Instituto de Educação Juju e Cacaia
Mesmo repactuada com Juju e Cacaia, gestão Braide investiga servidores por contratação de quase R$ 7 milhões
Política

Procurada, prefeitura de São Luís não respondeu o porquê de ter seguido recomendação incomum do Ministério Público, já que instaurou sindicância sobre o caso. Aulinda Lima e Felipe Martins disseram que aguardam comunicação oficial, e Marco Duailibe não quis se manifestar

Ainda que tenha repactuado um termo de colaboração com o Instituto de Educação Juju e Cacaia Tu És Uma Benção para as prévias e festas de Carnaval promovidas pela prefeitura de São Luís em 2024, a gestão Eduardo Braide (PSD) apura a atuação de servidores da Secult (Secretaria Municipal de Cultura) na contratação da entidade.

A investigação interna foi instaurada na última quinta-feira (8), por determinação do secretário municipal de Administração, Octavio Augusto Gomes de Figueiredo, e tem o prazo de 30 dias para ser concluída, podendo ser prorrogada por igual período.

A sindicância mira o acordo que garantiu ao Juju e Cacaia cerca de R$ 7 milhões dos cofres públicos para confecção e execução de projetos para os circuitos da Cidade do Carnaval, Madre Deus, Passarela de São Luís, apuração das notas dos desfiles da Passarela do Samba, Baile da Corte Momesca e São Luís Gospel.

Embora as suspeitas recaiam sobre a Secult, cabe a uma comissão de caráter apuratório e processante constituída pela Semad investigar eventuais irregularidades quando não houver indícios suficientes da autoria dos fatos ou, sendo determinado o autor, não for a infração confessada, documentalmente provada ou manifestamente evidente. Integram a comissão o servidores Carlos Eduardo Calda Marques, Dilma Denise Miranda Freitas e Aline Maria Vinhaes Leite.

Localizado no bairro da Cidade Olímpica, na periferia da capital, o Juju e Cacaia tem como atividade econômica principal o ensino da educação infantil – pré-escola, segundo dados da Receita Federal, mas usa uma brecha na lei para operar também como organização social em outras áreas, ainda que por meio de subcontratações por incapacidade estrutural.

No final de janeiro, após a revelação dessa combinação de serviços, a prefeitura decidiu anular o chamamento público que resultou na contratação do Juju e Cacaia, mas sem detalhar a decisão administrativa. Em meio à crise, Eduardo Braide ainda exonerou da Secult a chefe da gabinete Aulinda Mesquita Lima Ericeira, o analista jurídico Jean Felipe Nunes Castro Martins e o titular da pasta, Marco Aurélio Rodrigues Duailibe.

Contudo, um dia após a abertura da sindicância, amparada em uma recomendação incomum do Ministério Público do Maranhão fundamentada em uma apuração prévia-relâmpago sequer concluída, a gestão municipal ignorou a própria apuração interna e repactuou o acordo suspeito com o instituto.

Procurado pelo ATUAL7 para comentar a instauração da sindicância, Marcos Duailibe não quis se manifestar sobre o assunto. À reportagem, Aulinda Lima e Felipe Martins afirmaram desconhecer a investigação, mas que aguardam comunicação oficial do município para apresentação de defesa.

“Apesar de não servir de nada, já que fui exonerado”, reforçou Martins.

A presidente do instituto, Aline Mayara Silva Messias, não respondeu uma solicitação por e-mail para entrevista sobre o acordo assinado com a Secult. A prefeitura de São Luís também não retornou o contato para explicar o porquê de ter seguido a recomendação do Ministério Público, já que abriu uma investigação interna para apurar a contratação da entidade.

Embora a gestão Eduardo Braide tenha recontratado o Juju e Cacaia, até o momento, nenhum dos exonerados foram recontratados. Essa condição, porém, segundo entendimento do STJ (Superior Tribunal de Justiça), não impede a instauração do procedimento investigatório, equiparável ao inquérito policial, cujo escopo visa apurar a existência de infração ou autoria da eventual irregularidade, quando do exercício da função ou cargo público pelo servidor.

