O doleiro Alberto Youssef, preso em março de 2014 em um hotel de São Luís, durante as investigações da Operação Lava Jato, afirmou em delação à Polícia Federal que, no dia de sua prisão, efetuou pagamento de propina a um integrante do alto escalão do governo Roseana Sarney em nome da UTC.
Segundo Youssef, a entrega do dinheiro ocorreu momentos antes da prisão, no Hotel Luzeiros. Ele afirma ter levado R$ 1,4 milhão ao quarto de Marco Ziegert, emissário do então secretário da Casa Civil de Roseana Sarney, João Abreu. Depois disso, “retornou ao quarto e ficou esperando a polícia chegar”, de acordo com relato à Polícia Federal.
Além do dinheiro, ele também levou uma caixa de vinhos como presente para ser entregue a Abreu.
O juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato, autorizou o compartilhamento do depoimento de Youssef e outras provas sobre o precatório com o atual governo do Maranhão, comandado pelo comunista Flávio Dino, adversário político do senador Jose Sarney (PMDB/AP), pai de Roseana.
A suposta propina de Youssef veio à tona no ano passado, após a contadora do doleiro, Meire Poza, ter revelado a negociata em depoimento à PF. Segundo ela, o governo do Maranhão recebeu R$ 6 milhões para furar a fila de pagamento de precatórios – que caracteriza, em tese, crime de responsabilidade – e antecipar um pagamento de cerca de R$ 120 milhões para a empreiteira UTC/Constran.
No depoimento à Polícia Federal, Alberto Youssef afirma ter recebido R$ 4 milhões pela operação. Ainda segundo ele, João Abreu recebeu, além dos R$ 1,4 milhão, outras duas parcelas de R$ 800 mil, por meio de emissários.
A Constran teria contratado o doleiro para receber o precatório porque não conseguia receber do governo pela pavimentação de estrada que executara nos anos 1980.
Em nota, o governo do Maranhão defendeu-se, e disse que “não houve favorecimento no pagamento da ação de indenização proposta pela Constran, há mais de 25 anos”. “Foi realizado acordo judicial, com acompanhamento do Ministério Público, para negociação dessa ação, que trouxe uma economia de R$ 28,9 milhões aos cofres públicos”.
Já a UTC/Constran, que nas eleições de 2014 foi uma das maiores doadoras de campanha do governador Flávio Dino, nega veementemente que tenha rompido a ordem cronológica.
“O acordo foi realizado seguindo todos os trâmites legais e respeitou todos os prazos estabelecidos pela lei. Além disso, a empresa aceitou receber o valor em 24 parcelas sem nenhuma correção ou juros. A Constran repudia qualquer tentativa de relacioná-la ao pagamento de propinas”, disse a empreiteira, à época.
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