A nova jaboticaba brasileira: o partido da melancia
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A nova jaboticaba brasileira: o partido da melancia

Por Abdon Marinho*

COMEÇO por repetir uma história já contada há algum tempo neste site. Como sabem, milito na área jurídica há muito tempo, mais de duas décadas e, na área política desde a infância. Também por conta disso o nosso escritório sempre trabalhou com muita ênfase nos ramos do direito eleitoral, administrativo e municipal.

Além de trabalho, estes anos todos nos possibilitou fazer inúmeras amizades e a conhecer a realidade e a conjuntura política, as vezes, melhor que os habitantes de algumas localidades.

Aí, vem a historinha. Certa vez ao visitar um dos municípios, logo no início do ano posterior as eleições, pus-me a conversar com um velho amigo sobre o pleito, indagando sobre a correlação de forças e sobre o posicionamento de diversas pessoas. Lá pelas “tantas” perguntei ao amigo com quem conversava: — e fulano de tal – um amigo comum, muito ativo na política local –, com quem ficou nas eleições?

O meu amigo então respondeu: — ah, doutor, fulano de tal ficou do outro lado. Descobrimos que ele era melancia.

—Melancia?!? Como assim, meu amigo velho? Indaguei.

— Ah, doutor, ele era verde por fora e vermelho por dentro.

Estas eram as cores dos dois grupos políticos daquele município. Ri muito da história do “amigo melancia” e a mantenho viva até hoje.

Pois bem, recordo a história acima a propósito do que tenho lido e ouvido sobre estar um curso uma espécie de “transmutação” do Partido Comunista do Brasil - PCdoB. Pelo que li, doravante, já para as próximas eleições, o partido continuaria “comunista”, mas não daria ênfase a isso e, sim, a um tal “movimento 65” ou “movimento dos comuns”; o encarnado da bandeira do partido daria lugar ao verde/amarelo do pavilhão nacional.

Como se trata apenas de uma nova “roupagem”, vez que o partido não mudará de nome, mas apenas adotará um “nome de fantasia”, e o manifesto e programa continuarão a defender a mudança do capitalismo para o socialismo, a expropriação dos meios de produção e o fim da propriedade privada, temos que PCdoB “inaugura” uma nova era na organização partidária nacional: o “partido melancia”, como bem disse meu amigo: verde por fora e vermelho por dentro.

Apesar de tal pauta não parecer importante, ela tem sua relevância. Pelo que tomei conhecimento, o PCdoB já é o maior partido do estado, embora saibamos que, miseravelmente, pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) não saibam o que isso significa o comunismo e, os 5% (cinco por cento) que, supostamente, sabem, passem longe de querer colocá-lo em prática na vida real.

É de se anotar que não tomamos conhecimento de nenhum deles abrindo mão de seu patrimônio ou cedendo-o ao Estado para viver conforme suas necessidades. Muito pelo contrário, o que sabe é que apreciam, como poucos, os confortos e excessos que o “vil metal” pode proporcionar: os bons apartamentos ou mansões; os bons carros; os melhores recursos tecnológicos, iPhones, iPads, iMac; as melhores viagens, de preferência para os maiores centros capitalistas do mundo, nos Estados Unidos da América ou para melhores capitais europeias – de Caracas, Havana ou Pyongyang, querem distância; os melhores vinhos, etcetera.

Mas se dizem comunistas. Comunismo para os outros. Aliás, a notícia que se tem é que os “nossos” comunistas gostam tanto do “vil metal” que certa vez a revista Época lançou uma edição com a capa chamando o partido de “PCdoBolso”.

Outro aspecto que torna a discussão relevante é que o partido “insinua-se” como postulante ao lançamento de uma candidatura própria à presidência da República, no caso, a do senhor Flávio Dino que dorme e acorda pensando nisso, já tendo “se lançado”, praticamente, no mesmo dia que assumiu o segundo mandato de governador do estado – relegado sua gestão frente ao governo para um segundo plano.

Assim, essa “transmutação” partidária não visaria, apenas, “engabelar” os incautos na eleição municipal deste ano, mas, sobretudo, focaliza as eleições gerais (presidenciais) de 2022.

Trata-se de uma estratégia política de ocupação de espaços fazendo parecer aquilo que não é para conquistar o poder. Uma espécie de estelionato eleitoral de grande magnitude.

O comunismo é uma doutrina econômica, politica e social baseada no sistema de propriedade coletiva e na distribuição de renda conforme as necessidades individuais. Essa é uma definição dicionarizada. Não é dizer que vem de comum; que vem de coletivo. Isso é engodo.

Respeito o direito de cada um defender aquilo que acredita. O que não é admissível é ignorar mais de duzentos anos de história para tentar enganar o povo.

Outro dia não contive o espanto ao saber que o PCdoB, estava constituindo “núcleos evangélicos”.

Ora, um dos pilares do comunismo é o materialismo dialético inspirado na doutrina de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), também por isso, mas não apenas – há de se considerar toda a história do comunismo ao redor do mundo –, o comunismo é uma doutrina incompatível com o cristianismo.

