Mensagens mostram suposto poder de Duarte sobre milícia virtual e rede de fakes
Política

Mensagens mostram suposto poder de Duarte sobre milícia virtual e rede de fakes

Diálogos sugerem também assédio moral, homofobia e gordofobia. Parlamentar nega veracidade de conteúdos

Áudios atribuídos ao deputado estadual e pré-candidato a prefeito de São Luís Duarte Júnior (Republicanos), além de supostos prints de grupos no aplicativo Telegram, mostram o parlamentar exercendo poder sobre possível milícia virtual que seria integrada por diversos servidores do Procon (Instituto de Promoção e Defesa do Cidadão e Consumidor) do Maranhão, autarquia que comandou por quase todo o primeiro governo de Flávio Dino (PCdoB).

Compartilhados em grupos de WhatsApp, os diálogos apontam que esses servidores, sob comando de Duarte Júnior, teriam criado uma rede de perfis fakes nas redes sociais para atacar quem ousasse criticar o ex-chefe, à época pré-candidato ao Parlamento estadual.

Procurado pelo ATUAL7 ao longo da semana passada por e-mail, telefone e em seu gabinete na Assembleia Legislativa, o deputado não retornou a nenhuma das várias tentativas de contato. Na noite desse domingo 1º, após ampla repercussão negativa nas redes sociais sobre os diálogos, ele se posicionou. Segundo argumentou, após um longo apelo populista, os “conteúdos são completamente manipulados e falsos”. Questionado, no Twitter, sobre as alegadas manipulação e falsidade das mensagens, atacou o signatário deste texto, fugindo do assunto e falando sobre remuneração por publicações. Prontamente respondido, silenciou novamente.

Nos áudios atribuídos a Duarte Júnior, em grande parte, há ordem para uso de perfil pessoal e outros perfis —possivelmente fakes— nas redes sociais, uma possível milícia virtual. Publicações que desagradassem ao então pré-candidato a deputado estadual deveriam ser rebatidas por todos os participantes dos supostos grupos de Telegram, todos com servidores do Procon entre os participantes.

“Pessoal, já fazem duas horas que saiu essa postagem aí no Imirante. Eu peço que todos vocês, absolutamente todos vocês, comentem com aquele discurso lá que a gente combinou: que é perseguição... [Comentem] com as redes de vocês, com outras contas que por ventura vocês tenham. Comentem, assim que olharem essa mensagem, falando que é uma perseguição; que não adianta bat... perseguir; que o Duarte Júnior e o governador Flávio Dino que vão ganhar a eleições; que tá comigo; tô com Duarte, hashtag tô com Duarte! Bate nessas hashtags tô com Duarte… Que isso é perseguição dos Sarney; e não sei o que, e tudo mais... Aquele mesmo discurso que eu falei”, teria ordenado.

Em possível resposta à fala do então pré-candidato à Assembleia, suposta participante do grupo no Telegram orienta: “Pessoal, só tomem cuidado quando forem responder. Lembrem que vocês são servidores públicos, no caso de usarem suas contas, certo? Se vocês quiserem ser mais incisivos, vocês podem usar os fakes de vocês”, recomenda.

Em outros áudios atribuídos a Duarte Júnior, aparentando desequilíbrio emocional, há uma série de humilhações a possíveis servidores e prestadores de serviços do Procon. Sobre essa situação, embora o parlamentar negue a veracidade, em caso de perícia nos áudios, se confirmada a voz como do próprio Duarte Júnior, as declarações podem caracterizar assédio moral.

“Eu mandei faz mil anos tirar a porra da cena que eu tô na unidade [do Procon], cumprimentando servidor. Agora tu, Thiago, fica leso aí e não presta atenção no que eu falo. Eu ia postar essa bosta agora. Altera essa cocota aí cacete. Por favor. Porra!”, teria dito.

“Rapaz isso aí só pode ser hidrocefalia ou falta de massa cinzenta na cabeça, rapaz. Um negócio desse é loucura. Isso não existe! A pessoa tá de licença, tá morta ou tá de férias, muda o sistema, pelo amor de Deus. Caíssa, pega o telefone, liga agora para Desla, passa um sabão nessa mulher antes que eu me irrite bem aqui, porque eu tô trabalhando, eu tenho que tá com quarenta coisas ao mesmo tempo. Isso não existe, isso é loucura! Porque essa mulher não me mudou esse sistema rapaz!?”, teria dito, em outro áudio.

Possivelmente sobre essa mesma situação, em outro áudio que lhe é atribuído, com raiva, Duarte Júnior ameaça querer o aparelho telefônico.

“Rapaz, a mulher não consegue enxergar que o problema tá no fato do atendimento no momento, no dia, na semana, não estar funcionando até as 19 horas. Se não está funcionando até as 19 horas, o agendamento na droga do aplicativo do site não pode tá liberado para esse horário. Isso é loucura rapaz! Alguém resolve isso aí. Caíssa resolve isso, aí antes que eu quebre esse celular bem aqui”, teria ameaçado.

Um dos áudios revela, também, possível homofobia por parte do ex-presidente do Procon. Nele, ao comentar sobre resposta dada a um usuário do Twitter que, insistentemente, apontava descaso da Caema em Imperatriz e cobrava por uma ação da autarquia, Duarte Júnior, segundo a gravação, fala em tom de insulto e desprezo sobre suposta oriental sexual do consumidor que buscava pela garantia de seus direitos.

“Mandei uma resposta finalmente para esse Josué Carneiro que fica, ‘não sei o que Caema, não sei o que Caema, não sei o que Caema’: ‘meu amigo, seria interessante você falar diretamente com o presidente da Caema’, Porra, seu viado safado!”, teria declarado.

Nos diálogos há, também, diversos prints de supostos grupos no aplicativo Telegram.

Em um deles, há comentários atribuídos ao próprio Duarte Júnior, ordenando expressamente o uso de perfis fakes para atacar quem fazia críticas a ele nas redes sociais —reforçando a existência de uma militância virtual que seria comandada pelo ex-presidente do Procon.

Em outros, a ordem, segundo os prints, vem de Karen Barros, para que os supostos servidores do Procon atacassem o blogueiro Wallace Braga, por ter ele feito uma publicação consumerista no Instagram, em que marcou e fez cobranças por atuação de Duarte Júnior no caso. Graves, os supostos comentários podem ser enquadrados como gordofobia, pois há uma combinação entre os participantes do suposto grupo para atacar o blogueiro de forma preconceituosa.

Procurada, insistentemente, pelo ATUAL7, por meio de e-mails enviados à comunicação da Seduc (Secretaria de Estado da Educação), onde atua como secretária-adjunta de Projetos Especiais desde que perdeu o comando do Procon, Karen Barros seguiu o silêncio do noivo e não retornou as tentativas de contato.

O próprio Procon também não respondeu a nenhum dos questionamentos feitos por e-mail, ao longo da semana passada, sobre o suposto envolvimento de seus servidores.

A criação e uso de perfis falsos na internet para caluniar e intimidar ou causar dano a outrem, além de falsidade ideológica, é crime. Embora ainda não exista uma lei que trata de gordofobia, como a recém-criada sobre homofobia, em tese, injúria contra pessoas por serem gordas pode ser enquadrado como crime contra a honra, caso a pessoa se sinta ofendida.

Em todos esses casos, a pena é de prisão.



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