‘Murais da Memória’ fará homenagem a poetas, amos e cantadores de bumba meu boi em seis cidades do Maranhão

As obras são assinadas pelo artista Gil Leros

A manifestação cultural do Bumba meu Boi do Maranhão terá ainda mais representatividade a partir do mês de março. O tradicional Boi da Floresta, de Apolônio Melônio, produzirá, com o apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), ‘Murais da Memória’ em seis cidades do Estado, para homenagear cantadores, amos e poetas maranhenses, que detêm o saber sobre a festa, ilustrando os seus rostos em lugares públicos.

O projeto “Amo, Poeta e Cantador: Murais da Memória pelo Maranhão” realizou, entre os meses de outubro e dezembro do ano passado, uma campanha no modelo Machfunding para angariar recursos para a realização do projeto. Nele, as doações feitas pelos apoiadores foram triplicadas numa parceria entre a Benfeitoria, o BNDES, e o SITAWI Finanças do Bem, havendo a adesão de dezenas de pessoas físicas e jurídicas em todo o Brasil. Pessoas que agora fazem parte desse sonho.

‘Murais da Memória’ já tem o seu curso definido, com parada obrigatória nas cidades de Axixá, Cururupu, Barreirinhas, Guimarães, Viana, São José de Ribamar e São Luís. A confecção dos murais, com a produção também de um documentário sobre o projeto, está prevista para acontecer entre os meses de abril a agosto de 2021. Serão 10 murais, sendo quatro deles na capital maranhense. Entre as personalidades que serão homenageadas pelo projeto, estão Nadir Apolônio, do Boi da Floresta; Francisco Naiva, do Boi de Axixá; Calça Curta, do Boi da Maioba; Marcelino, do Boi de Guimarães, e Leonardo, do Boi da Liberdade.

A obra é assinada pelo artista Gil Leros, que conta com uma equipe de produção dedicada, que trabalha incansavelmente para a concretização desse sonho. “O contato com uma obra fotográfica em 2015, fez nascer em mim o desejo de construir murais da memória pelo Maranhão. Na realidade, o sonho é bem maior, e espero um dia concretizar; que é confeccionar murais em cada estado brasileiro”, declara o artista.

Gil Leros diz que o seu maior anseio, e de toda equipe organizadora do projeto “Amo, Poeta e Cantador”, é promover o reconhecimento às personalidades que fazem do Bumba meu Boi uma das maiores expressões culturais do Estado, atraindo turistas de todo o Brasil e de outras nacionalidades. “Acreditamos, ainda, que o uso da arte urbana do graffiti possa atrair o olhar da juventude maranhense, que, em sua grande maioria, não mantém muito contato com essa manifestação cultural, que é nossa, e precisa ser preservada”, completa.

História documentada

Os grupos de Bumba Bois são divididos em sotaques, que fazem referência aos estilos, formas e expressões diferenciadas. Entre os sotaques, estão: Matraca (ou Ilha), Zabumba (ou Guimarães), Orquestra, Costa-de-Mão (ou Cururupu), e sotaque da Baixada (ou Pindaré). Cada sotaque tem características próprias, que se manifestam nas roupas, na escolha dos instrumentos, no tipo de cadência da música, e nas coreografias.

“Amo, Poeta e Cantador” é um projeto que pretende, além de homenagear, documentar a história de poetas, amos e cantadores de Bumba Meu Boi do Maranhão. As figuras dos amos, poetas e cantadores têm como função liderar e embalar a brincadeira com suas toadas, sendo pessoas simples, que dedicam suas vidas à cultura popular do Maranhão; e por isso merecem atenção e reconhecimento pelos seus feitos em vida.

A realização do projeto permitirá o contato constante da população com a obra artística a céu aberto que, por meio do graffiti, fará memória ao Bumba meu Boi para além do ciclo junino, bem como democratizará o acesso ao processo da obra e às histórias dos personagens que compõem o patrimônio, a partir do registro de todo esse processo em um documentário, que será disponibilizado nas plataformas digitais de audiovisual.

Bumba Boi da Floresta

Como patrimônio cultural, a manifestação do Bumba meu Boi do Maranhão insere-se na realidade do Estado de maneira a constituir fortemente a identidade coletiva da população, sendo constante sua presença nas festas juninas. Assim, no intuito de promover ainda mais sua importância, o projeto “Amo, Poeta e Cantador” vai homenagear alguns dos seus principais representantes em cidades maranhenses.

O Boi da Floresta, além de proponente, é um dos homenageados do projeto. Fundado em 12 de março de 1972, o Boi da Floresta nasceu por ideia de Apolônio Melônio, um dos brincantes do Maranhão mais antigos e respeitados pela sua experiência e vivência na fundação de vários grupos de boi, desde quando começou, ainda moço, em 1926.
Este boi representa o ritmo dos bois da região da Baixada Maranhense, chamado sotaque de Pindaré ou da Baixada – região onde o seu fundador nasceu, mais precisamente na cidade de São João Batista. Traz como estilo e vestimenta, os chapéus bordados, enfeitados de pena de ema, o personagem do cazumba, e um ritmo mais cadenciado e lento.
O grupo tem 150 componentes – mulheres, homens, crianças, jovens e adolescentes – divididos em atores, dançarinos e cantadores. O Bumba meu Boi da Floresta tem ainda um trabalho de formação com crianças e adolescentes, desenvolvendo atividades de bordado, confecção de careta cazumba, chapéus e instrumentos de percussão.

O artista Gil Leros

Gilmartim Meneses da Silva, mais conhecido no meio artístico como Gil Leros, nasceu em Tucuruí (1985), no Pará, e mudou-se para São Luís aos 13 anos. No fim dos anos 90, teve contato com a cultura Hip Hop local, passando à prática do graffiti nos muros da cidade, dando início ao aprimoramento das suas técnicas de pintura e comunicação visual, por meio de atividades voltadas à arte de rua.

Na juventude, estudou Arquitetura e Urbanismo, o que agregou uma nova visão de urbanismo, e enveredou seus trabalhos também para as intervenções urbanas e o uso da arte na valorização dos volumes arquitetônicos e na requalificação urbana. Ao longo do tempo, estendeu suas habilidades artísticas a outras áreas, sempre envolvendo sua identidade plástica a vertentes como arquitetura, música, fotografia e movimentos culturais da cidade.

O artista possui projetos em andamento, como o “Mural Natural”, “Amo, Poeta e Cantador”, e “Mete o amor, forte!”, com técnica e produção artística singulares, o que o leva a ser um singular personagem no que diz respeito à estética e à representação de sua cidade. Carrega consigo uma identidade urbana inconfundível e repleta de possibilidades, unindo a trajetória pessoal, o saber fazer do graffiti e as manifestações culturais do Maranhão.


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