Agronegócio
Plantações de soja avançam no leste maranhense com rastro de violência e desrespeito ao meio ambiente
Cotidiano

Região é disputada por grandes empreendimentos oriundos do Rio Grande do Sul para a prática do agronegócio

Por Yndara Vasques e Franci Monteles
Inspirar Comunicação

“A natureza se encaminhava de criar os animais, tamanha era a fartura”, disse o seu Vicente de Paula Costa, de 64 anos, que cresceu em Carranca, no município de Buriti, distante 400 km de São Luís. A região é disputada por grandes empreendimentos oriundos do Rio Grande do Sul para a prática do agronegócio com fins do plantio da soja no cerrado maranhense.

O senhor acrescentou tristemente: “agora os campos da soja só faltam invadir a minha casa. Na verdade, os homens responsáveis por isso já invadiram e me ameaçaram caso eu não venda a minha terra”, desabafou, lamentando a diminuição das árvores nativas como o bacuri. “É muito difícil encontrar os bacurizeiros, tudo está acabando, sendo destruído. Sem falar que eles comprometem também as nascentes dos rios. Espero que haja justiça e nos deixem em paz nas nossas terras”, afirmou seu Vicente que mora no território desde que nasceu. “Além da devastação ambiental, temos um conflito agrário cada dia mais intenso por conta da expansão dessa forma de economia”, afirmou, Diogo Cabral, advogado popular e Defensor dos Direitos Humanos que acompanha os processos jurídicos dos agricultores.

No leste maranhense, o Fórum Carajás tem atuado, há mais de 10 anos, em defesa das comunidades tradicionais ameaçadas pelo agronegócio da soja e do eucalipto para produção de celulose. Estas monoculturas, que avançam e pressionam as comunidades para deixarem suas propriedades, emperram a demarcação de terras, provocam conflitos agrários e ameaçam a biodiversidade do cerrado maranhense. Para Mayron Borges, presidente do Fórum, a situação se agrava ainda mais pela conivência do poder público em incentivar a monocultura da soja na região.

Nos últimos meses no leste maranhense, em comunidades como Carranca, Brejão e Bacuri uma onda de violência rural, patrocinada pelo agronegócio, promoveu diversas violações aos direitos de povos originários e de agricultores e agricultoras familiares, além das agressões ambientais ao cerrado maranhense. Representantes de organizações não governamentais como o Fórum Carajás, o advogado popular Diogo Cabral e de movimentos sociais estiveram em várias comunidades rurais e quilombola dos municípios de São Benedito do Rio Preto, Chapadinha e Buriti, para acompanhar de perto as denúncias.

Omissão em Brejão

Os moradores estão assustados em Bacuri, município de São Benedito do Rio Preto, com a matança de mais de 40 animais, entre porcos e bodes, promovido por invasores fortemente armados. De acordo com o presidente da Associação Bacuri dos Moisés, Francisco das Chagas Nascimento, a comunidade já é uma área desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já definida em sentença, faltando apenas a emissão de posse e o cadastro das famílias. Em dezembro de 2020, ao constatar a matança dos animais, eles se deslocaram para a Delegacia de São Benedito do Rio Preto para denunciar o fato. De acordo com o seu Francisco, o escrivão se negou a registrar a denúncia e emitir o Boletim de Ocorrência, devido residir na área da comunidade.

A denúncia foi registrada na Promotoria de Justiça da Comarca de Urbano Santos contemplando: ameaças de morte aos moradores de Brejão, matança da criação de animais (porcos e bodes) e derrubada ilegal de árvores. Para seu Franscisco, essencial é que providências legais sejam tomadas urgentes antes de “acontecer o pior com os moradores da comunidade”, alerta.

Casas queimadas em Guarimã

Uma grande área em Guarimã, também em São Benedito do Rio Preto, é foco de disputa entre moradores da comunidade quilombola e gaúchos recém-chegados para o plantio da soja. De janeiro até agora, duas casas foram queimada no povoado, de acordo com a comunidade, incentivada pelos empreendedores desse sistema de monocultura com o objetivo de amedrontar e enfraquecer a resistência. Entre as lideranças da região, um homem e uma mulher (cujos nomes serão preservados por questão de segurança), pela primeira vez falaram sobre o assunto para uma rádio na Web. “Não nos intimidamos! Não podem tirar o que é nosso. Vamos seguir na luta”, enfatizou Amélia (nome fictício).

Desmatamento predatório

Seu Vicente, aquele senhor do início da matéria, na última semana assistiu entristecido mais desmatamento predatório. Árvores frutíferas como o bacuri, o pequi, o coco-babaçu, entre outros típicos do cerrado que levaram anos pra se desenvolveram são derrubadas em questões de minutos pelos correntões amarrados em dois tratores. Os animais da região também sofrem o impacto, muitos são mortos, outros ficam desnorteados com a floresta nativa destruída.

Na comunidade de Brejão, município de Buriti, representantes dos movimentos sociais e ONGs ainda sentiram o calor de quase 40º graus agravado pelo fogo colocado no que restou da floresta nativa destruída, há menos de uma semana. Foram quase mil hectares de cerrado dizimados para dar lugar à monocultura da soja, destinado ao mercado internacional, deixando um rastro de destruição por onde passa.