Eduardo Braide libera R$ 11,4 milhões em emendas parlamentares represadas
Política

Recursos são referentes a ‘restos a pagar’ do orçamento do ano passado. Pagamento ocorreu na última sexta-feira (26), um dia após revelação de acordo suspeito da gestão municipal com um instituto para gerir R$ 7 milhões do Carnaval 2024

A gestão Eduardo Braide (PSD), que se prepara para disputar a reeleição, começou a liberar emendas parlamentares que estavam represadas, relativas a restos a pagar do ano passado.

Segundo dados do Portal da Transparência, a prefeitura de São Luís pagou na última sexta-feira (26) mais de R$ 11,4 milhões de emendas parlamentares para entidades indicadas pelos vereadores da capital.

Embora possa não ter relação com o repasse do dinheiro, o pagamento ocorreu um dia depois a descoberta que a gestão municipal pactuou um acordo de cerca de R$ 7 milhões com o Instituto de Educação Juju e Cacaia “Tu és uma benção” para confecção e execução de projetos para os circuitos de pré-Carnaval e Carnaval promovidos pela prefeitura em 2024. Conforme detalhou o blog do Gláucio Ericeira, primeiro a publicar sobre o assunto, a entidade tem como atividade econômica principal o ensino da educação infantil – pré-escola. Após a revelação, o termo de colaboração com o instituto foi anulado sob suspeita de irregularidades e dois servidores e até o secretário municipal de Cultura foram exonerados.

Apesar do escândalo, que entrou na mira do Ministério Público estadual, segundo levantamento do blog do Neto Ferreira nas redes sociais dos 31 vereadores de São Luís, nenhum parlamentar ludovicense fez qualquer comentário a respeito, até o momento.

A maior parte das emendas liberadas por Braide foram pagas via Semdel (Secretaria Municipal de Desporto e Lazer), quase R$ 5,5 milhões. Pouco mais de R$ 5,2 milhões saíram dos cofres públicos por meio da Semsa (Secretaria Municipal de Segurança Alimentar) e R$ 732 mil, pela Secult (Secretaria Municipal de Cultura).

Embora desde o final de 2023 a prefeitura tenha começado a divulgar os repasses das emendas parlamentares, o que só ocorreu após a gestão municipal ser alvo de operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas) do Ministério Público do Maranhão, a transparência é opaca. Não há, por exemplo, o registro do nome do vereador responsável no campo criado para esse fim no Portal da Transparência. Para obter essa informação, o cidadão precisa catalogar e tabular, no pouco disponibilizado, os dados indicados no objeto de cada emenda.

Pela ordem de classificação elaborada pelo ATUAL7 a partir desses dados, desconsideradas emendas em que não é possível saber o responsável pela indicação, os vereadores Andrey Monteiro (Republicanos) e Nato Júnior (PSB) foram os maiores beneficiários nessa remessa. Para cada um, Braide liberou o pagamento de R$ 736.652,10.

Os outros dois mais bem pagos foram o presidente da Câmara Municipal de São Luís, Paulo Victor (PSDB), e Edson Gaguinho (União Brasil). Cada um recebeu apenas R$ 0,10 a menos do que os colegas, isto é, exatos R$ 736.652,00.

A menor emenda foi paga ao vereador Astro de Ogum (PCdoB), o total de R$ 64 mil.

Cerca de R$ 2 milhões estão empenhados e liquidados, prontos para liberação, sendo quase 40% desse valor sem qualquer indicação do responsável pela emenda, e o restante para pagamento aos vereadores Chico Carvalho (Solidariedade), Concita Pinta (PCdoB) e Marquinhos Silva (União Brasil).

Além da liberação das emendas ter ocorrido um dia após a revelação do acordo milionário da gestão municipal com o Instituto de Educação Juju e Cacaia para o pré-Carnaval e Carnaval de São Luís, também coincidentemente, o pagamento ocorreu três dias após a aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual) pelos vereadores no formato original apresentado pelo Executivo, sem a análise de nenhuma das 72 emendas que os próprios parlamentares pretendiam apresentar ao texto.

Pela proposta aprovada pela Câmara, a previsão de Orçamento da gestão Eduardo Braide para 2024, ano eleitoral, é de R$ 4,7 bilhões.

