Páscoa
Um Domingo de Páscoa atípico nos lares ludovicenses
Cotidiano

Celebrações religiosas devem ocorrer seguindo as orientações e protocolos de segurança para conter a disseminação do Coronavírus

O tradicional ‘Domingo de Páscoa’ na capital maranhense é marcado, pelo segundo ano consecutivo, por fortes mudanças em função da pandemia da Covid-19, especialmente nas relações sociais e econômicas. As celebrações religiosas, algumas já agendadas via redes sociais – como Youtube e Instagram – devem ocorrer seguindo as orientações e protocolos de segurança para conter a disseminação do Coronavírus; bem como a ‘Ceia de Páscoa’ em família, para os que guardam a tradição, deve reunir um grupo menor de pessoas para celebrar a ressurreição de Jesus Cristo.

A administradora Maria das Dores da Silva, residente no bairro Araçagy, em São Luís, mantém viva a tradição das celebrações religiosas da Semana Santa. Ela e seu esposo frequentam a comunidade Nossa Senhora da Imaculada Conceição, no bairro Fialho, e participam todos os anos das missas e demais celebrações que fazem referência à morte e ressurreição de Jesus. Segundo ela, por conta das restrições e demais normas de distanciamento social, algumas missas – como a do ‘Lava-pés’, realizada sempre na quinta-feira santa – não estão ocorrendo nos seus moldes tradicionais.

Maria das Dores explica que as comunidades católicas e todas as paróquias seguem as recomendações da Arquidiocese de São Luís; e a determinação é para que as missas sejam realizadas com apenas 30% da capacidade do templo. Motivo pelo qual algumas igrejas de São Luís, com mais membros e melhor estrutura, estão transmitindo as missas via internet, para que os fiéis (assim chamados aqueles que congregam em um templo católico) possam também acompanhar as celebrações.

Além de ser fiel assídua da Igreja Católica, a administradora Maria das Dores também mantém o hábito de fazer jejum em alguns períodos específicos do ano, como na Semana Santa. “Estou jejuando a semana toda, tanto de carne quanto de bebida alcoólica. Comecei no domingo (que chamamos de ‘Ramos’) e vou até este sábado (‘Santo’), dia 3 de abril. No domingo, eu e meu esposo vamos à missa logo cedo, às 8h, e depois faremos um almoço especial só para nós dois”, conta Maria das Dores.

Torta de bacalhau com palmito

A educadora física Gisela Silva Ruy mantém tradições que herdou dos pais e avós. Capixaba de nascença, ela trouxe para o Maranhão – e para dentro do lar que formou com Cristiano, esposo, com quem tem dois filhos; Luma, de 12 anos, e Theo, de 8 – o costume de fazer torta de Palmito com Bacalhau. “Eu e outras duas irmãs moramos, hoje, no Maranhão, mas não deixamos de fazer nossa torta especial de Bacalhau para o almoço do sábado. É assim todos os anos”, comenta.

Gisela Ruy diz que não come carne e também evita tomar bebida alcoólica nos três dias anteriores ao Domingo de Páscoa – a Quinta-feira Santa, a Sexta-feira da Paixão, e o chamado por alguns de Sábado de Aleluia. E, no dia em que se comemora a ressurreição de Jesus, o Domingo de Páscoa, ela diz que boa parte da família se reúne para um grande churrasco: “irmãos e irmãs, com suas esposas e esposos, filhos e netos. É uma grande festa, com pelo menos 25 pessoas”. Mas, esclarece que nestes dois últimos anos tudo tem sido diferente. “O churrasco de Páscoa, agora, é só eu, meu esposo e meus filhos. E não pode faltar também no domingo os ovos de Páscoa, que comprei desde o início da semana”, afirma a educadora física.

Entrega à domicílio

Serviços de Delivery também estão entre as mudanças ocorridas desde o início da pandemia. As medidas restritivas impostas por estados e municípios, que limitam a circulação de pessoas e o funcionamento de estabelecimentos, impulsionaram o aumento desses serviços em todo o Brasil. Lanchonetes, restaurantes e até supermercados precisaram se adaptar aos ‘tempos de pandemia’, oferecendo, com o pagamento de uma pequena taxa, ou até gratuitamente, serviços de entrega. Alguns aplicativos que já existiam, para a entrega de comida, viram a demanda crescer abruptamente no ano de 2020.

