Homem mostra o braço que teria sido quebrado durante tortura

Homens da Rotam no MA são investigados por suposta tortura em trabalhador

Vítima diz que foi confundido com assassino de policial em São Luís. Polícia confirma denúncia e disse que afastou os oito PMs envolvidos

Oito homens da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) da Polícia Militar (PM) do Maranhão estão sendo investigados pelo Comando Geral da PM-MA por suspeita de terem torturado e atirado em um homem, na última quinta-feira (12), em São Luís. O caso veio a tona após a vítima procurar o 2º Distrito Policial, no bairro João Paulo, para registrar o suposto crime, que teria ocorrido em um matagal no bairro do Calhau, próximo ao quartel do Comando Geral da PM-MA. A informação é do G1 MA.

De acordo com a vítima, que preferiu não se identificar, o fato aconteceu por volta das 17h, durante uma abordagem no bairro Areinha, quando voltava para casa depois de um dia normal de trabalho. Após os policiais o revistarem e nada de ilegal encontrar, um dos PMs o teria confundido com um dos responsáveis pelos assassinatos de vários policiais.

– Eu estava indo para casa de bicicleta depois de terminar de entregar as quentinhas para minha irmã, pois trabalho com ela. Quando estava passando pela ponte da Areinha, a Rotam me parou e um dos policiais dentro da viatura disse assim: ‘não é esse loirinho que gosta de matar polícia?’. Eu tinha apenas dez reais no bolso e mais nada, mesmo assim eles jogaram spray de pimenta nos meus olhos e me arrastaram para dentro da viatura dizendo que era meu dia – relata a vítima.

O homem então teria sido levado para o matagal, onde havia outra viatura com mais quatro policiais. Lá, ele diz que sofreu diversos tipos de abusos físicos de oito PMs. Entre as agressões, ele relata chicotadas, cortes de faca, tiros, e muitos socos e pontapés na cabeça e na barriga.

– Eu desci meio desorientado por causa do spray e já levei uma coronhada na cabeça. Eu estava algemado com as mãos nas costas quando eles começaram a me bater. Ficavam usando canivete para me furar e quando cansaram de usar as mãos e os pés, cortaram um galho e me chicotearam. Até um pedaço de pau tentaram usar para me violentar. Pensei que iria morrer – relembrou.

Segundo ele, depois do espancamento, que teria durado uma hora e quebrou o seu braço direito, um dos policiais teria atirado em sua mão direita – que acabou atingindo ainda uma de suas pernas – e ordenado que ele corresse, ameaçando matá-lo. Na fuga, ele teria esbarrado em um homem que passava pelo calçadão e, na sequência, acabou socorrido por outra viatura da PM que passava pelo local. O entregador foi levado para o Hospital Djalma Marques, o Socorrão I, no Centro, e depois encaminhado para o Clementino Moura, o Socorrão II, na Cidade Operária, por um policial identificado apenas como Thiago. Ele diz que preferiu fugir sem levar alta com medo de morrer.

Proteção à testemunha

O irmão da vítima conta que já acionou a Defensoria Pública do Maranhão, a Secretaria de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Supervisão de Investigações de Crimes Funcionais (Sicrf) e espera um posicionamento da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA), a respeito da inclusão do rapaz no programa de proteção a testemunhas.

Ele disse ainda que o irmão não dorme direito com medo de ser encontrado pelos torturadores.

– Fizemos a denúncia e o comando da PM está nos dando todo o suporte, mas ainda temos medo. Disseram que vão colocar ele no proteção a testemunha, mas só depois do carnaval – contou.

Por telefone, o comandante da Rotam, Major Sodré, confirmou a denúncia ao G1 e destacou que os policiais envolvidos no caso foram identificados e afastados do serviço de rua até o fim das investigações.

– Estamos cientes do acontecimento e adotamos todas as medidas administrativas cabíveis. Os policiais foram afastados de suas funções. É lamentável e inadmissível um episódio como esse – afirmou.

Em nota encaminhada ao G1, a Secretaria de Segurança Pública informou que as armas dos policiais envolvidos na abordagem na Areinha tiveram as armas recolhidas e estão afastados dos serviços de rua da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) até que seja concluída a apuração total do caso.

Leia a nota na íntegra:

NOTA

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) informa que foi aberto inquérito pelo Comando Geral da Polícia Militar para investigação do caso. Os quatro policiais já foram identificados e ouvidos. Todos os policiais tiveram as armas recolhidas para perícia e estão afastados dos serviços de Rua da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) até que seja concluída a apuração total do caso.


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