Eduardo Braide e seu ex-assessor-fantasma e sócio de seu pai, Fabiano Bezerra

Chefe de Orcrim embolsou quase R$ 840 mil como fantasma de Carlos e Eduardo Braide

Documentos mostram ainda que candidato a prefeito de São Luís movimentou parte de sua emendas por meio de uma das empresas de fachada de seu então assessor-fantasma, Fabiano Bezerra

Fabiano de Carvalho Bezerra, apontado pela Polícia Federal e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) como vendedor de notas frias e um dos cabeças da organização criminosa (Orcrim) conhecida como Máfia de Anajatuba, embolsou quase R$ 840 mil como funcionário fantasma no gabinete do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, Antônio Carlos Salim Braide, e de seu filho, o candidato a prefeito de São Luís pelo PMN, deputado Eduardo Salim Braide.

A informação é do próprio chefe da Orcrim, repassada aos promotores de Justiça Gladston Fernandes de Araújo, Marco Aurélio Cordeiro Rodrigues e Marcos Valentim Pinheiro Paixão, durante oitivas.

Segundo documentos do Gaeco, o dinheiro foi colocado no bolso de Fabiano Bezerra entre os anos de 2008 e 2012, quando era lotado no cargo em comissão de Técnico Parlamentar Especial de Braide pai, recebendo R$ 10 mil como salário; e 2012 a 2014, quando permaneceu na AL-MA no mesmo cargo, desta vez lotado no gabinete de Braide filho, mas com o salário maior, de cerca de R$ 15 mil.

 

Folha 75 do PIC Gaeco mostra depoimento de Fabiano Bezerra confessando sinecura nos gabinetes de Carlos e Eduardo Braide, entre 2008 e 2014

De acordo com o Relatório do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) n.º 003/2014, onde está um trecho desse depoimento — e que pode ser conferido acima — , Fabiano Bezerra declarou aos promotores que trabalhou de forma legal nos gabinetes dos Braide e nunca desviou dinheiro público por meio das empresas de fachada A4 Serviços e Entretenimento Ltda, Vieira e Bezerra Ltda – ME (atual F. C. B. Produções e Eventos), M. A. Silva Ribeiro-EPP (antiga M.R. Comércio e Serviço) e Construtora Construir Ltda-ME.

Contudo, segundo informa o Gaeco no documento, o cruzamento entre os depoimentos prestados e as provas carreadas aos autos, notadamente o Afastamento de Sigilo Bancário e Fiscal, mostram que as declarações Fabiano Bezerra não correspondem com a realidade dos fatos.

Folha 76 do PIC-Gaeco mostra que Fabiano Bezerra mentiu em seu depoimento aos promotores de Justiça

Ainda segundo o Gaeco, o Relatório de Análise n.º 04/2015 mostra que, só entre 2009 e 2013, o então assessor dos Braide movimentou o total de R$ 19.967.829,88 (dezenove milhões, novecentos e sessenta e sete mil, oitocentos e vinte e nove reais e oitenta e oito centavos). Todo esse dinheiro teve como rementes a Assembleia Legislativa do Maranhão; as empresas A4 Serviços e Entretenimento, A. J. F. Júnior Batista Vieira – ME e Escutec – Pesquisas de Mercado e Opinião Ltda; e Anílson Araújo Rodrigues, laranja a A4 e delator de todo o esquema à Polícia Federal.

Folha 77 do PIC-Gaeco detalha quanto Fabiano Bezerra movimentou na conta do Banco do Brasil entre os anos de 2009 e 2013

Embora o Gaeco não informe no PIC n.º 003/2014, o ATUAL7 apurou que a informação dada por Fabiano Bezerra sobre quando pulou do gabinete de Braide pai para o de Braide filho também não corresponde com a realidade dos fatos. Segundo cópia do Diário Eletrônico da AL-MA, a primeira nomeação de Fabiano do gabinete parlamentar do candidato a prefeito pelo PMN foi em março de 2011, com retroativa para o 1º dia de fevereiro do mesmo ano.

