CPI dos Contratos
Fora do Brasil, Antônio Calisto Neto tem depoimento adiado e esvazia CPI contra Braide
Política

Comissão tende a procurar novo foco de investigação sobre contratos suspeitos da prefeitura ou suspender a agenda de trabalho até depois das eleições

A CPI na Câmara Municipal de São Luís que investiga suspeitas de corrupção em contratos celebrados pela gestão Eduardo Braide (PSD) adiou o depoimento do empresário Antônio Calisto Vieira Neto, marcado inicialmente para a tarde desta sexta-feira (12).

O motivo, apurou o ATUAL7, é que empreiteiro está fora do Brasil, desde antes mesmo da oitiva ter sido aprovada pelos vereadores que integram a comissão parlamentar de inquérito.

A previsão agora é de que o depoimento ocorra no dia 18 de julho, presencialmente. Contudo, em razão da CPI ter decidido aprovar um convite para o depoimento, em vez de convocação, ele não é obrigado a comparecer.

Além disso, a Câmara entrará em recesso no mesmo dia em que o empresário retornará da Itália ao país, na próxima quarta-feira (17). No bastidor, a tendência é de que a comissão, esvaziada, procure um novo foco de trabalho ou suspensa a agenda até depois das eleições de 2024, em outubro.

Calisto é sócio-administrador da Construmaster Infraestrutura. O convite da CPI para ouvi-lo tem como objetivo esclarecer denúncias relacionadas a uma concorrência da Semosp (Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos), estimada em R$ 210 milhões, para a prestação de serviços de manutenção, conservação e modernização de vias na capital.

Ao Ministério Público e TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Maranhão, ele apontou suspeitas de irregularidades no certame, mas os processos foram arquivados pelos dois órgãos, sob o argumento de ausência de provas.

CPI dos Contratos

A CPI foi instalada pela Câmara de São Luís em maio deste ano, seis meses depois de haver sido autorizada a funcionar, e tem como foco principal contratos celebrados pela prefeitura sob dispensa de licitação nos últimos quatro anos. Sem um plano de trabalho elaborado, a comissão tem funcionado sem transparência e enfrentado atrasos na coleta de provas, dificuldades em ouvir testemunhas e críticas da sociedade.

Pelo regimento interno da Casa, como autor do requerimento para criação da CPI, o vereador Beto Castro (PMB) deveria presidir a comissão. Contudo, o parlamentar pediu licença do mandato, e o escolhido para o comando do colegiado foi o vereador Álvaro Pires (PSB).

Dos seis vereadores integrantes da CPI, cinco são titulares: Pavão Filho (vice-presidente, PDT), Astro de Ogum (relator, PCdoB), Daniel Oliveira (PSD) e Ribeiro Neto (PSB), além de Pires. Único suplente, o vereador Thyago Freitas (PRD) participa da comissão, mas não têm direito a voto.

Ministério Público arquivou sem investigar denúncias sobre propina contra Braide
Política

Promotor Zanony Passos Filho alegou perda de objeto após Câmara instaurar CPI para apurar suspeitas de irregularidades em contratos da gestão municipal

O Ministério Público do Maranhão encerrou, sem realizar nenhuma investigação, uma notícia de fato aberta contra o prefeito Eduardo Braide (PSD) com base em relatos do presidente da Câmara de São Luís, Paulo Victor (PSB), sobre propina –suposto crime que, se confirmado, poderia ser enquadrado como corrupção passiva, segundo o Código Penal, com pena prevista de 2 a 12 anos, mais multa.

A apuração preliminar foi instaurada em novembro do ano passado pelo promotor Zanony Passos Filho, da 35ª Procuradoria de Justiça Especializada na Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa, mas arquivada pouco dias depois.

Segundo Zanony Passos, a investigação no âmbito do Ministério Público teria perdido o objeto em razão da Câmara ter aprovado a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar suspeitas de irregularidades em contratos celebrados pela gestão municipal, principalmente sob dispensa de licitação.

“Sucede, todavia, consoante se infere do sítio oficial da Câmara Municipal de São Luís, na data de hoje a Mesa Diretora acolheu o pedido para instauração da ‘CPI dos contratos em caráter emergencial da gestão do prefeito Eduardo Braide’, o que, por imperativo constitucional, determina a perda do objeto desta notícia de fato, ex vi do disposto no art. 58, §3º da Constituição Federal c/c o art. 4º, I da Resolução nº 174 do CNMP”, diz trecho do despacho.

