Humberto Fernandes
Comunicação da Prefeitura de São Luís tem rombo de quase R$ 8 milhões
Política

Apesar do déficit, prestadores de serviços acusam o secretário Batista Matos de três meses de atraso nos repasses

As contas da Comunicação da Prefeitura de São Luís em 2015 devem fechar no vermelho. De janeiro a outubro deste ano, a pasta comandada pelo secretário Batista Matos já abriu um rombo orçamentário de quase 8 milhões de reais na administração Edivaldo Holanda Júnior (PDT).

O levantamento foi feito pelo Atual7 em dados abertos do Portal da Transparência do município - colocado no ar após intervenção do Ministério Público do Maranhão -, que apontam a diferença entre o que Batista tinha como orçado para este ano, que é de pouco mais de 23,4 milhões de reais, e o que já está empenhado para pagamento, que é de mais de 31,2 milhões de reais.

Ainda não há confirmação, mas denúncias feitas há duas semanas pelo jornalista Cunha Santos apontam para o destino desse dinheiro - ou pelo menos boa parte dele.

De acordo com Cunha, o secretário Batista Matos encabeça um esquema de repasses de pixulecos para setores anilhados da imprensa e pessoas que nunca prestaram qualquer tipo de serviço para a Comunicação. Os repasses teriam relação com a pré-candidatura do secretário municipal de Comunicação a vereador em 2016, pelo PCdoB.

Mais grave ainda que os mensalinhos: nestes últimos três meses, apesar da agência Enter Propaganda e Marketing, pertencente ao publicitário Evilson Almeida, ter embolsado mais de 3,4 milhões de reais da Comunicação da Prefeitura de São Luís, há uma reclamação geral - de quem presta serviços e de quem não presta serviços - de atrasos de pagamento pela Central de Notícias, pertencente ao radialista Humberto Fernandes. Em um esquema de teia semelhante ao que ocorre no tráfico de drogas, onde existe o traficante, o atravessador e o viciado, os pixulecos vêm sendo operados por meio da agência Enter Propaganda, que repassa a verba para a Central de Notícias e esta para os participantes do esquema.

A mesma Central de Notícias, aliás, já opera também na Comunicação do governo Flávio Dino, embora não tenha participado de nenhuma das conturbadas licitações de 53 milhões de reais do Executivo estadual com marketing, publicidade e consultoria de imagem do comunista.

Entenda como funciona a distribuição do mensalinho da Prefeitura de São Luís
Política

Preço pago pelo silêncio de parte da imprensa da capital consome quase meio milhão de reais por mês dos cofres do Executivo municipal

Quase meio milhão de reais. Este é o valor do dinheiro público que escorre por mês dos cofres da Prefeitura de São Luís para garantir o silêncio total de parte da imprensa da capital, por meio de pixulecos, às denúncias contra a gestão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT). O valor - e parte de como funciona o esquema que abastece donos de veículos de comunicação, agências de publicidade, jornalistas, blogueiros e radialistas - foi denunciado nessa quinta-feira 15 por um dos profissionais da internet cooptados pelo Palácio de La Ravardière, mas obscuramente deletado minutos depois.

O dono da Enter Propaganda, Evilson Almeida, que recebe o dinheiro da Prefeitura de São Luís e repassa para o dono da Central de Notícias
Facebook O repartidor O dono da Enter Propaganda, Evilson Almeida, que recebe o dinheiro da Prefeitura de São Luís e repassa para o dono da Central de Notícias

Alheio a uma nota emitida no final da noite de ontem pelo secretário de Comunicação Batista Matos, acusado de substituir o ex-titular da pasta, Robson Paz, na cabeça de toda a movimentação financeira, o Atual7 apurou e finalmente torna público um boato que sempre correu, mas até então nunca havia sido confirmado: como funciona a relação promíscua entre a administração Edivaldo Júnior e grande parte da imprensa ludovicense.

O mensalinho

Funcionando como uma espécie de teia, semelhante ao que ocorre no tráfico de drogas, onde existe o traficante, o atravessador e o viciado, o repasse dos mensalinhos é operado por meio da agência Enter Propaganda e Marketing, pertencente ao publicitário Evilson Almeida, que garfou parte da verba publicitária da prefeitura; e pelo radialista Humberto Fernandes, da Central de Notícias.

Para o dinheiro chegar às mãos dos profissionais com aparência legal, a prefeitura faz o repasse para a conta da Enter, que por sua vez o repassa para o dono da Central de Notícias, que faz o papel de atravessador. Com o dinheiro já em mãos, seguindo com critérios de remuneração para cada pessoa, Fernandes então distribui o pixuleco entre os nomes contidos na lista santa.

Ao lado do prefeito Edivaldo, Humberto Fernandes, da Central da Notícias, que recebe o dinheiro da Enter e distribui o cala boca - e dedos
Facebook O distribuidor Ao lado do prefeito Edivaldo, Humberto Fernandes, da Central da Notícias, que recebe o dinheiro da Enter e distribui o cala boca - e dedos

Os valores - quer para jornalistas, blogueiros ou radialistas - variam entre 300 reais a até 18 mil reais por mês, por profissional da imprensa participante. Os de valor mais baixo, recebem em mãos, e o restante via transferência bancária.

Fora o repasse financeiro, a Humberto Fernandes cabe ainda fazer o repasse das peças publicitárias de campanhas da Prefeitura de São Luís aos contatos da mídia anilhada na internet, única forma encontrada - mas que só serve para os chamados baixo clero da imprensa - para bancar o silêncio dos integrantes do esquema de forma aparentemente legal, como já revelado acima.

Além da proibição à qualquer denúncia ou crítica contra a administração Edivaldo Júnior, na rádio e internet, é acertado ainda a censura aos ouvintes e leitores que atentem contra a imagem do prefeito da capital. Já de modo geral, o determinado é que, para receber o dinheiro, os profissionais devem manipular e tentar persuadir a opinião pública com notícias favoráveis e defesa severa do pedetista, bem como silenciar e não abrir espaço para a oposição.

Embora exista a reclamação geral de atrasos que duram de três a até nove meses - motivo que levou à insatisfação e consequente denúncia de um jornalista e blogueiro -, a Prefeitura de São Luís repassa mensalmente o valor que cabe à Enter Propaganda, fato que levanta a suspeita de que o dinheiro do próprio esquema possa estar sendo desviado para outros fins, como ocorreu em 2014.

Vale lembrar, claro, que pelo menos na internet, nem todos que veiculam os banners do Executivo municipal possuem participação na máfia.

Solicitação de inserção de campanha da Prefeitura de São Luís feita por Humberto Fernandes desde maio de 2014 mostra que ele já operava no esquema antes da chegada de Batista Matos na Seconzinha
Atual7 Fernando Baiano de Edivaldo Solicitação de inserção de campanha da Prefeitura de São Luís feita por Humberto Fernandes desde maio de 2014 mostra que ele já operava no esquema antes da chegada de Batista Matos na Seconzinha