Um dado nacional divulgado no último mês de janeiro pela Mobills (startup de gestão de finanças pessoais), que analisou as despesas dos usuários com os três principais aplicativos de entregas – Ifood, Rappi e Uber Eats – identificou um crescimento de 149% nos gastos com delivery no ano de 2020. E estes são dados oficiais, que não levam em conta a abertura de novos empreendimentos informais, de venda de lanches e comidas caseiras, que oferecem também serviços de entrega, como o de Janaína Alves. Depois de ser obrigada, em função da pandemia, a largar o ramo de viagens e excursões, Janaína iniciou, há três meses, com o apoio da mãe e do filho mais velho, a venda de massas – pizzas e macarronadas (D’GUST Massas). Ela mora no Cohatrac, e cobra uma taxa simbólica para as entregas, que varia de acordo com a distância do bairro.

Com a aproximação da Semana Santa, a microempreendedora viu outra possibilidade de aumentar sua renda, oferecendo pratos típicos relacionados a este feriado tradicional, como peixadas, camaroadas e tortas (de caranguejo, sururu e camarão). “Tive a ideia uns 20 dias antes da Semana Santa. Então, passei a oferecer delivery também de almoço especial aos finais de semana. E o resultado foi excelente, com muitos pedidos”, conta Janaína Alves, afirmando que, agora, em função da demanda, e da boa receptividade, está planejando incluir novos pratos no cardápio. “Comecei este negócio como meio de sobrevivência, para fugir da crise, e graças a Deus está dando certo. Cada dia consigo novos clientes”, fala entusiasmada.

Delivery no Mercado do Peixe

Também não dispondo de um aplicativo oficial para entregas, parte dos 23 feirantes que vendem pescados e outros mariscos no Mercado do Peixe, no Aterro do Bacanga em São Luís, já fazem delivery desde março do ano passado, quando teve início a pandemia. A informação é de Joel Nogueira Barros, administrador do Mercado do Peixe e proprietário do Box nº 22. Ele conta que muitos clientes antigos, que não queriam sair de casa, passaram a ligar para fazer seus pedidos. “E, na maioria das vezes, eu nem cobro taxa de entrega, e eles também confiam em mim para a escolha do produto”, assegura o feirante.

Joel Barros diz que no ano passado a venda de pescados foi muito boa na Semana Santa, chegando até a faltar o produto em alguns boxes na sexta e no sábado. “Esperava vender pelo menos igual ao ano passado, mas o movimento caiu bastante”, informa o feirante, que atribui a baixa nas vendas à concorrência com os supermercados. “As vendas diminuíram muito nos últimos anos. Mas, graças a Deus, temos os nossos clientes fiéis, que não abrem mão de um peixe fresco e de qualidade”, assinala Joel Barros, que vende diariamente entre 30 e 40 quilos de pescados e, aos finais de semana, entre 50 e 60 quilos. O fluxo dá uma guinada na Semana Santa, quando cada feirante chega a vender, diariamente, cerca de 150 quilos.

Os números são confirmados pelo feirante Wellington Nunes Costa, do Box nº 18 no Mercado do Peixe. Ele conta que vendeu na quinta-feira, dia 1º de abril, 150 quilos de Pescada e 80 quilos de Camarão, além de outros mariscos. Na sexta-feira, dia 2, vendeu praticamente todo o restante do estoque que reservou para os três últimos dias da Semana Santa. “E só não vendi mais, por conta da maré, que não estava boa, e não tivemos entrega de pescado na sexta, dia 2”, admite o feirante, que trabalha no Mercado do Peixe há 12 anos. “Apesar da pequena queda nas vendas nos últimos anos, creio que teremos mais estabilidade daqui pra frente, pois os que vêm toda semana ao Mercado do Peixe não abrem mão da qualidade”, finaliza.