Trecho do Diário Eletrônico da Assembleia Legislativa do Maranhão mostra que Fabiano Bezerra entrou no gabinete de Eduardo Braide desde março de 2011

Emendas

Além de sinecurar dois chefes e quase todos os outros participantes da Orcrim no próprio gabinete, a suspeita de ligação direta de Eduardo Braide com a Máfia de Anajatuba — que, inclusive, é alvo de investigação sigilosa da Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) — tem relação ainda com parte de suas emendas parlamentares.

Isso ocorre porquê, em 2014, quando Fabiano Bezerra ainda era funcionário fantasma de seu gabinete na Assembleia, Eduardo Braide destinou pelo menos R$ 70 mil, por meio da empresa de fachada F. C. B. Produções e Eventos, para a realização do Carnaval em Anajatuba, coração de todo o esquema criminoso.

Destino das emendas do deputado Eduardo Braide em 2014

Coincidentemente, também naquele ano, quando se reelegeu a deputado estadual, Eduardo Braide mais que quadruplicou seus votos em Anajatuba, terminando como o mais votado no munício. Entre esses eleitores, estava Natasha Alves Lesch, esposa de Fabiano Bezerra e integrante da quadrilha que saqueou os cofres de Anajatuba.

Em interceptação telefônica feito pelo Gaeco, com autorização da Justiça, Fabiano foi flagrado mandando que a mulher votasse em Eduardo Braide para deputado estadual. Na conversa, gravada em 5 de outubro de 2014, dia da votação, ele chega a repetir à Natasha o número de Braide, algarismo por algarismo. Ao explicar que era o candidato, Fabiano disse que se tratava do filho de seu sócio, o pai de Eduardo, Carlos Braide, que também é apontado pelo Gaeco como chefe da máfia.

Folha 80 do PIC Gaeco mostra diálogo entre Fabiano e Natasha, onde é pedido à esposa que vote em Eduardo Braide para deputado estadual

O diálogo entre ambos é interessante, pois Natasha deveria, obrigatoriamente, saber quem era Eduardo Braide, já que, segundo depoimento do laranja Anílson Araújo Rodrigues sobre o esquema, feito na Superintendência da Polícia Federal no Maranhão, ela também era lotada no gabinete do parlamentar. O documento onde consta esse depoimento é o mesmo mostrado pelo programa Fantástico, da Rede Globo, na estreia do quadro “Cadê o dinheiro que tava aqui?”[assista a estreia ].

Documento exibido em reportagem do Fantástico em 2014 mostra que quadrilha era toda nomeada no gabinete de Eduardo Braide

O ATUAL7 tem tentado contato com Eduardo Braide e sua assessoria de imprensa, insistentemente, desde o início desta semana, para responder qual sua ligação e a de seu pai com Fabiano Bezerra, mas nem o candidato e nem sua a sua assessoria retornaram o contato até a publicação desta reportagem. Não foi possível obter o contato direto de Carlos Braide.

A imagem em destaque desta reportagem, que mostra Fabiano Bezerra com um bolo de R$ 50 mil de dinheiro público desviado de Anajatuba, foi exibida em reportagem do Jornal Nacional, também da Rede Globo, no dia 20 de outubro do ano passado, quando ele outras sete pessoas participantes da quadrilha foram presos pela PF [confira a reportagem do JN].

Apesar da vasta documentação que aponta a ligação direta de Eduardo Braide com o chefe da quadrilha de Anajatuba, o candidato a prefeito de São Luís tem se feito de vítima diante das publicações, acusado seus adversários de denegrir sua imagem, processado blogueiros — inclusive o editor do ATUAL7 —, alegando que tudo não passa de factoides e documentos falsos.

Humberto Coutinho citado

Durante as oitivas, Fabiano Bezerra detalhou ainda que, além do então prefeito de Anajatuba, Hélder Aragão, quem também manteve negócios com a empresa de fachada Vieira e Bezerra (F. C. B. Produções e Eventos) foi a prefeitura de Caxias, por meio do então prefeito e atual presidente da AL-MA, Humberto Coutinho (PDT), e o seu sobrinho e atual prefeito, Léo Coutinho (PSB). Não há detalhes de quanto em dinheiro foi movimentado entre eles.

