A sessão legislativa dessa terça-feira (28) serviu para mostrar que apenas três, dos 42 deputados da Assembleia Legislativa do Maranhão, demostraram humanidade e preocupação com a morte de quase 200 bebês, só em 2014, na Maternidade Carmosina Coutinho, em Caxias, de propriedade do presidente da Casa, deputado Humberto Coutinho (PDT).
Apelidada de “Maternidade da Morte” pelo Repórter Record Investigação, que exibiu ainda que a unidade funciona sem alvará da prefeitura, Vigilância Sanitária e Corpo de Bombeiros, por lá os bebês que sobrevivem aos partos ficam cegos.
Cientes do descaso da administração do prefeito Léo Coutinho (PSB), sobrinho de Humberto, os deputados Wellington do Curso (PPS), Andrea Murad (PMDB) e Zé Inácio (PT) usaram seus tempo na tribuna e de aparte para discutir o assunto.
Andrea lembrou que, além das mortes, as crianças que conseguiram sobreviver ao parte ficaram cegas, e denunciou que durante a passagem de seu pai, o ex-secretário Ricardo Murad, pela Saúde estadual, um relatório da Vigilância Sanitária foi produzido apontando o que a reportagem da Record mostrou. A oposicionista prometeu aguardar o retorno de Humberto Coutinho à Assembleia para cobrar uma solução para a matança de crianças.
– Ontem não sei se os deputados assistiram a questão de Caxias. Mas, infelizmente, o que aconteceu nessa maternidade de Caxias, através do sobrinho do Presidente desta Casa, é uma vergonha. Eu, como mãe, assistindo aquela reportagem ontem, fiquei emocionada, olhando aquelas criancinhas cegas, que vão ver a vida no escuro. A vida vai passar e verão somente o escuro dentro delas. Quer dizer que acontece isso com várias e várias crianças e ninguém toma uma posição, nada. A vigilância sanitária na gestão de Ricardo Murad fez todo um relatório disso que está acontecendo agora em Caxias. Eu depois vou aprofundar nesse assunto até porque sou acusada de falar as coisas sem a presença das pessoas. Mas eu não considero que esse caso de Caxias, eu preciso falar na presença do deputado Humberto. É um fato que saiu em rede nacional. E depois eu vou me pronunciar sobre ele – pontuou.
Wellington do Curso externou a sua preocupação com a dignidade humana, e propôs que a Comissão de Saúde da Assembleia realize visita “in loco” à Carmosina Coutinho, para esclarecer de fato o que leva a maternidade a se transforma em um matadouro de crianças.
– O Brasil se consternou com a dignidade humana. Ontem, pela segunda vez, uma emissora de TV levou a todos os lares do Brasil uma denúncia sobre a morte de mais de 200 crianças, famílias dizimadas, gerações perdidas e um absurdo de crianças sequeladas pelo resto da vida. É através dessa proteção que se concretizará todo catálogo de direitos humanos encartado na Constituição Federal. E, em Caxias, não há essa proteção. O que vimos foi a completa falta de respeito ao que é mais caro ao ser humano: a sua dignidade – detonou.
Já o deputado Zé Inácio, durante aparte, colocou a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Assembleia, da qual preside, à disposição para também realizar uma visita “in loco” à “Maternidade da Morte”.
– Já defiro o seu Requerimento pela Comissão de Direitos Humanos, para que possam fazer a visita in loco. Nós podemos fazer juntos. Se a Comissão de Saúde recuar [por conto do presidente, deputado Stênio Rezende, ser governista], mas a Comissão de Direitos Humanos não recuará. Nós iremos lá atendendo o seu Requerimento.
Nascido em outras maternidades, mas cegos
Apesar de não terem nascido na “Maternidade da Morte”, três parlamentares se fizerem de cegos para o problema enfrentado pelos pais e mães de Caxias.
Durante a sessão legislativa, os deputados Eduardo Braide (PMN), Levi Pontes (SD) e Othelino Neto (PCdoB) chegaram a interromper e contestar a fala dos poucos deputados que se indignaram com a morte dos bebês na Carmosina Coutinho.
Uma vergonha!
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