“Com efeito, atento ao fato de que somente ao término dos trabalhos da CPI, que detém poderes de investigação análogos das autoridades judiciais, é que o relatório final será encaminhado para o Ministério Público, os preceptivos mencionados recomendam, no tempo atual, o arquivamento em referência, sem que da instauração surtam quaisquer efeitos de prevenção quanto a matéria e/ou seu objeto, ausentes na espécie”, concluiu o promotor de Justiça, ao promover o arquivamento do caso.

De acordo com as declarações de Paulo Victor, utilizadas pelo MP-MA para a notícia de fato que acabou arquivada sem qualquer apuração, a CPI na Câmara mostraria, dentre outros escândalos, que o suposto esquema de corrupção na gestão municipal teria a participação direta de familiares do chefe do Executivo municipal.

“Hoje Eduardo Braide se acha acima do bem e do mal. Sussurra entre os corredores [dos Poderes] que [o prefeito] tem o Judiciário ao lado dele, mas em breve eu subirei a esta tribuna e mostrarei quem é Eduardo Braide. Essa CPI mostrará, de fato, a quadrilha que é formada dentro dessa prefeitura, composta, inclusive, por parentes dele. Chamaremos aqui irmãos, que recebem em mãos de construtoras, irmãos do prefeito”, revelou o parlamentar.

Apesar das graves suspeitas apontadas pelo presidente da Câmara de São Luís, a comissão parlamentar de inquérito começou a funcionar, de fato, apenas seis meses depois dos relatos da suposta corrupção, sem plano de trabalho nem transparência, e sem qualquer aprofundamento a respeito do caso.

No último dia 29, uma publicação na rede social X (antigo Twitter), atribuída ao sócio-administrador da Construmaster Infraestrutura, Antônio Calisto Vieira Neto, trouxe o assunto novamente à tona.

Sem apresentar detalhes nem provas, o perfil denunciou um suposto esquema de corrupção na gestão Eduardo Braide e acusou o prefeito da capital e o titular da Semosp (Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos), David Col Debella, de extorsão.

A publicação acabou sendo excluída cerca de 24h depois. Contudo, a repercussão levou a CPI na Câmara a convidar o empreiteiro para prestar depoimento na próxima sexta-feira (12).

Oficialmente, porém, segundo solicitação apresentada por Paulo Victor, a oitiva será para esclarecer supostas irregularidades denunciadas pelo Construmaster em uma concorrência pública da Semosp, estimada em quase R$ 210 milhões. Conforme mostrou o ATUAL7, esse caso também foi arquivado pelo Ministério Público, após investigação relâmpago, sob a alegação de ausência de provas.

Denúncias que CPI da Câmara de São Luís propõe investigar foram arquivadas pelo MP e TCE
Política

Órgãos de investigação e controle concluíram que Construmaster não conseguiu comprovar as irregularidades apontadas. Caso também foi analisado pelo Judiciário maranhense, que negou mandado de segurança e extinguiu o processo sem resolução do mérito

A CPI na Câmara Municipal de São Luís que investiga suspeitas de corrupção na gestão Eduardo Braide (PSB) pretende ouvir o empresário Antônio Calisto Vieira Neto, sócio-administrador da Construmaster Infraestrutura. O depoimento na comissão parlamentar de inquérito está marcado para a próxima sexta-feira (12).

O objetivo é esclarecer denúncias feitas pelo empreiteiro ao presidente da Casa, Paulo Victor (PSB), sobre uma concorrência da gestão Eduardo Braide (PSD) para registro de preços, estimada em quase R$ 210 milhões, para a prestação de serviços de manutenção, conservação e modernização de vias na capital.

Divulgadas pelo vereador, as denúncias também foram feitas pela Construmaster ao Ministério Público e ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Maranhão, e miram o próprio Braide, além do titular da Semosp (Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos), David Col Debella, e do, à época, chefe da CPL (Comissão Permanente de Licitação) da Prefeitura de São Luís, Washington Viegas. Tanto o MP-MA quanto o TCE-MA, porém, arquivaram as representações, alegando ausência de provas sobre as irregularidades apontadas pela empreiteira.

No âmbito do Ministério Público, a apuração tramitou na 35ª Procuradoria de Justiça Especializada na Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa, sendo arquivada pouco mais de um mês depois de apresentada, em junho do ano passado. A investigação no órgão foi comandada pelo promotor Zanony Passos Silva Filho, atualmente afastado do cargo por determinação do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), em processo administrativo disciplinar em que ele próprio é suspeito de práticas de improbidade administrativa e de crimes contra a Administra Pública.

