Falta de espaço na conjuntura nacional e desmoronamento da unidade estadual força Dino a buscar o Senado em 2022

Em xeque-mate, governador terá também de trabalhar por pacto em torno do nome de Carlos Brandão na sucessão ao Palácio dos Leões

A pouco mais de um dia do ano pré-eleitoral, o governador Flávio Dino (PCdoB) mostrou maturidade e reconheceu seu tamanho na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022. Apesar do uso imoderado de dinheiro público para se fazer conhecido e buscar ser respeitado como liderança política fora do Maranhão, Dino compreendeu que não ainda não ocupou espaço seguro e consolidado na conjuntura nacional, e desistiu, publicamente e pela primeira vez, da aventura de concorrer à Presidência da República no próximo pleito.

Conforme antecipou mais cedo o ATUAL7, o governador deu início à mudanças no primeiro escalão de seu secretariado com o objetivo de disputar a única vaga a que o Maranhão terá direito ao Senado Federal nas eleições de 2022. A decisão por concorrer à Câmara Alta, em Brasília, foi anunciada em entrevista à coluna Radar, de Veja, nessa quarta-feira 30.

“Minha decisão é disputar o Senado. A decisão visa colaborar na continuidade da implementação de políticas públicas no Maranhão. E contribuir com o campo progressista em âmbito nacional, atuando no Congresso”, afirmou Dino

Segundo Dino, para que ele pudesse tentar o Palácio do Planalto –provavelmente contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que, se até lá ainda estiver no cargo, deve tentar reeleição–, obrigatoriamente, deveria haver unidade na esquerda em torno de um único nome –que no caso seria o dele. Como não há nem haverá, para não acabar sem mandato eletivo, sobrou o Senado.

“Qualquer mudança de planos depende do principal: conseguirmos juntar forças em uma chapa para disputar e vencer a eleição presidencial de 2022. Jamais serei um fator de divisão, e sim de ajudar a convergências”, afirmou.

A nova estratégia de Dino, segundo fontes próximas ao comunista ouvidas reservadamente pelo ATUAL7, é seguir o mesmo caminho traçado por Aécio Neves (PSDB), à época em que o tucano cresceu nacionalmente como nome forte contra a então presidente Dilma Rousseff (PT). Com boa articulação em Brasília, Dino pretende usar o eventual mandato, caso eleito senador, para ser a principal voz da oposição no Congresso e, com isso, finalmente, conseguir fortalecer o seu nome no plano nacional. Em relação ao ex-presidente Lula (PT), único que, acredita Dino, poderia atrapalhar essa caminhada, a expectativa do comunista é que ocorra o mesmo que houve com Jackson Lago (já falecido), que perdeu a liderança de maior nome da oposição diante do cansaço da população, que encontrou nele, Dino, capacidade, influência e prominência para quebrar o ciclo de quem estava no poder.

A articulação construída em Brasília, desde a época em que era juiz federal e expandida quando exerceu o mandato de deputado federal, porém, não é mais a mesma no Maranhão, desmoronada por traições e derrota na disputa pela prefeitura de São Luís em 2020, outro motivo que levou Flávio Dino a desistir de disputar o Palácio do Planalto.

Como o grupo político que montou a partir da cooptação de integrantes históricos, e até novatos, da extinta oligarquia Sarney passou a tê-lo apenas como inquilino do Palácio dos Leões, e não mais como liderança política, Dino acredita que, entrando na vaga ao Senado, a eleição de uma chapa imbatível dependeria exclusivamente dele, e não do postulante a governador, como manda a tradição. Neste sentido, conforme declarou recentemente, os pré-candidatos de seu grupo político, em vez de se dividirem em outras chapas, acredita ele, teriam de estabelecer um pacto e ceder para o que estiver melhor viabilizado na sucessão ao Palácio dos Leões. Esse ungindo, ainda segundo fontes ouvidas pelo ATUAL7, caminha para ser o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos), não apenas por maior proximidade e confiança de Flávio Dino, que trabalha para ainda ter o controle do Estado durante eventual passagem pelo Senado, mas devido ao xeque-mate em que se colocou, já que, quando se desincompatibilizar no cargo em abril de 2022, dependerá de Brandão para continuar na vida pública.

Ainda na empreitada, ao PDT e PL, respectivamente, comandados pelo senador Weverton Rocha e pelo deputado federal Josimar Maranhãozinho, remanesceria a disputa pela vaga de vice.


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