quem está no comando da Presidência da República e planeja tentar a reeleição em 2022.
★
*Doutorando em Administração, Mestre em Economia e Economista ([email protected]).