“Finda a instrução, após larga produção probatória, inexiste comprovação de ato de improbidade administrativa por parte de qualquer agente público. Os documentos apresentados pela Semosp, CPL e empresas envolvidas na concorrência pública, corroboram esse entendimento na medida em que a Administração Pública, dentro do poder discricionário, revogou o processo licitatório”, diz trecho do despacho de arquivamento pelo MP-MA.

No TCE-MA, a decisão pelo arquivamento foi tomada há cerca de duas semanas, com indeferimento de medida cautelar para suspender a concorrência. O voto do relator, Caldas Furtado, foi acompanhado pela unanimidade dos demais conselheiros e seguiu sugestão de auditores do tribunal e parecer do Ministério Público que atua junto à corte de Contas.

“Em verdade, além de não restar configurada nenhuma irregularidade na Concorrência SRP nº 001/2023/SEMOSP, ela foi corretamente revogada, visto que os erros verificados na utilização de casas decimais nas fórmulas da Planilha Orçamentária de referência do certame podem ter efetivamente prejudicado a elaboração das propostas. Assim, considerando que não há configuração de ato de improbidade administrativa ou de dano ao erário do Município de São Luís, ratifico que houve a perda do objeto com a revogação da licitação em questão, resultando no arquivamento dos autos”, pontou Caldas no voto.

O caso foi analisado também pelo Poder Judiciário maranhense, que negou um mandado de segurança impetrado pela Construmaster, e extinguiu o processo sem resolução do mérito. A decisão foi proferida em dezembro do ano passado pelo juiz auxiliar da 1ª da Fazenda Pública de São Luís, Cristiano Simas de Sousa.

A concorrência apontada pela Construmaster como suspeita, e agora alvo da CPI na Câmara, foi revogada pela gestão Eduardo Braide em julho de 2023, durante o julgamento de recursos das propostas apresentadas pelas concorrentes, sob alegação de divergências nas planilhas orçamentárias anexadas pela própria prefeitura ao edital. Também participaram da licitação, com valores acima do apresentado pela Construmaster, as construtoras Lucena Infraestrutura e Edeconsil Construções e Locações –essa última havia apresentado o maior preço na concorrência revogada, e teve um contrato de objeto semelhante aditado pela prefeitura poucos dias depois.

O ATUAL7 questionou as três empreiteiras, via e-mail, a respeito de detalhes da concorrência e de eventual colaboração com as investigações da comissão instaurada pela Câmara, mas não obteve resposta. A gestão Eduardo Braide também não retornou o contato.

Em notas divulgadas pela página Direito em Ordem no Instagram, do advogado Alex Borralho, a Construmaster, do empresário Antônio Calisto Neto, informou que as suspeitas na concorrência foram levadas ao conhecimento do Ministério Público, Tribunal de Contas e Tribunal de Justiça, mas omitiu sobre o arquivamento do caso por todos.

Apesar dos órgãos de investigação e controle terem alegado ausência de provas para arquivarem as denúncias, por meio de apuração própria, que inclui poder para aplicação de medidas como quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico, a CPI dos Contratos pode reunir elementos que contribuam para uma eventual responsabilização daqueles que praticarem atos ilícitos.

A CPI foi instalada pela Câmara de São Luís em maio deste ano, seis meses depois de haver sido autorizada a funcionar, e tem como foco principal contratos celebrados pela prefeitura sob dispensa de licitação nos últimos quatro anos. Sem um plano de trabalho elaborado, a comissão tem funcionado sem transparência e enfrentado atrasos na coleta de provas, dificuldades em ouvir testemunhas e críticas da sociedade.

Pelo regimento interno da Casa, como autor do requerimento para criação da CPI, o vereador Beto Castro (PMB) deveria presidir a comissão. Contudo, o parlamentar pediu licença do mandato, e o escolhido para o comando do colegiado foi o vereador Álvaro Pires (PSB).

Dos seis vereadores integrantes da CPI, cinco são titulares: Pavão Filho (vice-presidente, PDT), Astro de Ogum (relator, PCdoB), Daniel Oliveira (PSD) e Ribeiro Neto (PSB), além de Pires. Único suplente, o vereador Thyago Freitas (PRD) participa da comissão, mas não têm direito a voto.

Fotos: Leonardo Mendonça / Câmara Municipal de São Luís

Câmara de São Luís instala CPI dos Contratos com seis meses de atraso e sem plano de trabalho
Política

Desorganização e falta de diretrizes marcam início da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga suspeitas de corrupção na gestão Eduardo Braide

Instalada em maio pela Câmara Municipal de São Luís para investigar suspeitas de corrupção na gestão Eduardo Braide (PSD), a CPI dos Contratos iniciou os trabalhos cerca de seis meses depois de criada e, ainda assim, sem plano de trabalho.