Maranhão campeão de desmatamento do cerrado

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que o Maranhão foi o estado que mais desmatou o cerrado para a agricultura, pecuária e o plantio de eucalipto entre agosto de 2019 e julho de 2020.

No Brasil, o desmatamento da soja cresceu 13% nesse período. Foram retirados mais de 7300 km² de mata nativa, o que equivale a quase cinco vezes a cidade de São Paulo. Já no Maranhão, a região sul foi a que mais perdeu área de cerrado: cerca de 1800 km².

O cerrado é o bioma brasileiro mais ameaçado e o segundo com o maior número de animais em extinção; detentor das maiores taxas proporcionais de desmatamento e queimadas irregulares no Brasil; com perda de mais da metade de sua vegetação nativa em 30 anos.

Puxado pelo agronegócio, PIB do MA teve o 4º maior crescimento do Brasil em 2017, diz IBGE
Economia

No extremo oposto, porém, PIB per capita do estado foi o mais baixo do país

O Maranhão foi o 4ª estado brasileiro com maior crescimento no PIB (Produto Interno Bruto) em 2017, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nesta quinta-feira 14.

De acordo com os dados, a economia do Maranhão cresceu 5,3% no ano passado. A alta foi maior do que a média nacional (1,3%), principalmente por causa do desempenho do agronegócio.

Conforme comemorou o governo Flávio Dino, boa parte da produção de grãos é transportada pelo Porto do Itaqui, que também teve forte contribuição para o resultado.

No ranking nacional de variação de volume, à frente do Maranhão ficaram Mato Grosso (12,1%), Piauí (7,7%) e Rondônia (5,4%). Já no Nordeste, o estado teve a segunda maior alta do PIB naquele ano.

Ainda segundo o IBGE, no extremo oposto, o Maranhão se manteve como menor PIB per capita do Brasil em 2017, com R$ 12.788,75. Desde 2012 que o estado disputa com o Piauí —que ficou em penúltimo com R$ 14.089,78— as duas piores colocações.

O PIB é o total de valor gerado por uma economia em um determinado ano. Ou seja, quanto maior, melhor a economia. Já o PIB per capita é esse valor dividido pela população do país, estado ou cidade, por isso melhor para ver a desigualdade.

Centro-Oeste, Norte e Nordeste lideram na exportação de produtos do agronegócio
Economia

Dados da CNI mostram que, nessas três regiões, a maior parte dos exportadores está ligada aos setores de produtos alimentícios e agricultura e pecuária

As empresas das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste são as que mais exportam produtos do agronegócio. Dados da pesquisa Desafios à competitividade das exportações brasileiras, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostram que, no Centro-Oeste, 27,6% das empresas exportadoras são ligadas ao setor agricultura e pecuária e 19,9% ao de produtos alimentícios.

No Norte, 21,4% das empresas são ligadas à atividade de agricultura e pecuária e 22,1% à de alimentos. No Nordeste, esses percentuais são de 22,8% e 15,3%, respectivamente.Na média nacional, 6,8% das empresas são ligadas à atividade de agricultura e pecuária e 9,5% a de produtos alimentícios.

Para a CNI, os números refletem a vocação dessas regiões. No Centro-Oeste, há uma concentração de grandes empresas que exportam commodities. No Norte e no Nordeste, é forte a presença de pequenas empresas que vendem ao exterior produtos com valor agregado.

“A pesquisa mostra que, de acordo com a vocação de cada região, o governo precisa usar diferentes estratégias e ferramentas para alavancar o comércio exterior. A redução do custo do transporte, por exemplo, é importante no Brasil todo. Mas, no Centro-Oeste, essa questão se torna mais acentuada. No Norte e Nordeste, cabe uma ação para divulgação das linhas de financiamento às exportações e melhoria do acesso a essas linhas pelas pequenas empresas. Muitas vezes, a empresa não consegue atender à burocracia e às garantias exigidas no financiamento”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.

Dados nacionais

De acordo com a pesquisa, nacionalmente, a maior parte das empresas (16,8%) é ligada ao setor de máquinas e equipamentos. Em seguida, destacam-se os setores de produtos alimentícios (9,5%); agricultura e pecuária (6,8%); metalurgia (5,9%); e químicos (4,4%). No Sudeste, 17% das empresas são ligadas ao setor de máquinas e equipamentos. Uma fatia de 8,1% exporta produtos alimentícios, e outra de 7,1% atua na metalurgia. No Sul, 19,7% das empresas exportadoras vendem máquinas e equipamentos; 9,5%, produtos alimentícios; e 8,6%, produtos de madeira.

Desafios à competitividade

A pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras de 2018 ouviu 589 empresas exportadoras entre outubro de 2017 e março de 2018 e apresenta um raio-X dos problemas que os empresários brasileiros enfrentam para poder vender bens e serviços para o exterior. Esta nova edição da pesquisa busca dar continuidade ao monitoramento dos principais entraves do processo de exportação e avaliar mudanças ocorridas nos desafios enfrentados pelos exportadores nos últimos dois anos.

A edição anterior, publicada em 2016, mostrou que as empresas brasileiras enfrentam muita dificuldade para exportar. Dentre elas destacam-se a morosidade e a burocracia aduaneira e alfandegária; a complexidade dos documentos exigidos e do arcabouço legal que regulamenta as exportações; e o elevado custo do transporte.