Em meio ao vai e vem de pessoas no Terminal Rodoviário de São Luís, Maria José, 45 anos, acompanha sua mãe, Teresa, de 71 anos, vinda de Bequimão, cidade da baixada maranhense que fica a uma distância aproximada de 76 km da capital. “Minha mãe sempre precisa vir à capital para cuidar da saúde”, relata ela, explicando que, mesmo com exames marcados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a longa espera e o alto custo de transporte as levam a procurar a Carreta.
Iniciativa da Secretaria de Estado da Mulher (SEMU) em parceria com a Secretaria de de Estado da Saúde (SES), a Carreta da Mulher Maranhense é uma serviço que realiza o atendimento de mulheres a partir da oferta de serviços básicos de saúde que incluem exames preventivos de Câncer de Colo de Útero, exames de diagnóstico de Câncer de Mama, testes de glicemia, aferição de pressão arterial e palestras educativas.
Sem a necessidade de agendamentos e por atender com base em demanda espontânea, a Carreta tem aliviado as filas de espera do SUS no Maranhão. O ATUAL7 conversou com mulheres que utilizam o serviço e constatou que a ação facilita o acesso a exames preventivos para o Câncer de Mama e Câncer de Colo de Útero.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), no estado, os dois cânceres mencionados são os que mais matam mulheres, os exames de Papanicolau e Mamografia realizados na Carreta são fundamentais para o diagnóstico precoce dessas duas doenças.
“Como a gente viu que a Carreta estaria aqui hoje, aí eu vim e até conversei com a menina [profissional da Carreta] que a minha mãe já está com a Mamografia marcada pelo SUS, mas que ela quer agilizar pra voltar para Bequimão.”, explica Maria José.
De acordo com a SEMU, em 2024, a Carreta já realizou 2.493 Mamografias e 1.610 exames de Papanicolau, ao todo, levando em consideração todos os serviços oferecidos pela ação, já foram realizados, no ano vigente, 19.805 atendimentos.
Pela idade, Teresa nem precisaria fazer a Mamografia, já que a faixa etária estipulada para realização do exame, segundo o Ministério da Saúde é de 50 a 69 anos, porém, ela relata que ultimamente tem sentido dores na mama esquerda e que foi orientada pelo ginecologista para realizar o exame.
Aqui é importante ressaltar que a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomenda a Mamografia anual para as mulheres a partir dos 40 anos de idade, a medida difere das recomendações atuais do Ministério da Saúde, que preconiza o rastreamento bianual, a partir dos 50 anos. A Carreta da Mulher Maranhense segue a recomendação da SBM.
A filha da Dona Teresa, que mora em São Luís, conta que as dificuldades para conseguir atendimento de saúde para sua mãe são diversas, como o transporte caro, que é agravado pela necessidade de cuidar do pai que também tem problemas de saúde e precisa rotineiramente deixar Bequimão e vir para a capital.
Outro ponto levantado é a demora nos atendimentos pelo SUS. Maria José, por exemplo, menciona que os exames laboratoriais da mãe estão agendados apenas para 25 de novembro e por isso, provavelmente, ela vai precisar voltar para sua cidade natal e retornar em novembro.
Teresa até tentou fazer os exames laboratoriais pela rede privada, mas se deparou com um valor elevado. “Pra fazer particular tá dando R$500,00, assim é complicado, entende?”, pontua a filha.
Maria Angélica, de 45 anos e moradora do Jardim Conceição, também ficou sabendo da ação e vai fazer a Mamografia pela primeira vez, ela explica que procurou a Carreta por não conseguir marcar o exame pelo Hospital da Mulher, onde já faz tratamento. “Eu faço tratamento com ginecologista e também com cardiologista, mas a Mamografia não consegui por lá ainda”, afirma.
Moradora do bairro Cutim Anil, Domingas Tavares, de 64 anos, realiza a Mamografia regularmente, seja pelo agendamento tradicional do SUS ou pelas ações da Carreta. Ela conta que sempre opta pelo atendimento na Carreta quando tem oportunidade, pois, ao tentar marcar o exame nas unidades de saúde, enfrenta longas filas de espera e o processo é mais demorado.
Durante o autoexame das mamas, Neriene Moreira, 41 anos, moradora do João de Deus, percebeu um pequeno caroço em um dos seios, desde a descoberta já se passou 1 ano, ela confessa que pela rotina agitada nunca buscou fazer o agendamento da Mamografia, já que o processo é mais burocrático.
“Eu até pensei, mas com a correria do dia a dia a gente sempre deixa, principalmente a mulher, a saúde para segundo plano, aí vem filho, trabalho, casa e tudo isso vai deixando…”, comenta, Neriene.
Herica Correa, de 42 anos, fez a Mamografia pela primeira vez, através do agendamento pelas unidades de saúde, mas dessa vez decidiu procurar a Carreta. Ela é natural de Axixá, município compreendido pela Região Metropolitana de São Luís a 96 km da capital, e enfrentou algumas dificuldades para realizar o exame.
“Falei primeiro com o clínico geral em Axixá, ele me encaminhou para o ginecologista e ele me deu o encaminhamento para a Mamografia, mas como lá não faz, foi marcado em Rosário”, conta.
