Apresenta-se a economia brasileira em 2019 a partir de três perspectivas, a saber: a do governo, a da produção e a do mercado financeiro. Pelo lado do governo, é inegável a agenda reformista ultraliberal da nova equipe econômica, ancorada em forte ajuste fiscal, privatizações e enxugamento da estrutura do Estado. A despeito da queda da inflação e dos juros, que já vinham em descenso desde o governo anterior, essa agenda gera mais dúvidas do que certezas.
As evidências estão: a) no desinteresse do capital externo em aportar recursos no país (leilão dos blocos de petróleo e fuga de capitais), que, verdade seja dita, temor provocado, principalmente, pela guerra comercial EUA x China; b) na própria agenda externa do governo, a qual, em vez de fortalecer a inserção brasileira no comércio mundial, acaba por isolar o país e rebaixá-lo a capacho dos Estados Unidos; c) na política ambiental que prejudica imensamente o Benchmarking do agronegócio exportador; e, d) no próprio projeto de privatizações, cujo objetivo é o Banco do Brasil, a Caixa e a Petrobrás (ou o que sobrou, de fato), mas sabe-se que isso será difícil de acontecer num horizonte significativo de tempo ou não vai acontecer nesta vida. Isso pois, são empresas de significativa importância para acumulação de capital e indutoras do desenvolvimento econômico nacional, apesar das denúncias de corrupção e má gestão dos governos anteriores.
Pode-se afirmar, que o setor de infraestrutura até o momento é o que vem apresentando bons resultados, com impactos positivos no crescimento e no emprego para os próximos anos. Contudo, a agenda do governo esbarra no que se convencionou chamar de “banda” ideológica: um conjunto de pessoas não muito preparadas que mais prejudicam do que ajudam a economia.
Pelo lado real, tem-se a seguinte situação: a) PIB crescendo, mas ainda de forma tímida, podendo fechar em 1 % no ano. Com efeito, um crescimento com pouco impacto no emprego; b) a taxa de desocupação ainda muito alta, mostra uma estagnação no mercado de trabalho. Isto é, tomando como base os terceiros trimestres de 2018 e 2019, a desocupação foi de 11,9% e 11,8% respectivamente; c) o nível de atividade industrial apresentou de janeiro até outubro crescimento acumulado de 0,6%. Mas o grau de confiança do setor, medido pela FGV, em outubro, é de recuo em relação a setembro. Isso significa que o empresariado se move com cautela em relação ao futuro; d) o saldo comercial apresentado de janeiro até novembro acumulou superávit de US$ 41,079 bilhões. Contudo, é o menor superávit para o período desde 2015.
Em resumo, há uma relação de causalidade entre o setor produtivo e o governo, em que o primeiro exigiu reformas liberalizantes, menos burocracia etc. O governo atendeu ao chamado, manteve uma política econômica sob o regime de metas de inflação, ancorada num patamar rígido e com objetivo explícito de fazer cair ainda mais a taxa de inflação, num ajuste fiscal severo e permanente, e câmbio flutuante. O que fez com que Donald Trump acusasse o Brasil de manipulação cambial, mas na verdade, é a fuga de capitais promovida pela guerra comercial que ele próprio iniciou, o verdadeiro motivo da desvalorização cambial. O Planalto ainda promoveu a polêmica Reforma da Previdência, negocia com Congresso a mudança tributária e provoca, a todo custo, uma reformulação radical no setor público.
Mas, e daí, cadê os resultados? Quem está ganhando com isso? Sim, o mercado financeiro. A bolsa de valores superou os 100 mil pontos e alcançou 112 mil no início de dezembro. Os bancos apresentam lucros cada vez mais expressivos. As grandes empresas estão focadas em valorizar seu capital apenas no mundo das finanças, agora turbinadas com criptomoedas.
O que se pode resumir da economia brasileira em 2019, é que ela está sofrendo da armadilha da liquidez. Ou seja, o país vive com uma inflação muito baixa, para os padrões históricos, e, principalmente, sua taxa de juros nominal básica encontra-se em nível baixíssimo, também levando em consideração a série histórica. Contudo, a queda dos juros não estimulou a economia, notadamente, o investimento. Pelo contrário, verificou-se, até o momento, o protagonismo do setor especulativo. Para a queda de aproximadamente 31% na taxa Selic em 2019, o Ibovespa – principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) – cresceu aproximadamente 24%. E como vimos, o grau de confiança da indústria se mantém baixo, recuando, e com elevada capacidade ociosa.
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*Doutor em Economia – Professor Adjunto do Departamento de Economia e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioeconômico da UFMA ([email protected])
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