Pirâmide Financeira
Justiça Federal aceita denúncia, e Abdon Murad Júnior e Francisco Duailibe viram réus
Cotidiano

Suposta pirâmide financeira teria causado prejuízo de cerca de um bilhão de reais, e lesado até desembargadores do Tribunal de Justiça do Maranhão

A Justiça Federal do Maranhão aceitou denúncia e abriu ação penal contra Abdon José Murad Júnior e Francisco José Rodrigues Duailibe, transformando-os em réus.

A decisão é do juiz federal Régis Bonfim, que concluiu serem suficientes os indícios de que os empresários teriam captado recursos de investidores e atuado em atividade que se equiparava à instituição financeira sem a devida autorização do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários.

“Desta feita, a narrativa ministerial e o conjunto informativo, embora ainda sujeitos ao crivo do contraditório jurisdicional, são de consistência suficiente a caracterizar justa causa penal e ao juízo positivo de recebimento de denúncia, na forma do art. 41 c/c art. 396, ambos CPP”, escreveu.

Abdon Murad Júnior e Francisco Duailibe foram formalmente acusados de crime contra o sistema financeiro nacional –com pena máxima de quatro anos de reclusão, e multa.

Apontado pelo Ministério Público Federal como cabeça do suposto esquema fraudulento de pirâmide financeira, Murad, um dos cirurgiões bariátricos mais conceituados do Maranhão, também virou réu por falsidade ideológica –com pena máxima de três anos quando relacionada à inserção de informações ideologicamente falsas em documentos particulares, e multa.

Já Duailibe, conhecido corretor de imóveis de luxo na capital, teria atuado como espécie de agenciador, supostamente auxiliando “na captação de potenciais vítimas”. Segundo o MPF, pelo suposto recrutamento, entre junho de 2018 e fevereiro de 2019, teria recebido por meio de suas empresas mais de R$ 5 milhões em transferências a partir das contas de Abdon Murad Júnior.

A denúncia foi recebida na íntegra em 18 de outubro, e tem por base termos de declaração de pelo menos quatro vítimas, além de outros elementos de prova colhidos pela Polícia Federal. O processo está sob segredo de justiça.

O ATUAL7 procurou Abdon Murad Júnior e Francisco Duailibe, por mensagem, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.

Em 2020, Abdon Murad Júnior chegou a ser alvo de busca e apreensão no bojo da Operação Ramsés, e de monitoramento por tornozeleira eletrônica, com base em investigações da Polícia Civil do Maranhão que apuram o mesmo esquema. Contudo, para que a apuração possa prosseguir no âmbito estadual, o caso é apurado até hoje como crime de estelionato.

Segundo as investigações, o suposto esquema captava valores de terceiros com a promessa de investimentos com rendimentos muito acima do mercado. Sem lastro financeiro para sustentar a prática, a suposta pirâmide teria causado prejuízo de cerca de um bilhão de reais.

Além de empresários, médicos, servidores públicos e advogados, a suposta fraude também teria recebido investimentos e lesado agiotas, promotores, delegados, juízes e até de desembargadores do Tribunal de Justiça do Maranhão.

Em outubro de 2019, a CGJ (Corregedoria-Geral de Justiça) do Maranhão, então sob comando do desembargador Marcelo Carvalho, chegou a abrir uma sindicância para apurar a possível responsabilidade funcional nos âmbitos administrativo e penal de magistrados de primeira instância. O resultado da apuração interna, porém, não foi tornado público até o momento.

Suspeitos de comandar pirâmide financeira vão depor nesta terça em sindicância
Cotidiano

Procedimento foi instaurado pelo corregedor-geral de Justiça, desembargador Marcelo Carvalho. Delegacia de Defraudações também investiga o caso

Está marcada para esta terça-feira 29, no Fórum Desembargador Sarney Costa, a oitiva do médico Abdon Murad Júnior, proprietário da Abdon Murad Júnior Participações e Empreendimentos Imobiliários e do fundo AMJ Participações, e Pedro Henrique Souza de Sampaio, dono da PH Participações e Serviços, em sindicância instaurada no âmbito da CGJ (Corregedoria-Geral de Justiça), há cerca de duas semanas.

Suspeitos de comandar esquema milionário de pirâmide financeira no Maranhão, eles vão responder sobre a suposta participação de juízes de primeira instância na pirâmide, também investigada em apuração já avançada na Polícia Civil, por meio da Delegacia de Defraudações.

A tomada dos depoimentos foi determinada pelo corregedor-geral de Justiça, desembargador Marcelo Carvalho, após publicação no blog do Neto Ferreira relatar que o proprietário da PH Participações e Serviços afirmou em inquérito policial que os juízes —além de promotores e desembargadores— teriam investido no suposto esquema criado por Abdon Marinho Júnior.

De acordo com a portaria de instauração da sindicância, os suspeitos serão ouvidos na sala da CGJ que fica no Fórum, a partir das 16 horas, pelo próprio Marcelo Carvalho ou pelo juiz auxiliar Raimundo Moraes Bogéa.

O presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão, desembargador Joaquim Figueiredo; o procurador-geral de Justiça, Luiz Gonzaga Martins Coelho; e o procurador-geral da República, Augusto Aras, foram notificados a respeito da abertura da sindicância, prevista para ser concluída até o início da segunda quinzena de dezembro deste ano.

Plano político de esquema de pirâmide financeira tem apoio de Josimar Maranhãozinho
Política

Em rede social, deputado publicou sobre reunião com pai e irmão de Rony Cardoso, apontado pela Polícia Civil como integrante da quadrilha. Objetivo é ganhar eleição para prefeitura de São João do Carú em 2020

A Polícia Civil do Maranhão descobriu, no bojo da investigação que resultou na megaoperação deflagrada mais cedo contra um esquema milionário de pirâmide financeira, que a quadrilha planejava se fortalecer politicamente no estado, com o lançamento de candidaturas a cargos eletivos, com a finalidade de se beneficiar financeiramente e dar respaldo e imunidade à quadrilha.

Segundo publicações feitas pelo deputado Josimar Maranhãozinho (PL) em sua página pessoal no Facebook, pelo menos uma dessas ramificações conta com o forte apoio e força dele próprio e de seu grupo político.

Trata-se da pré-candidatura para 2020 do agropecuarista Bruno Cardoso, o Peteca, a prefeito de São João do Carú, município localizado na Região Oeste do Maranhão, onde a maior parte da população vive em condições de pobreza extrema, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Peteca é irmão do empresário promotor de eventos no Maranhão, Rony Cardoso, preso na ação policial sob suspeita de integrar o esquema de pirâmide financeira que, no período de dois anos, de acordo com relatórios de Inteligência Financeira do Coaf (Conselho de Controle de Atividade Financeira), movimentou quase R$ 50 milhões.

Na rede social, segundo a publicação feita por Josimar, ele teria recebido a visita de Peteca e de seu genitor, Mizael Cardoso. “Recebi a visita do pré-candidato a prefeito de São João do Carú, Peteca, que estava acompanhado do seu pai Mizael. Peteca é irmão do empresário e promotor de eventos Rony Cardoso. Peteca abraça o nosso projeto político, e vem somar forças. Seja bem-vindo e estamos prontos para ajudar e trabalhar pelo bem dos municípios maranhenses”, publicou.

Procurado pelo ATUAL7, Josimar Maranhãozinho confirmou o fechamento de acordo político em apoio ao irmão de Rony Cardoso. O parlamentar garantiu, no entanto, desconhecer que a pré-candidatura de Peteca fizesse parte de algum esquema e, também, sobre as suspeitas que pesam contra o promotor de eventos.

“Não é o meu dever investigar as pessoas e empresas, para isso temos os órgãos responsáveis que com certeza fará os que forem responsáveis pagarem”, disse.

Polícia Civil do MA deflagra operação contra quadrilha milionária de pirâmide financeira
Cotidiano

Esquema movimentou R$ 50 milhões, no período de dois anos. Seis mandados de prisão e 36 de busca e apreensão estão sendo cumpridos no Maranhão, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo

A Polícia Civil do Maranhão deflagou, na manhã desta quinta-feira 10, megaoperação para desbaratar quadrilha milionária de pirâmide financeira suspeita de crimes de estelionato, contra a ordem econômica e das relações de consumo e lavagem de dinheiro.

A ação está sendo conduzida conjuntamente pela Superintendência maranhense de Polícia Civil do Interior, com apoio da Superintendência de Polícia Civil da Capital, e pelo DGCOR-LD (Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro) da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Também há participação da Coordenadoria de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do Distrito Federal e da Polícia Civil de São Paulo.

Estão sendo cumpridos seis mandados de prisão temporária e 36 de busca e apreensão no Maranhão, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo.

Também estão sendo sequestrados bens e contas bancárias - físicas e jurídicas - no valor aproximado de R$ 50 milhões. O valor corresponde ao movimentado pela quadrilha, no período de dois anos, segundo relatórios de Inteligência Financeira do Coaf (Conselho de Controle de Atividade Financeira).

A investigação apura o envolvimento dos empresários Roniel Cardoso dos Santos, Gabriel Almeida Piquet de Oliveira, Luciene Assunção Silva e Luana Cardoso e outros sete acusados de estelionato e lavagem de dinheiro. O crime consistia em captar servidores públicos e outras vítimas para que estes fizessem empréstimos consignados e aplicassem o valor em investimentos fictícios, com ganhos vultuosos e incompatíveis com a realidade do mercado.

A quadrilha pagava às vítimas pequenos lucros do suposto investimento nos primeiros meses, mas depois os lesava sem devolver todo o montante aplicado. Para atrair clientes, o grupo exibia suas empresas em redes sociais os atraía com ofertas de aplicações sedutoras.

Segundo as investigações, o grupo planejava se fortalecer politicamente no Maranhão, onde tinha ramificações com o lançamento de candidaturas a cargos eletivos, com a finalidade de se beneficiar financeiramente e dar respaldo e imunidade à quadrilha.