PCM
PCM se divide e ameaça iniciar matança em Pedrinhas por controle do CDP
Maranhão

Dissidentes da facção criminosa criaram o CCO, Comando da Cidade Olímpica, que disputa ainda o controle pelo tráfico de drogas na maior ocupação urbana da América Latina

Inspirada e, posteriormente, ramificada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, a facção criminosa Primeiro Comando do Maranhão (PCM), que controla todo o Centro de Detenção Provisória (CDP) do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, maior presídio maranhense e um dos mais violentos do país, ameaça iniciar rebelião e matança na unidade, caso o diretor do CDP, Rubens Ferreira Alves, não aceite pedido feito pelos criminosos no final do ano passado.

De acordo com relato de monitores ao Atual7, o pedido consiste na transferência imediata de presos dissentes do PCM, que formaram uma nova facção criminosa dentro de Pedrinhas, criada oficialmente no dia 31 de dezembro de 2015, o CCO, Comando da Cidade Olímpica, que disputa agora com os ex-comparsas o controle pelo tráfico de drogas em bairro carente homônimo em São Luís, a Cidade Olímpica, considerada a maior ocupação urbana da América Latina.

Como os membros da CCO estão recolhidos no Pavilhão Gama do CDP desde o dia do desmembramento, embora ocupem e controlem os outros três pavilhões: Delta, Alfa e Beta, os membros do PCM não aceitam a presença dos dissidentes na mesma unidade, que se tornaram agora facção rival, e por isso prometem "quebrar a cadeia" – termo utilizado pelos presidiários e policiais para se referir a ocorrência de rebelião e mortes dentro das unidades prisionais.

O alerta foi feito por um dos líderes do PCM ao próprio "Rubão", como é chamado o diretor da unidade prisional pelos detentos, e ainda ao chefe de disciplina, Valter Serra. Ambos, inclusive, já teriam presenciado ameaças mútuas feitas por membros das duas facções durante o banho de sol.

Por conta desse acirramento entre o PCM e o CCO, inclusive, desde o início de 2016, homens do Grupo de Escolta e Operações Penitenciárias (GEOP) são deslocados diariamente para o Centro de Detenção Provisória de Pedrinhas para fazer a guarda da unidade durante a noite e a madrugada, e, algumas vezes, no decorrer da semana, durante a manhã e tarde.

CCO

Segundo o advogado Antônio Luis Pedrosa, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a nova facção criminosa do Maranhão teria nascido após a exclusão de uma liderança do PCM, que seria "muito centralizado" e que "julga seus associados" num "tribunal do crime". Desligada da facção, essa liderança teria sido acompanhada por seus seguidores.

"É uma dissidência do PCM. O PCM é muito centralizado, ele julga seus associados. Uma liderança foi excluída e seus seguidores foram juntos. Eles [o PCM] têm o tribunal do crime, que julga os indisciplinados", revelou Pedrosa.

"Segurança particular"

Foram parte desses seguidores dessa liderança excluída do PCM, inclusive, que teriam arrombado e roubado objetos da creche-escola anexo da Unidade de Educação Básica (UEB) Barjonas Lobão, localizada no bairro Jardim América, no domingo 22.

Como além do PCM – e agora do CCO – o controle pelo tráfico de drogas na localidade é disputado ainda por uma outra facção, a Bonde dos 40, membros dessa facção rival chegaram a realizar uma visita à direção da unidade, na segunda-feira 23, para acertar um valor mensal em troca de "segurança particular". Responsável pelo rede municipal pública de ensino, o secretário Geraldo Castro Sobrinho declarou à direção da creche-escola que nada poderia fazer, e mandou fechar a unidade, deixando quase 400 crianças sem aula.

Embora Geraldo Castro tenha ficado calado ao ser questionado pela reportagem sobre o ocorrido, o arrombamento pelos dissidentes do PCM e a oferta de "vigilância 24 horas" por membros do Bonde dos 40 foi confirmado ao Atual7 pelo Tenente-Coronel Aritanã Lisboa do Rosário, comandante do 6º BPM, e responsável pelo Comando de Policiamento de Área Metropolitano II (CPAM 2), que cobre a área da Cidade Olímpica, Jardim América e bairros adjacentes. Ele afirmou que uma equipe de inteligência está "acompanhando e fazendo o levantamento do caso para encontrar uma solução mais rápida possível".

Bonde dos 40 se oferece para fazer a “segurança” de escola municipal de São Luís
Maranhão

Creche-escola fica no bairro do Jardim América. Secretário Geraldo Castro mandou fechar a unidade. Polícia apura o caso

A falta de vigilantes na rede pública de ensino de São Luís, de responsabilidade do comunista Geraldo Castro Sobrinho, titular da Secretaria Municipal de Educação (Semed) – em destaque na foto acima, provocou uma ação inusitada de uma das facções criminosas que controla parte do Complexo Penitenciário de Pedrinhas e do tráfico de drogas em dezenas de bairros da capital.

