Entidades de imprensa criticam denúncia do MPF contra jornalista Glenn Greenwald
Política

Entidades de imprensa criticam denúncia do MPF contra jornalista Glenn Greenwald

Organizações falaram em ataque à liberdade de imprensa e tentativa grotesca de manipulação para tentar condenar o jornalista

Entidades de imprensa criticaram a denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald, feita nesta terça-feira 21, pelo Ministério Público Federal em Brasília, no âmbito da Operação Spoofing.

Manifestaram-se a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Apenas a ANJ (Associação Nacional de Jornais) afirmou que não iria se pronunciar a respeito do assunto, segundo a Folha de S.Paulo.

Na denúncia, o MPF acusa o co-fundador do site The Intercept, responsável pela Vaza Jato —série de reportagens com base em diálogos da Lava Jato obtidos por meio de fonte—, além de outras seis pessoas, de envolvimento no hackeamento de mensagens de autoridades como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba.

Glenn não foi investigado nem indiciado pela Polícia Federal, mas o procurador Wellington Oliveira, autor da denúncia, entendeu, por áudio encontrado em um computador apreendido, que o jornalista orientou o grupo de hackers a apagar mensagens.

Segundo a Abraji, os diálogos apresentados como provas não confirmam as acusações do procurador.

“A denúncia contra Glenn Greenwald é baseada em uma interpretação distorcida das conversas do jornalista com sua então fonte. Tem como único propósito constranger o profissional, como o texto da denúncia deixa ver: por duas vezes, o procurador refere-se a Greenwald com o termo jornalista entre aspas, como se ele não se qualificasse como tal —e como se coubesse a um membro do MPF definir quem é ou não jornalista”, afirma a nota.

Para a associação, o Ministério Público abusa de suas funções para perseguir um jornalista e viola o direito dos brasileiros de viver em um país com imprensa livre.

A Fenaj, em críticas semelhantes, afirma que o MP “ignora a Constituição Brasileira” ao denunciar o jornalista.

“Ao jornalista não cabe o papel de recusar ou não divulgar informações de interesse público, porque obtidas de fontes anônimas e/ou sigilosas. Igualmente, não é dever do jornalista atestar a legalidade da obtenção das informações e, sim, verificar a veracidade das informações, antes de divulgá-las à sociedade”, afirma a federação, em nota.

No seu pronunciamento, a ABI pediu à Justiça Federal que rejeite a medida e lembrou que o procurador responsável pela denúncia, Wellington Oliveira, foi o mesmo que denunciou Felipe Santa Cruz, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), sob acusação de calúnia a Moro.



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