Relatório do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) n.º 003/2014, do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), aponta que o investigado na chamada Máfia de Anajatuba, José Antônio Machado de Brito Filho, embolsou o total de R$ 243.739,70 (duzentos e quarenta e três mil, setecentos e trinta e nove reais e setenta centavos) como funcionário fantasma no gabinete do deputado estadual e candidato a prefeito de São Luís pelo PMN, Eduardo Braide.
A ilegalidade ocorreu entre os anos de 2011 e 2014, e foi revelada aos promotores de Justiça Gladston Fernandes de Araújo, Marco Aurélio Cordeiro Rodrigues e Marcos Valentim Pinheiro Paixão, durante oitiva com o sócio de Brito Filho na empresa A4 Serviços e Entretenimento, Raimundo Nonato Silva Abreu Júnior. Ambos, segundo o Gaeco, são laranjas, e a empresa é de fachada.
Raimundo Júnior, em destaque na imagem acima, inclusive, é o taxista da cidade de Itapecuru-Mirim que apareceu armado — juntamento com o seu pai — no programa Fantástico, da Rede Globo, na estreia do quadro “Cadê o dinheiro que tava aqui?”.
Orcrim
De acordo com as investigações, a A4 pertence e é operada pelos empresários Fabiano de Carvalho Bezerra, que também foi funcionário fantasma no gabinete de Eduardo Braide de 2012 a 2014; e Antônio José Fernando Júnior Batista Vieira, proprietário do instituto Escutec – Pesquisas de Mercado e Opinião Ltda; além do próprio pai do parlamentar, o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, Antônio Carlos Salim Braide.
No depoimento prestado por Raimundo Júnior ao Gaeco, um trecho grave chama a atenção: todo o dinheiro que Brito Júnior recebia como funcionário fantasma na AL-MA era repassado ao próprio Eduardo Braide, por meio de uma outra pessoa envolvida no esquema criminoso e também funcionária fantasma no gabinete do parlamentar, Matilde Sodré Coqueiro. Ela também era, segundo as investigações do Gaeco e do Ministério Público Federal (MPF) compartilhadas com a Polícia Federal, secretária de Fernando Júnior na Escutec e funcionária de outra empresa de fachada criada e operada por Fabiano Bezerra, Fernando Júnior e Carlos Braide, a Vieira e Bezerra Ltda – ME.
Matilde, ainda segundo as investigações do Gaeco, era quem operava toda a movimentação financeira de mais outra empresa de fachada criada exclusivamente para saquear os cofres públicos, a Júnior Batista Vieira – ME. Pessoa de confiança dos cabeças da Orcrim, principalmente de Fernando Júnior, ela também quem operava as movimentações da A4 Serviços e Entretenimento Ltda.
O próprio Raimundo Júnior também foi convidado para ser funcionário fantasma no gabinete de Braide, mas recusou a proposta de Fabiano Bezerra, ao ser informado que deveria devolver os salários recebidos ao parlamentar, e que o único benefício com a sinecura seria um plano de saúde oferecido pela Assembleia Legislativa. Já o Brito Filho, segundo declaração do próprio aos promotores de Justiça, teria sido empregado no gabinete de Eduardo Braide após indicação de Fernando Júnior.
Prova cabal
As oitivas dos sócios laranjas da empresa A4, cruzadas com dados abertos do Diário Eletrônico da Assembleia Legislativa maranhense, apontam para uma possível relação perigosa entre o candidato a prefeito pelo PMN e os outros dois chefões da organização criminosa que escamoteou os cofres públicos do município de Anajatuba.
Apesar da farta documentação aumentar os indícios de participação efetiva de Eduardo Braide na orcrim que saqueou o município, não há certeza de que, na investigação que corre sob sigilo, a Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) pretende denunciá-lo à Justiça, especificamente neste caso. Contudo, o depoimento de Raimundo Júnior, que inclusive consta no Acordo de Colaboração Premiada acolhido pelo Tribunal de Justiça do Maranhão, pode servir como prova cabal de que o deputado estadual e candidato a prefeito de São Luís abrigou Brito Júnior como funcionário fantasma em seu próprio gabinete e ainda garfava o seu salário ilegal, o que é crime contra a administração pública.
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