Ana Cristina Ayres Diniz
Política

Esta é a segunda vez que uma autoridade usa da influência do cargo para tentar acessos ao autos da operação da Polícia Federal

A juíza Luzia Madeiro Neponucena, titular da 1ª Vara da Fazenda Pública de São Luís, encaminhou, na quarta-feira 2, documento à Presidência do Tribunal de Justiça do Maranhão e à Corregedoria Geral de Justiça, solicitando providências no sentido de ter acesso às apurações do inquérito relacionado à Operação Sermão aos Peixes, da Polícia Federal, que apura supostos desvios de recursos da Secretaria de Estado da Saúde (SES) entre os anos de 2004 ao de 2015. No documento, a magistrada solicita também segurança pessoal e que o caso seja comunicado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Luzia Madeiro Neponucena quer ainda a apuração dos fatos e segurança pessoal
Divulgação Sermão aos Peixes Luzia Madeiro Neponucena quer ainda a apuração dos fatos e segurança pessoal

Em trechos do relatório da PF, dentre outros fatos já apurados no inquérito, é detalhado que um major da Policia Militar teria sido escalado para levantar informações sobre a magistrada.

A Polícia Federal aponta que um dos motivos teria sido uma decisão judicial em que Neponucena suspendeu a determinação que obrigava o Estado do Maranhão a pagar precatório de R$ 134 milhões à empresa UTC/Constran, investigado na Operação Lava Jato. Ela também é autora da decisão de suspender a cessão do Hospital Carlos Macieira para SES.

No documento encaminhado ao TJ-MA e a CGJ, a juíza afirma se sentir ameaçada e que estas supostas ameaças tornam vulneráveis a sua segurança e a integridade física pessoal, como também suas garantias jurisdicionais, violando o Estado de Direito, contemplado na Constituição Federal. Luzia Neponucena argumenta ainda que quer que ocorra a completa apuração dos fatos e a responsabilização do policial militar e do suposto mandante do levantamento de informações de sua vida.

Sigilosa

Essa é a segunda vez que uma autoridade tenta da influência do cargo para ter acesso aos autos da investigação da Polícia Federal, que tem negado prestar esclarecimentos à imprensa também sobre informações contidas no relatório relacionado à Sermão aos Peixes, alegando que a operação é revestida de sigilo, embora a Justiça já tenha quebrado essa proteção logo após a deflagração da operação, há cerca de três semanas.

No início da noite de quarta-feira 2, o senador Roberto Rocha (PSB) já havia manifestado, em nota, que a sua esposa, Ana Cristina Ayres Diniz, constituiu advogado para ter acesso para questionar a legitimidade da escuta contida no inquérito da PF. Em uma das folhas do relatório, Ana Cristina é citada por suspeitos como participante de um esquema criminoso atuante na Prefeitura de Balsas, onde o irmão do senador, Luís Rocha Filho, o Rocinha (PSB), é quem comanda o Executivo.

Roberto Rocha diz que esposa vai questionar PF sobre inquérito da Sermão aos Peixes
Política

Ana Cristina Ayres Diniz teve seu nome relacionado em esquema de corrupção em Balsas. Descoberta foi feita em interceptação telefônica de acusados

O senador Roberto Rocha (PSB-MA) divulgou nota, no início da noite dessa quarta-feira 2, na qual rebate revelação feita pelo Atual7 sobre as suspeitas de que sua mulher, Ana Cristina Ayres Diniz, segundo relatório da Polícia Federal relacionado à Operação Sermão aos Peixes, tenha recebido propina e participado de um esquema de superfaturamento de licitação encabeçado por investigados pela PF.

Roberto Rocha divulgou nota em que acusa a Polícia Federal de fazer interpretações absurdas feitas sem qualquer fundamento na realidade dos fatos
Divulgação Sermão ao Peixes Roberto Rocha divulgou nota em que acusa a Polícia Federal de fazer interpretações absurdas feitas sem qualquer fundamento na realidade dos fatos

Na nota, que pode ser conferida na íntegra ao lado, Rocha nega as acusações contra a sua esposa, alegando que Ana Cristina Diniz nunca exerceu cargo público em qualquer esfera de governo e que ela não conhece as duas pessoas da gravação. “Diante da gravidade dos fatos maldosamente imputados a ela”, diz, um advogado foi constituído para questionar a legitimidade da escuta contida no inquérito da Polícia Federal.

Ele promete ainda acionar a imprensa na Justiça por ter divulgado o trecho do relatório em que sua mulher é apontada como participante do esquema de corrupção.

Procurada pelo Atual7 desde a deflagração da Operação Sermão aos Peixes, a Polícia Federal tem alegado não que omite declaração a respeito de operações que estão em andamento e revestidas em sigilo, no caso as interceptações telefônicas. Resta saber se agora seguirá com a mesma linha ou adotará outra, por ser tratar de respostas à mulher de um senador da República.

