Júnior Vieira
Promotoria investiga Júnior Vieira por movimentações financeiras suspeitas
Política

Procedimento criminal contra ex-titular da Semsa é desdobramento de apuração do Gaeco. Caso tramita sob sigilo

O Ministério Público do Maranhão abriu procedimento investigatório criminal para apurar movimentações financeiras suspeitas de Valdecy Vieira Júnior, ex-secretário de Segurança Alimentar de São Luís na gestão Eduardo Braide.

A apuração foi instaurada no mês passado, desdobramento de investigação do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado do MP-MA, o Gaeco, e se concentra também em possível prática de crime praticado por funcionário público.

Por determinação o promotor João Leonardo Sousa Pires Leal, da 30ª PJE (Promotoria de Justiça Especializada) na Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa, o caso tramita sob sigilo.

Júnior Vieira, como é conhecido o ex-titular da Semsa, é candidato a deputado estadual nas eleições de 2022 pelo PSC. Antes de ser alçado ao cargo, era assessor de gabinete do vereador da capital Gutemberg Araújo (PSC), candidato a vice-governador na chapa de Lahésio Bonfim (PSC) ao Palácio dos Leões.

O ATUAL7 enviou e-mail na segunda-feira (22) para um endereço eletrônico registrado como pertencente a Júnior Vieira –único contato encontrado pela reportagem– em uma ata de registro de preços da empresa Alcance Consultoria Serviços Comércio, que já teve o ex-secretário municipal de Braide como proprietário, mas não houve retorno. A prefeitura de São Luís também não se manifestou a respeito do assunto.

O ex-titular da Semsa também é alvo de procedimento no TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Maranhão após a 5ª colocada de uma licitação do programa Peixe na Mesa, aberto no valor de R$ 2,3 milhões, vencer o certame com preço superior quase 100%.

Secretário de Braide é alvo de investigação após 5ª colocada vencer licitação com preço superior quase 100%
Política

Ministério Público de Contas e área técnica do TCE do Maranhão querem a anulação de contrato direto fechado após cautelar suspender certame suspeito

O ex-empresário bem sucedido Valdecy Vieira Júnior, secretário de Segurança Alimentar da gestão Eduardo Braide (Podemos) em São Luís, é alvo de investigação no âmbito do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Maranhão após uma série de atos suspeitos em um pregão eletrônico para contratação de empresa especializada no fornecimento de peixe, tipo branquinha e/ou similar, para atender as necessidades do programa Peixe na Mesa, para ser distribuído na Semana Santa às famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social e alimentar.

O procedimento licitatório, aberto no valor de R$ 2,3 milhões, teve como classificada e consagrada vencedora a 5ª colocada no certame, a Atlantis Comércio de Pescados Ltda.

Segundo denúncia apresentada à corte pela 1ª colocada na licitação, a IC Fesh do Maranhão Eireli, reforçada no bojo da representação do Ministério Público de Contas e em relatório de instrução elaborado pela área técnica do TCE maranhense, “sem nada que justificasse”, a Atlantis foi declarada vitoriosa mesmo com preço superior quase 100% em relação à 1ª colocada.

Para o procurador de contas Paulo Henrique Araújo dos Reis, “tal fato traz possibilidade concreta de dano ao erário”.

“Assim, ao frustrar-se a licitude de processo licitatório, viola-se o escopo maior da licitação pública, que é garantir o princípio da isonomia e conferir à Administração Pública a proposta mais vantajosa. Descumprido estes comandos, referendado pela Constituição Federal e pelas normas infraconstitucionais, devem os agentes púbicos ser condenados a ressarcir o erário, com o respectivo reconhecimento de nulidade do certame ou contrato administrativo decorrente, já que, em absoluta liberdade de vontade, praticaram o fato antecedente e pressuposto da lesão presumida – a fraude de licitação”, assevera.

Segundo os fatos sob investigação, para a 5ª colocada vencer o pregão eletrônico, supostas irregularidades em série foram deflagradas, desclassificando as primeiras colocadas mesmo após o encaminhamento de toda documentação solicitada pela pasta.

Em um dos atos suspeitos, aponta a representação, a 4ª colocada foi desclassificada após o pregoeiro Carlos Matheus Teixeira Oliveira, responsável pela condução do certame de registro de preços, encerrar o prazo para apresentação da documentação quase 24 horas antes do limite final para fechamento da licitação.

Ainda de acordo com a representação, na mesma data dessa movimentação, ele convocou e recebeu a documentação apresentada pela Atlantis, apenas três minutos após solicitada.

“Além da falta de critério de julgamento de exequibilidade acima narrado, em relação à empresa quarta colocada, COSTA GONÇALVEZ & VIEIRA LTDA, verificamos, como descrito na Representação, que o Pregoeiro encerrou o prazo para apresentação da documentação solicitada às 16:22 do dia 18/03/2021, apesar de ter estabelecido que o prazo final encerrar-se-ia tão somente às 14 horas do dia 19/03/2021”, diz trecho do relatório assinado pela auditora de controle externo Anna Karlla Pitombeira Nunes e Silva, e subscrito pelas gestores da Unidade Técnica Mônica Valéria de Faria e Flaviana Pinheiro Silva, do Núcleo de Fiscalização 2.

Carlos Matheus Oliveira, pregoeiro da pasta comandada por Júnior Vieira, também é alvo da representação.

Ambos foram procurados pelo ATUAL7 por email para que comentassem o assunto, desde o último dia 14, mas nenhum enviou resposta. Ao Tribunal de Contas do Estado, porém, ambos já se manifestaram, e negaram as irregularidades apontadas.

Antes de virar titular da SEMSA, Júnior Vieira era sócio-proprietário da empresa Alcance Consultoria Serviços Comércio Eireli, espécie de mix que atende vários seguimentos, atuando inclusive, coincidentemente, como peixaria. Atualmente, após diversos contratos com o poder público estadual e municipal, até com a Prefeitura de São Luís, o quadro societário é ocupado apenas por Monize Fernandes Vieira Costa, sua ex-sócia.

Ex-assessor de gabinete do vereador Gutemberg Araújo (PSC), ele ascendeu ao comando da pasta por indicação do deputado federal Aluísio Mendes (PSC), dono da vaga após loteamento da gestão municipal por Eduardo Braide em retribuição aos apoios que garantiram sua vitória nas urnas nas eleições de 2020. Apesar de padrinhos de Júnior Vieira, eles não aparecem na investigação.

Além de apurar o fato da 5ª colocada haver vencido a licitação do peixe mesmo com preço superior quase 100% em relação à 1ª colocada, o TCE também investiga a contratação direta, por meio de dispensa de licitação, da JDM Gelos e Pescados, por R$ 1,9 milhão, para a execução do mesmo objeto abarcado pelo pregão eletrônico suspeito, que em decisão cautelar havia sido suspenso por determinação da corte de Contas.

“O que se verifica, in casu, é que a Municipalidade de São Luís tenta, a todo custo, efetuar contratação de fornecedores específicos e em valor muito superior aos valores disponíveis no mercado para o fornecimento do mesmo objeto, seja por meio da desclassificação em massa de licitantes com preço inferior, ou, após a suspensão do certame, pela contratação INDEVIDA por meio de DISPENSA”, aponta o procurador de contas Paulo Henrique Araújo dos Reis, em pedido de extensão dos efeitos da decisão cautelar.

Procurado por e-mail ainda no dia 14 para se posicionar a respeito das suspeitas contra o secretário de Segurança Alimentar de sua gestão, o prefeito Eduardo Braide não retornou a tentativa de contato.