A Polícia Federal apura, no bojo da Sermão aos Peixes, quem é o identificado na obra do Padre Antônio Vieira como o “Polvo”. Na alegoria, o líder religioso toma vários peixes, em metáfora aos homens, como símbolos dos vícios e corrupção da sociedade.
Desde o início das operações, a força-tarefa — formada pela própria PF e a Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), Ministério Público Federal (MPF), Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) e Receita Federal do Brasil — tem utilizado os diversos peixes identificados no sermão do padre para denominar as fases de cada uma das operações que desbaratou a organização criminosa que tomou de assalto os recursos públicos federais do Fundo Nacional de Saúde, destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado do Maranhão.
Apenas a segunda operação, denominada Abscondido, que significa “escondido”, em alusão à ocultação e destruição de provas, não segue a linha de Antônio Vieira. Todas as outras operações: Voadores, Rêmora e Pegadores, são nomes de peixes no sermão do padre.
Em relação à Operação Voadores, que a Polícia Federal denominou para se referir à técnica empregada de desviar recursos públicos por meio de cheques, no sermão, tem o significado de presunção, capricho, vaidade e ambição, já que os investigados pagaram até vinho e restaurante de luxo com os recursos desviados da saúde.
Já sobre a Rêmora, pelo sermão do Padre Antônio Vieira, simboliza um peixe pequeno, mas que tem muita força. A alusão é perfeita em relação aos poucos, mas multimilionários contratos firmados entre o Idac (Instituto de Desenvolvimento e Apoio à Cidadania) e a Secretaria de Estado da Saúde, já no governo Flávio Dino (PCdoB), por fora da seleção de concursos para a contratação das terceirizadas. Embora tenha, segundo o texto do padre, virtudes, o peixe Rêmora jamais conseguirá se converter.
A operação mais recente, denominada Pegadores, apesar da força-tarefa haver descoberto que o dinheiro público serviu para sustentar “namoradas, esposas e amantes” de agentes públicos, o que levou muita gente a tratar o caso até como piada, tem no Sermão do Padre Antônio Vieira o significado de parasitas e oportunismo, em alusão aos peixes que vivem na dependência dos grandes, isto é, que fazem tudo sob o comando de alguém maior e mais forte.
Segundo fontes do ATUAL7, os investigadores buscam apenas confirmar se o chefão da organização criminosa se trata apenas de uma pessoa ou de duas: se é um super secretário; se é alguém que tem comando no Palácio dos Leões, mas que obedece esse super secretário; ou se, na verdade, ambos, de tão ligados em quase que uma simbiose, são o “Polvo”.
Uma das linhas de investigação, inclusive, se aproxima do secretário estadual de Comunicação e Assuntos Políticos, Márcio Jerry Barroso, em razão de interceptações e documentos em posse da força-tarefa, mas principalmente por Jerry ser conhecido em todo o Maranhão como o homem mais forte do governo, ao ponto de ser tratado por alguns como primeiro-ministro ou até mesmo governador de fato do Estado.
No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, o “Polvo” tem a aparência de santidade, perfeição e serenidade, mas não acaba sendo revelado como o maior traidor, dissimulado, cruel e oportunista de todos, chegando a ser comparado com Judas, que traiu Jesus Cristo, mas alguém bem mais piorado, já que o traidor no Evangelho apenas atraiçoou Jesus à luz das lanternas e o beijou, mas o “Polvo” além de beijar, usa seus tentáculos para prender e roubar a luz para que os outros peixes não vejam as suas cores.
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