Conforme mostrou o ATUAL7, a Comissão Parlamentar de Inquérito foi autorizada em novembro de 2023, tendo como foco principal contratos celebrados sob dispensa de licitação pela gestão municipal. Apenas há duas semanas, porém, em ano eleitoral, os trabalhos foram iniciados.

Embora tenha o prazo de apenas 90 dias para conclusão e apresentação de relatório, a CPI ainda não estabeleceu qualquer diretriz para orientar as etapas da investigação, realizou apenas duas reuniões de trabalho até o momento, e não possui data definida para as próximas.

A primeira ocorreu no último dia 23, quando a comissão foi instalada, sem a divulgação de detalhes sobre as discussões ocorridas na data, e a mais recente, no dia 29, para depoimento do ex-presidente da Central Permanente de Licitação (CPL) de São Luís, Washington Ribeiro Viêgas Neto, como convidado.

Pelo regimento interno da Casa, como autor do requerimento para criação da CPI, o vereador Beto Castro (PMB) deveria presidir a comissão. Contudo, o vereador pediu licença do mandato no período de inércia do Legislativo municipal, cabendo ao vereador Álvaro Pires (PSB), por escolha dos demais parlamentares do colegiado, o comando da comissão.

Dos seis vereadores integrantes, cinco são titulares da CPI: Pavão Filho (vice-presidente, PDT), Astro de Ogum (relator, PCdoB), Daniel Oliveira (PSD) e Ribeiro Neto (PSB), além de Pires. Único suplente, o vereador Thyago Freitas (PRD) participa da comissão, mas não têm direito a voto.

As Comissões Parlamentares de Inquérito têm um papel fundamental na investigação de possíveis irregularidades na administração pública, atuando como instrumentos de fiscalização e controle pelo Legislativo. Embora a elaboração de um plano de trabalho não seja uma obrigação legal aos colegiados, a adoção é uma prática comum e recomendada para garantir a organização e eficiência dos trabalhos de uma CPI, assegurando que todos os membros estejam alinhados quanto aos objetivos e métodos da investigação, e garantindo a transparência e a prestação de contas dos trabalhos realizados.

Na prática, a ausência desse documento pode comprometer a efetividade da investigação, levando a uma condução desorganizada e, possivelmente, ineficaz da comissão, além de atrasos na coleta de provas e dificuldades em convocar testemunhas e formular perguntas relevantes durante as oitivas.

Essa desordem foi observada pelo próprio relator da CPI dos Contratos, Astro de Ogum, durante a oitiva do ex-chefe da CPL de São Luís. Segundo ele, a comissão sequer tem conhecimento das questões ou problemas específicos que serão investigados.

“Antes ter começado esse trabalho, a gente teria de estar municiado melhor, ter reuniões antecipadas, pois essa [reunião para ouvir Washington Viêgas] foi [agendada] muito rápida, e eu não estou me sentindo à vontade para estar aqui no papel de relator, principalmente porque os elementos que a gente necessita não estão aqui”, criticou.

A desorganização da CPI não se resume aos integrantes da comissão, e segue o padrão do próprio comando da Câmara.

Em maio, dois dias após anunciar a composição do colegiado –e de forma incompleta, com um integrante a menos do que o obrigatório–, o presidente da Câmara, vereador Paulo Victor (PSB), desfez tudo, e estabeleceu outra, finalmente completa, em parte com novos vereadores. Para amenizar a desordem, alegou em publicação no Diário Oficial que os primeiros indicados não teriam se reunido.

Todos os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito foram procurados pelo ATUAL7 por mensagem privada.

Álvaro Pires não soube responder sobre a ausência do plano de trabalho. Segundo ele, os vereadores estariam “tentando colocar a CPI para funcionar” por meio de solicitações à Prefeitura de São Luís e órgãos de controle e fiscalização, para auxílio nos trabalhos. Já Pavão Filho alegou que a comissão está inicialmente trabalhando com uma logística programada, mas sem detalhar qual.

Astro de Ogum, Daniel Oliveira, Thyago Freitas e Ribeiro Neto não retornaram a tentativa de contato do ATUAL7. Também não respondeu o presidente da Câmara de São Luís, Paulo Victor.

Fotos: Leonardo Mendonça / Câmara Municipal de São Luís