Ministério Público vai investigar acordo suspeito de R$ 7 milhões da gestão Braide com instituto para Carnaval
Política

Entidade tem como atividade econômica principal o ensino da educação infantil – pré-escola. Parceria foi anulada e prefeito exonerou dois servidores e secretário de Cultura, mas falta de transparência permanece

O Ministério Público do Maranhão vai investigar a suspeita de irregularidades na pactuação de um termo de colaboração da gestão Eduardo Braide (PSD) com um instituto da capital para a confecção e execução de projetos para os circuitos de pré-Carnaval e Carnaval promovidos pela prefeitura de São Luís em 2024.

O caso será encaminhado pela Ouvidoria do órgão para uma promotoria de Probidade, segundo informou ao ATUAL7 a assessoria do MP-MA, por orientação do CAO-Proad (Centro de Apoio Operacional de Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa), coordenado pela promotora de Justiça Nahyma Ribeiro Abas. O Ministério Público maranhense é comandado pelo procurador-geral de Justiça Eduardo Jorge Hiluy Nicolau.

A parceria suspeita foi anulada e um novo edital foi aberto na segunda-feira (29) após a revelação de que o Instituto de Educação Juju e Cacaia “Tu és uma benção”, que levaria dos cofres públicos cerca de R$ 7 milhões para organização da festa momesca, tem como atividade econômica principal o ensino da educação infantil – pré-escola, segundo dados da Receita Federal.

Tanto na celebração do acordo agora extinto quanto na nova chamada pública aberta pela gestão municipal, há falta de transparência da prefeitura a respeito da formalização da parceria milionária, incluindo a omissão de informações sobre a decisão administrativa da Secult (Secretaria Municipal de Cultura) de desfazer o acordo que havia celebrado com a entidade e, o que deve ser o principal foco da apuração do MP-MA, quem está, de fato, movimentando os recursos públicos destinados para circuitos de pré-Carnaval e Carnaval da cidade.

Apesar do apagão de dados que deveriam ser públicos, Eduardo Braide tenta apresentar uma agenda positiva para ofuscar o desgaste provocado pelo escândalo. Em meio às suspeitas, o prefeito exonerou dois servidores, o analista jurídico Jean Felipe Nunes Castro Martins e a chefe da gabinete Aulinda Mesquita Lima Ericeira, além do titular da pasta, Marco Aurélio Rodrigues Duailibe, que atuou diretamente no acordo com o Instituto de Educação Juju e Cacaia “Tu és uma benção”.

No documento em que determinou seguimento ao processo de celebração do termo de colaboração, Marquinhos Duailibe, como é mais conhecido, informou que apenas a entidade havia se interessado e apresentado proposta para gerir as festas carnavalescas em São Luís. Afirmou, ainda, que o instituto havia atendido as exigências legais para controlar o dinheiro, o que torna o caso ainda mais nebuloso.

Em nota divulgada pelo blog do jornalista Gláucio Ericeira, primeiro a publicar sobre a atuação do Instituto de Educação Juju e Cacaia “Tu és uma benção” como uma creche no bairro da Cidade Olímpica, a entidade ratifica a informação de que teria apresentado toda “documentação jurídica, fiscal, técnica e operacional requisitadas pelo Poder Público”, mas não indica qualquer pretensão de recorrer da anulação do acordo pela prefeitura e ainda ameaça acionar a Justiça contra, segundo alega, “as imputações inverídicas que está sofrendo”.

Não é a primeira vez que a falta de transparência da gestão Eduardo Braide sobre recursos públicos é alvo de investigação do MP estadual.

Em agosto de 2023, a Secretaria de Cultura de São Luís foi de busca e apreensão em operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas) que mira suposto desvio de emendas parlamentares.

Segundo o órgão, a gestão municipal estaria blindando a prestação de contas do dinheiro público repassado pela pasta a entidades para realização de eventos festivos na cidade. Após a operação, a prefeitura de São Luís passou a divulgar no Portal da Transparência dados sobre as emendas dos vereadores da capital, mas ainda com transparência opaca.