Pote

Em conversa telefônica com o sócio da Centro de Medicina Clínica Ltda, interceptada pela Polícia Federal com autorização da Justiça no início de dezembro do ano passado, o empresário Charles Miranda Lopes menciona, segundo a PF, a esposa do senador maranhense, cunhada do prefeito de Balsas, Luís Rocha Filho, o Rocinha (PSB), ao comentar que pagava propina para uma agente do município por conta da licitação fraudulenta e do esquema de superfaturamento de biópsias realizadas rede pública de saúde do município.

Para a Polícia Federal, essa pessoa seria a mulher do senador Roberto Rocha, que era tratada por Charles como “secretária de saúde de Balsas”, que “gosta de um pote”.

Família suspeita

Esta não é a primeira vez que um familiar de Roberto Rocha tem o nome envolvido em esquema de corrupção desbaratado pela polícia.

Em maio deste ano, durante as operações "Morta Viva" e "Maharaja", que investiga crimes de agiotagem nas prefeituras do Maranhão, homens da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) e do Grupo de Atuação Especial no Combate a Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Maranhão encontraram um cheque de 120 mil reais, pertencente ao vereador Roberto Rocha Júnior (PSB), filho do senador maranhense, no cofre do agiota Josival Cavalcante da Silva, mais conhecido como Pacovan.

Até hoje o Rocha Júnior nunca se manifestou, mas o seu pai, provocado por um seguidor numa rede social, em ação semelhante a esta tomada contra a Polícia Federal, chegou a achacar o governo Flávio Dino e a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), comandada pelo delegado Jefferson Portela, prometendo ir a SSP saber qual o "agente público canalha" que vazou a cópia do cheque de seu filho para setores da imprensa maranhense.

Após o achaque, de la pra cá, o achado no cofre de Pacovan foi aparentemente esquecido pela Polícia Civil - e provavelmente até devolvido.

Mulher de Roberto Rocha é envolvida em superfaturamento e propinagem em Balsas
Política

Relatório da Polícia Federal aponta que Ana Cristina Ayres Diniz aparece como beneficiária de esquema investigado na Operação Sermão aos Peixes

Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça Federal no bojo da Operação Sermão aos Peixes, da Polícia Federal, que investiga desvio de dinheiro público da Saúde no Maranhão, relacionam a mulher do senador Roberto Rocha (PSB-MA), Ana Cristina Ayres Diniz, a um esquema de licitação fraudulenta e superfaturamento nos valores de exames cobrados rede pública municipal pertencente à Prefeitura de Balsas, administrada pelo prefeito Luís Rocha Filho, o Rochinha (PSB), irmão do senador maranhense.

Num trecho do diálogo, gravado a partir das 16 horas e 10 minutos do dia 1º de dezembro do ano passado, os gestores da investigada Associação Tocantina para o Desenvolvimento da Saúde – Bem Viver, Cloves Dias de Carvalho e Charles Miranda Lopes, donos do Centro de Medicina Clínica Ltda, reclamam abertamente sobre a necessidade de pagamento de propina para agentes do município após vitória em uma licitação. Num dado momento, Charles Lopes diz que já estaria se precavendo quanto a isso, pois a secretária de Saúde de Balsas, segundo ele, seria a mulher de Roberto Rocha, e que ela gosta de um "pote". Lopes chega ainda a comparar o esquema na prefeitura ao descoberto pela Polícia Federal em outra operação contra o desvio de recursos públicos, a Lava Jato.

Polícia Federal diz que "mulher" citada em interceptação telefônica é a esposa do senador Roberto Rocha, Ana Cristina Ayres Diniz
Atual7 Sabe o que faz a mulher de um seanadorPolícia Federal diz que "mulher" citada em interceptação telefônica é a esposa do senador Roberto Rocha, Ana Cristina Ayres Diniz

Em trecho anterior ao que há referência à Ana Cristina Diniz, é revelado que o atraso no repasse para as terceirizadas facilita a sustentação da máfia. Os donos do Centro de Medicina Clínica Ltda conversam ainda sobre o superfaturamento no valor de biópsias realizadas na unidade hospitalar municipal de Balsas.

"Bom demais, nenhum funcionário (...). Eu vou dar uma gratificação pra menina pegar (as biópsias) e botar na van. Agora ficou bom 90 conto [noventa reais] uma biópisia, nem particular não é esse preço", diz Charles Lopes, que declara mais a frente: "Essa de Balsas aí foi top, top, top foi noventa reais".

Investigado comemora superfaturamento em valor cobrado por biópsia na rede pública de saúde de Balsas, comandada pelo prefeito Rochinha, irmão do senador maranhense
Atual7 "Ganhadorzinho de licitação" Investigado comemora superfaturamento em valor cobrado por biópsia na rede pública de saúde de Balsas, comandada pelo prefeito Rochinha, irmão do senador maranhense

Outro lado

O Atual7 tentou contato com a esposa do senador Roberto Rocha e o prefeito de Balsas para comentar as declarações dos donos do Centro de Medicina Clínica Ltda, mas até a publicação desta reportagem nenhum deles foi localizado. Em nota, a Policia Federal alegou que não comenta operações em andamento e revestidas em sigilo de Justiça, no caso, as interceptações feitas durante a Sermão aos Peixes.