Herica precisou se deslocar 27,8 km, de Axixá para Rosário. Ela explica que mesmo fazendo esse trajeto não há garantia em fazer o exame, já que é por ordem de chegada, mesmo que exista um agendamento prévio.
“Se tivesse lá seria mais fácil porque eu não precisaria gastar dinheiro com transporte. Às vezes, a gente passa o dia todinho porque têm outras pessoas na frente aí já perde o dia de serviço”, ressalta.
Hoje, Herica mora em São Luís, no bairro Vila Lobão, que fica próximo ao Terminal Rodoviário
Procurada pela reportagem, a SEMU afirmou que o serviço da carreta da mulher ajuda a reduzir as filas porque leva o atendimento até as pessoas.
“Nós divulgamos bastante nas nossas redes sociais para que elas tivessem em um dos locais estratégicos. É por ordem de chegada, nós oferecemos 50 Mamografias no dia, mas pode se estender até 60. O preventivo Papanicolau é por livre demanda, quantas aparecerem nós vamos coletar.”, informa Fabiana Martins, enfermeira responsável por coordenar a ação no Terminal Rodoviário de São Luís.
A Carreta
A SEMU explicou como funcionam as ações da Carreta da Mulher Maranhense, segundo a pasta, durante todo ano a carreta atende a Região Metropolitana de São Luís, composta por 13 cidades: Alcântara, Axixá, Bacabeira, Cachoeira Grande, Icatu, Morros, Paço do Lumiar, Presidente Juscelino, Raposa, Rosário, Santa Rita, São José de Ribamar, e São Luís.
Além disso, a Carreta percorre os outros municípios do estado, priorizando cidades com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e aquelas mais distantes dos grandes centros de saúde.
O IDH é um indicador criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) que mede o nível de desenvolvimento de uma região ou país, ele varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior o nível de desenvolvimento humano de um lugar.
Os atendimentos da Carreta da Mulher Maranhense são feitos seguindo um procedimento de solicitação por meio de ofício, ou seja, as cidades interessadas devem entrar em contato com a secretaria para utilizarem o serviço.
A enfermeira Fabiana Martins explicou que durante o Outubro Rosa a secretaria se dedica em atender São Luís.
“O objetivo é levar para aqueles municípios que têm mais difícil acesso aos grandes centros, mas no outubro rosa a gente intensifica aqui, priorizando locais estratégicos, por exemplo, o Terminal Rodoviário de São Luís que a gente alcança muitas mulheres que estão saindo ou esperando o ônibus”, reforça.
A secretaria informou que nos últimos 12 meses, foram registrados 219 preventivos positivos e 23 Mamografias com alteração. A pasta afirmou que possui uma equipe responsável por direcionar as mulheres que têm resultados positivos.
Importância do diagnóstico
No mês de outubro, todos os anos, existe a campanha do Outubro Rosa, responsável por conscientizar e intensificar ações de combate e prevenção ao Câncer de Mama. Segundo a SEMU, a Carreta da Mulher Maranhense não tem um programa específico de conscientização, porém, afirma que a própria equipe de saúde da Carreta é responsável por dar as orientações necessárias a todas as pacientes.
Jéssica Mendes, médica mastologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia no Maranhão (SBM-MA), conversou com o ATUAL7 para explicar a importância do diagnóstico precoce a partir da Mamografia.
“Esse diagnóstico é fundamental em relação ao prognóstico da paciente com Câncer de Mama, ou seja, em relação às suas chances de cura. O tumor, antes de ser palpável, tem uma chance de 95% de cura”, esclarece a médica.
A Mamografia
Jéssica segue a recomendação da SBM, ela orienta que a Mamografia seja realizada de forma anual, a partir dos 40 anos de idade, mas que em alguns casos o exame pode ser antecipado, devido ao histórico familiar da paciente. Ela pontua que o procedimento é seguro e eficaz em capturar alterações nas mamas.
“A Mamografia, basicamente, é um tipo de Raio-X dos seios. De modo geral, ela é feita utilizando dois posicionamentos da mamas, o aparelho detecta esse dois posicionamentos e a combinação dessas imagens nos mostra possíveis alterações e localizações dessas alterações”, descreve.
A médica, conta que a Mamografia é realizada através do Mamógrafo e que esse equipamento precisa fazer uma compressão nos seios, ou seja, existe a necessidade de apertar as mamas para o resultado do exame seja satisfatório, porém, ela explica que o exame é rápido e que quando bem realizado existe menos desconforto para a paciente.
A técnica em radiologia da Carreta da Mulher Maranhense, Núbia Mascarenhas, relata que o serviço de Mamografia já salvou muitas mulheres.
“Como a gente faz as ações nos municípios do Maranhão, então é uma população bem carente. Às vezes, quase não tem o serviço nas cidades, então a Carreta é primordial”, frisa a técnica em radiologia.
Núbia aponta que muitas mulheres têm receio de realizar o exame por causa de relatos de mulheres que sentiram desconforto no procedimento. Ela comenta que pacientes mais velhas e que nem são público-alvo do exame são as mais receptivas.
Apesar do receio de algumas mulheres, a Carreta da Mulher Maranhense oferece um serviço essencial, que ajuda a salvar vidas com diagnósticos precoces. A ampliação desse acesso à saúde preventiva é um passo importante para melhorar a qualidade de vida das mulheres no estado.
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