De acordo com relatos feitos ao Atual7 por pais e professores de alunos da creche-escola anexo da Unidade de Educação Básica (UEB) Barjonas Lobão, localizada no bairro Jardim América, integrantes do Bonde dos 40 fizeram uma visita – isto mesmo, uma visita – à unidade na segunda-feira 25, após tomarem conhecimento de que, um dia antes, dissidentes da facção rival Primeiro Comando do Maranhão (PCM) teriam arrombado e roubado objetos da escola, e se ofereceram para fazer a "segurança particular" da creche-escola.

Escalado como interlocutor do Bonde, um dos integrantes chegou ao local armado – poucos minutos após a polícia deixar o local – e pediu, educadamente, para falar com a direção da creche escola, e explicou que estava na unidade para acertar um valor mensal para vigiá-la, pelo período integral de 24 horas.

Afirmando que sabia de todos os passos da creche-escola, o integrante da facção criminosa ainda alertou que não adiantaria chamar a polícia, e exigiu um adiantamento pelo serviço, obrigando as professoras presentes e direção da escola a juntarem o que tinham nas bolsas e entregar tudo para ele, que prometeu ainda voltar ao local.

"Não adianta chamar ninguém, que a gente tá mais armado do que a polícia", alertou.

Assustadas, algumas professoras chegaram a ir até o prédio-sede da Semed, e relataram o ocorrido ao secretário Geraldo Castro, que apenas disse que nada poderia fazer, nem mesmo encaminhar um segurança particular para a unidade, pois o processo de pagamento das terceirizadas, que está em atraso de até seis meses, estaria "preso na Fazenda", e mandou fechar a creche-escola, deixando quase 400 crianças sem aula.

Procurado insistentemente pelo Atual7, o secretário Geraldo Castro não deu qualquer esclarecimento sobre o caso, confirmado pelo Tenente-Coronel Aritanã Lisboa do Rosário, comandante do 6º BPM, e responsável pelo Comando de Policiamento de Área Metropolitano II (CPAM 2), que cobre a área do Jardim América e bairros adjacentes.

De acordo com o TC Aritanã, uma equipe de inteligência está "acompanhando e fazendo o levantamento do caso para encontrar uma solução mais rápida possível".

Em dois meses, sete adolescentes foram vítimas de disputa entre facções no MA
Maranhão

Para o delegado Augusto Barros, as jovens se identificam com as transgressões do PCM e do Bonde dos 40, mas nem sempre chegam a atuar no tráfico de drogas

Carla Nascimento
Do Extra, do edição do Atual7

A história de uma adolescente de 17 anos, Milena Coelho do Nascimento, que teve o pescoço cortado na saída da escola localizada na divisa dos bairros Divineia e Olho D’Água, na Região Metropolitana de São Luís, revelou mais um capítulo gerado pela guerra entre as facções Primeiro Comando do Maranhão (PCM) e Bonde dos 40 na região. O caso aconteceu na quinta-feira 15, e é o mais recente de uma série de sete envolvendo jovens entre 14 e 19 anos nos últimos dois meses: quatro delas morreram e outras três foram espancadas em disputas entre facções rivais, como mostra levantamento da ONG Instituto Cidadania Ativa.

Segundo o presidente da ONG, Maurício Miguel, em todos os casos registrados houve conflito entre relacionamentos amorosos e regras de facções, que não permitem que moradores de uma determinada área dominada por um grupo se relacionem ou mesmo frequentem o espaço das outras.

MARANHÃO DE TODOS NÓSNa abandonada Cidade Olímpica, localizada na capital do Maranhão, uma gangue de garotas espancou...

Posted by Atual7 on Domingo, 30 de agosto de 2015

— A morte é a pena para quem se envolve com moradores de áreas dominadas por facções rivais. Os grupos criminosos não toleram, independente de os envolvidos estarem ligados diretamente com o tráfico para garantir que não tenham informações sobre seu funcionamento divulgadas — diz Miguel, que descreve como crescente o número de jovens ligados a grupos criminosos.

Procurando pela reportagem, o delegado Geral da Polícia Civil do Maranhão, Augusto Barros, afirmou que as adolescentes e jovens se identificam com transgressões de grupos criminosos, mas nem sempre chegam a atuar no tráfico de drogas, a principal atividade das facções criminosas:

— Muitas vezes essas agressões e mortes não são parte de um mandado de execução eles nao têm uma participação efetiva. Algumas vítimas têm, outras não estão envolvidas com o crime. Mas, de fato, há uma cultura, uma identidade com esses grupos, até mesmo pela convivencia aproximada desses jovens com bandidos. Nas escolas, muitos acabam usando símbolos e “bandeiras” por uma questão de identificação — alega Barros.

Miguel diz que a sensação de poder de estar ligado ao crime seduz jovens, ainda em formação, em situação de pobreza e falta de perspectiva.

— Namorar um membro de uma facção é uma maneira de conseguir ascensão social, ir a festas e usar uma roupa legal, por exemplo — explica.

Em setembro, o EXTRA repercutiu em uma reportagem um vídeo compartilhado pelo Atual7 sobre uma adolescente de 14 anos que foi espancada por um grupo de jovens na Cidade Olímpica por ter se envolvido com integrante de facção rival. Chocante, a gravação - que pode ser visualizada ao lado - mostra que membros da facção não mentiram que populares ajudassem a menina que estava sendo espancada. "Não saí parceiro, não te mente não. Ela é 40, c******", ameaçavam.