São frases de Marx e Lenin: “O primeiro requisito da felicidade dos povos é a abolição da religião”, “ A religião é o ópio do povo”, Marx; “O comunismo se estabelece onde começa o ateísmo”, “Todo culto a uma divindade é uma necrofilia”, Lenin.

Quando ouvirem essas bobagens de que o comunismo é Cristão e que Jesus era comunista, estejam certos que estão querendo lhes enganar. Existe Encíclica (acredito que mais de uma) desmistificando tal argumentação.

Não é sem razão que todas as nações que adotaram o comunismo lançaram medidas para impedir a população de professar sua fé. Essa decisão tem como razão de ser os dogmas do ideário comunista.

Uma das primeiras medidas de Stálin, ao assumir o poder na União Soviética, foi demolir o símbolo máximo do cristianismo naquele país, a Igreja do Cristo Salvador, uma joia da arquitetura, para, no seu lugar, erguer um símbolo do comunismo com uma estátua de Lenin no topo. Ao invés de Cristo seria aquele líder a ser adorado pelo povo.

Quem se opôs à barbárie, foi exilado ou morto.

A catedral mais preciosa do povo russo só foi reconstruída após a queda do regime comunista, no início dos anos noventa.

Quando vi a história de núcleos evangélicos dentro de um partido comunista formei aquela conclusão: “das duas, duas”. Ou estes evangélicos não são cristãos ou estes comunistas não são evangélicos ou ambos não são nenhuma coisa nem outra.

Aqui não faço qualquer juízo de valor, tampouco sou eu que quero assim. É a história que já provou, mais de uma vez, que assim é.

Existem documentos oficiais do PCdoB apoiando as ditaduras sanguinárias de Cuba, Camboja, Vietnã, Coreia do Norte. Neste último, a simples posse de uma Bíblia pode levar o cidadão a prisão por anos. No passado, não muito distante, o partido apoiou o stalinismo, na antiga União Soviética – e seus satélites –, o maoísmo, na China, o castrismo, em Cuba, o “hoxhoísmo”, na Albânia, e por aí vai. Todos regimes totalitários e de repressão às liberdades, sobretudo, à liberdade religiosa e de expressão. Todos estes regimes com milhões de mortos nos prontuários.

Até hoje o PCdoB nunca fez uma autocrítica, nunca mudou um milímetro seu modo de pensar e continua a apoiar as ditaduras mais asquerosas ainda existentes. E, pior, defendendo, programaticamente, os mesmos ideários.

Dizer que o comunismo é compatível com a fé cristã e que é absolutamente natural a existência de núcleos evangélicos dentro do partido ou núcleos do partido comunista dentro das igrejas é um despautério ímpar.

Não é que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Não! Estamos falando de coisas antagônicas, que não admitem qualquer relativismo, nem mesmo os morais.

Aliás, se puxarmos pela memória, iremos verificar que quando o senhor Dino ensaiou sua candidatura ao governo, em 2014, alertei para as dificuldades por conta da escolha partidária. Um partido com histórico (e presente) de apoio às ditaduras; com incompatibilidades insolúveis com o ideário e a fé da maioria dos maranhenses; sem contar o excesso de pragmatismo, vez que apoiou o grupo Sarney por cerca de uma década.

O senhor Dino deu sorte e venceu aquelas eleições porque o adversário era excessivamente fraco e sem credibilidade, a ponto de ostentar um numeral depois do prenome. Por isso que ganhou e pode levar a cabo um projeto hegemônico para a política estadual e se reelegeu, também, pela falta de opção política.

Mas, como a história já ensinou – que o diga a ex-governadora Roseana Sarney, que ensaiou uma candidatura presidencial em 2002, abatida logo que alçou voo –, o Brasil é não é o Maranhão. Não dar para fingir-se de esperto e “ganhar” no grito.

O ex-presidente Lula, uma espécie de “padrasto” das esquerdas brasileira – que de besta não tem nada, tanto que apesar de condenado duas vezes em segunda instância e responder a quase uma dezenas de outros procedimentos criminais, principalmente por corrupção, ainda arrebanha milhões de seguidores –, percebendo a estratégia dos “camaradas” comunistas já tratou de desencorajar o projeto alegando justamente partes do que pontuei há mais de seis anos.

O ex-presidente Lula não quer ninguém fazendo sombra ao seu projeto de retornar ao poder, se não diretamente – por conta dos impedimentos legais –, por intermédio de algum “poste” a ser escolhido dentro do seu partido, o Partido dos Trabalhadores - PT, na undécima hora a preceder o prazo final para os registros de candidaturas. Para ele, o PCdoB, quando muito, daria um coadjuvante, numa eleição para perder.

Como podemos perceber, ao PCdoB será necessário muito mais que a adoção de um “nome de fantasia” ou a utilização da bandeira nacional ou invés do estandarte vermelho, será necessário vencer resistências, primeiro, dos parceiros internos e, depois, da própria sociedade, que rejeita os ideários totalitários que apoia e defende.

*Abdon Marinho é advogado.

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