Por reeleição, Carlos Brandão se alia a Roseana Sarney

Apoio foi oficializado na convenção do MDB. Partido controla a SINFRA, pasta que mais possui contratos com empreiteiras operadas por Eduardo DP e outros agiotas

Sem qualquer demonstração de constrangimento, o governador Carlos Brandão (PSB) recebeu nessa quinta-feira (21) o apoio explícito de Roseana Sarney na corrida pelo Palácio dos Leões. A união eleitoral e partidária, confirmada oficialmente durante a convenção estadual do MDB, tem como pano de fundo a tentativa de retorno e de permanência, respectivamente, da ex e do atual mandatário do Maranhão no poder.

“Nós estamos construindo uma grande aliança. Já são 11 partidos que estão ao nosso lado por entender que esse é o momento de que precisamos de um Maranhão avançando, com políticas públicas que cheguem realmente às pessoas”, disse Brandão ao lado de Roseana, fazendo em seguida referência ao período em que foi vice de Flávio Dino (PSB), agora pré-candidato ao Senado em sua chapa.

“O MDB tem Zé Sarney na nossa fileira”, lembrou a ex-governadora durante discurso comemorativo da aliança histórica, emendando que o partido, segundo ela, é a favor do emprego, da saúde, da educação e da infraestrutura. “Nós estamos aqui juntos por uma causa, e é a causa do Maranhão, única e exclusivamente”, jurou.

A ex-governadora liderava todas as pesquisas para o governo em 2022. Contudo, como também encabeçava a maior rejeição do eleitorado maranhense, para se livrar do que Dino em passado recente classificava como “síndrome de abstinência de dinheiro público, de privilégios”, decidiu disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, para onde tem mais chance de vitória nas urnas, agora oficialmente dividindo palanque com Carlos Brandão.

Além do partido de Roseana, também apoia a reeleição de Brandão o PP do ministro da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara, Arthur Lira, líder do bloco político conhecido como centrão, que tem como uma das principais características o fisiologismo e que controla o chamado orçamento secreto.

Antes mesmo da oficialização dessa quinta, na negociação em troca de apoio a Brandão, o MDB passou a mandar desde o início do novo governo na SINFRA (Secretaria de Estado da Infraestrutura), pasta que mais fechou contratos com empreiteiras, inclusive de fachada, controladas pelo novamente preso por fraudes, lavagem de dinheiro e desvios Eduardo DP ou operadas por outros agiotas. Já o PP, comandado no estado pelo deputado André Fufuca, virou dono do DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito) e a SAF (Secretaria de Estado da Agricultura Familiar).

Embora nas campanhas eleitorais de 2014 e 2018 tenha figurado apenas como vice, Brandão não se distancia de Flávio Dino, a quem chama repetidamente de líder, na forma contraditória de fazer política que faz o Maranhão ainda se deparar com uma realidade estigmatizante de extrema pobreza e corrupção.

No caso, por sobrevida politica, o ex-chefe do Executivo maranhense abandonou a polarização que o alçou ao poder, ajustou o discurso e hoje ele próprio é bajulador do ex-senador José Sarney (MDB) e também agora aliado do deputado estadual Adriano Sarney (PV), neto do patriarca e único membro do clã com mandato eletivo.

Antes de Brandão ficar fragilizado pelo avanço de seu principal adversário na disputa, o senador Weverton Rocha (PDT), e se ver obrigado a se unir publicamente à Roseana para tentar ser reeleito, seu atual líder e parceiro de chapa na vaga ao Senado recriminava a oligarquia Sarney. Foi como conseguiu criar esperança na população mais pobre do Brasil para sentar no Palácio dos Leões.

“Aposentadoria de Sarney pode acabar com regime de corrupção no Maranhão”, chegou a escrever Dino no UOL, quando ainda responsabilizava o clã pela miséria no estado, há oito anos.

Numa busca por espécie de imortalidade hereditária, Dino já havia tomado benção para Sarney para ser eleito à cadeira da Academia Maranhense de Letras deixada por seu pai, Sálvio Dino, vítima de Covid-19 em 2020.

Houve também um forte gesto que colaborou para a confirmação da aliança eleitoral: os cofres do Palácio dos Leões voltaram a ser escancarados para o chamado Grupo Mirante, conglomerado de comunicação pertencente a Roseana e ao irmão Fernando Sarney, filho mais velho do ex-senador e um dos articuladores do primeiro encontro de Flávio Dino com José Sarney após a mudança de discurso sobre a oligarquia, em meados de 2019.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *