O desembargador federal Ney de Barros Bello Filho, que concedeu habeas corpus para livrar da prisão temporária pelo menos três presos pela Polícia Federal na deflagração da Operação Pegadores, tem um sobrinho nomeado no governo Flávio Dino, alvo único da força-tarefa da Sermão aos Peixes da semana passada, após descobertas de desvios de mais R$ 18 milhões da saúde estadual nos últimos três anos.
André Bello ocupa o cargo de secretário Adjunto de Educação Profissional, Tecnologia e Inclusão Social, além de coordenador do Iema (Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão) Vocacional, ambos vinculados à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti).
Apesar da coincidência, não há ilegalidade na atitude de Ney Bello. A liberdade de locomoção é uma garantia constitucional. Mas as circunstâncias da concessão sujeitam o magistrado à maledicência.
Fora ter um sobrinho dentro do governo alvo único da operação da PF, o desembargador federal é amigo pessoal do próprio governador desde os anos 80, tendo inclusive publicado artigo em favor deste, quando o comunista tentou comprar briga com o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em primeira instância. Já o governador, apenas em coincidência, mas confundindo o público com o privado, usou a estrutura do Palácio dos Leões para divulgar o lançamento de um livro do amigo.
Há ainda a coincidência de Ney Bello Filho ser filho de Ney de Barros Bello, ex-secretário de Infraestrutura do governo José Reinaldo Tavares.
Foi durante o governo de Tavares que, segundo relatório da Polícia Federal relacionado à Sermão aos Peixes, o Instituto Cidadania e Natureza (ICN) começou a operar de forma criminosa na rede pública estadual de saúde.
O ICN é, decerto por pura coincidência, de propriedade do médico Benedito Silva Carvalho, outro alvo de prisão da PF livrado da cadeia pelo magistrado, ainda em 2015.
Outros habeas corpus, de outros alvos da Operação Pegadores, devem ser apreciados pelo desembargador federal nos próximos dias. Não por coincidência, ressalta-se, mas por prevento. É que, quando um processo vai para um magistrado, todas mas matérias referentes a este processo também vão para o mesmo.
Vale aguardar as próximas decisões.
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