Porém, Fabiano explica na oitiva que esses contratos foram articulados pelo dono do instituto Escutec, Fernando Júnior – outro apontado pelo Gaeco como cabeça da Máfia de Anajatuba -, que também conseguiu operar a empresa de fachada na gestão do prefeitos de Pinheiro, Filuca Mendes (PMDB), e Parnarama, David Pereira de Carvalho (PSB). Todas entraram na teia do crime ao contratar a Vieira e Bezerra para a realização de festas de Carnaval nas cidades, coincidentemente mesmo destino das emendas de Eduardo Braide.


Comentários

10 respostas para “Chefe de Orcrim embolsou quase R$ 840 mil como fantasma de Carlos e Eduardo Braide”

  1. Avatar de Maria de arujo
    Maria de arujo

    A currupcao e a pior coisa q exite.tao prensando q tao fazendo roubo escondido. Tao ferrados

  2. […] cedo, por exemplo, o ATUAL7 mostrou que só Fabiano Bezerra embolsou quase R$ 840 mil como assessor no gabinete de Eduardo Braide e de seu pai. Em outra reportagem, ontem 26, foi mostrado que um laranja do esquema também levou dinheiro […]

  3. […] Neste sentido, enquanto Edivaldo Holanda Júnior é alvo de uma ação de improbidade cujo entrada foi dada pelo advogado José Ribamar de Araújo e Sousa Dias e o empresário Albery Batistella, Eduardo Braide é alvo de investigação aberta pela própria Polícia Federal — e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) —, após o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encaminhar ao Ministério Público Federal a informação de que houve vultosa movimentação financeira em sua conta bancária, e dele estar umbilical e profissionalmente ligado aos cabeças e demais integrantes da organização criminosa (orcrim) que assaltou os cofres públic…. […]

  4. […] se comportou com tranquilidade olímpica em relação ao que pensava o ludovicense diante de sua ligação umbilical e profissional com os cabeças e demais membros da organização criminosa que saqueou os cofres daquela […]

  5. […] e nomeado diversos integrantes da organização criminosa em seu próprio gabinete parlamentar, inclusive um dos chefes da Orcrim, como funcionários […]

  6. […] Ele embolsou R$ 840 mil, entre os anos de 2008 e 2012, quando era lotado no cargo em comissão de Técnico Parlamentar Especial de Carlos Braide, recebendo R$ 10 mil como salário; e 2012 a 2014, quando permaneceu na AL-MA no mesmo cargo, desta vez lotado no gabinete de Eduardo Braide, mas com o salário maior, de cerca de R$ 15 mil. […]

  7. […] em vez de explicar como os integrantes da Orcrim, inclusive o cabeça do esquema, eram lotados em seu gabinete na Assembleia Legislativa sem precisar ir trabalhar, e […]

  8. […] e Entretenimento tinham como real proprietário o empresário Fabiano de Carvalho Bezerra, então funcionário-fantasma do gabinete do deputado estadual Eduardo Braide (PMN). O parlamentar, inclusive, é alvo de investigação sobre o emprego irregular a Fabiano e outros […]

  9. […] Mesmo acuado com a acusação de gazetear as sessões na Alema e não ter desconto em seus vencimentos, Duarte Júnior devolveu o ataque questionando Braide sobre que trabalho foi feito por ele durante sua passagem na administração de João Castelo (já falecido) em São Luís, e o destino de suas emendas parlamentares para o interior do Maranhão. Também relembrou a respeito de investigação da Polícia Federal em que Braide figura como alvo, e da prisão de um assessor do candidato do Podemos, quando deputado na Assembleia Legislativa, por envolvimento na chamada Máfia de Anajatuba. […]

  10. […] apurou o ATUAL7, Fabiano Bezerra embolsou R$ 840 mil durante o período em que foi lotado, entre os anos de 2008 e 2012, no cargo em comissão de […]

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