Documentos apreendidos e depoimentos colhidos em duas fases recentes da Operação Lava Jato, a 23ª (Acarajé) e a 26ª (Xepa), mostram que nem mesmo políticos conhecidos pelo discurso da suprema moral, como o ex-presidente estadual do PSOL, Haroldo Saboia, e o ex-deputado estadual Aderson Lago (SD) – pai do secretário de Transparência e Controle do Maranhão, Rodrigo Lago –, ficaram de fora dos repasses da Odebrecht.
O farto material, com páginas datilografadas e outras escritas à mão, estava sob responsabilidade de uma funcionária da empreiteira. Como no esquema divulgado pelo Atual7 quarta-feira 23, onde aparecem como beneficiários o ex-senador José Sarney (PMDB) e a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), também eram utilizados codinomes para os receptores dos pagamentos, que só foram decifrados por meio de outra relação encontrada junto à documentação, chamada de ‘Livro de Códigos’, e continha uma lista com o nome ‘Relação de Parceiros’.
Boneca e Cisne
Saboia aparece na lista relacionado a outro nome, o do ex-prefeito de Barreirinhas, Albérico Filho (PMDB). Ambos estão como recebedores da DGU, que é a diretoria geral da Odebrecht, e são identificados com o nome de guerra ‘Bonecas’.
Também estão como beneficiários da DGU da Odebrecht o senador Edison Lobão (PMDB-MA), chamado de ‘Sonlo’; o ex-senador Epitácio Cafeteira, que teve apenas o epíteto ‘Epi’ colocado como forma de identificação; o ex-deputado Neiva Moreira (morto em 2012), apelidado de ‘Noivo’; o ex-deputado federal Jaime Santana, chamado ‘Jason’; e, novamente, a ex-governadora Roseana Sarney, que aparece na lista com o nome de casada Roseana Murad, e com o nome de guerra ‘Princesa’.
Outros dois membros da família Sarney estão na DGU: o deputado federal Sarney Filho, apelidado de ‘Filhote’, e o empresário Fernando Sarney, apelidado como ‘Filhão’.
Já Aderson Lago, por sua vez, aparece na relação ‘Saneamento Imperatriz’, identificado como ‘Cisne’. Além de ex-deputado estadual, quando pulou para a oposição ao grupo Sarney, o pai do secretário de Transparência e Controle foi chefe da Casa Civil no governo Jackson Lago e curiosamente, presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão, a Caema, durante o governo Cafeteira, quando ainda era aliado do ex-senador José Sarney.
Recentemente, por participação em outro esquema, ele foi citado pela Polícia Federal no inquérito da Operação Sermão aos Peixes, e nomeado como funcionário fantasma da Assembleia Legislativa do Maranhão.
Versão suspeita
Nos documentos encontrados na Java Jato, contudo, não há nenhum indicativo de que os pagamentos sejam propinas ou fruto de caixa 2 e tampouco a PF teve tempo para analisar a vasta documentação. O fato de haver empresários que não se candidataram em registros eleitorais, como o dono do Sistema Mirante de Comunicação, Fernando Sarney, entretanto, levanta suspeitas sobre a versão de que os repasses possam ser apenas doações regulares de campanha.
À exceção de Roseana Sarney, Edison Lobão e Sarney Filho, que emitiram nota à imprensa negando qualquer envolvimento em esquema de propinas da Odebrecht, nenhum dos outros políticos foram localizados pela reportagem para comentar sobre o assunto.
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