Leylane da Silva
Leylane da Silva, da CGU, vai à sabatina por vaga no TCE-MA mesmo com inscrição indeferida
Política

Dispositivo não previsto na Constituição foi usado para favorecer Marcelo Tavares como candidato único. Manobra pode parar na Justiça

A superintendente da CGU (Controladoria Regional da União) no Maranhão, Leylane Maria da Silva, deve comparecer à sabatina da Assembleia Legislativa do Maranhão para preenchimento de cargo na cúpula do TCE (Tribunal de Contas do Estado) mesmo tendo a inscrição indeferida, segundo apurou o ATUAL7. A vaga será aberta com a aposentadoria compulsória do conselheiro Nonato Lago, prevista para acontecer na próxima semana.

A sabatina está marcada para acontecer às 15 horas desta segunda-feira (30), na sede do Poder Legislativo, em São Luís, tendo como único inscrito deferido o deputado licenciado Marcelo Tavares (PSB), secretário-chefe da Casa Civil do governo Flávio Dino (PSB).

Leylane da Silva teve a inscrição negada pela Comissão Especial oficializada apenas nesta segunda, vício que pode se somar a uma manobra supostamente inconstitucional usada pela Alema para favorecer Tavares. O indeferimento da inscrição teve como base um decreto legislativo com exigência que não consta na Constituição, que impõe a necessidade de assinatura de pelo menos um terço dos 42 deputados da Alema como obrigatoriedade para que a documentação apresentada pelos pretendentes seja analisada.

No caso, os deputados ignoraram requisitos constitucionais de idoneidade moral e reputação ilibada e de notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública, apenas estes previstos na Carta Magna, e usaram a norma que não consta na Constituição como espécie de cláusula de barreira.

Pelo mesmo motivo, também foi indeferida a inscrição do advogado Márcio dos Santos Rabelo.

O uso da manobra pode parar na Justiça.

Leylane Silva no TCE/MA: uma brisa de esperança
Artigo

Por Eden Jr.*

Admito que os tempos recentes não têm sido nada auspiciosos para quem se dedica à tarefa de zelar pela correta aplicação das verbas públicas e adequação dos atos administrativos no país. Em verdade, assistir ao Senado Federal, num rapapé que reuniu bolsonaristas, petistas, tucanos, centristas e assemelhados, reconduzir Augusto Aras ao comando do Procuradoria-Geral da República, que em seu dizer teve como um dos grandes méritos de sua primeira gestão o aniquilamento da Operação Lava Jato – como se a corrupção tivesse deixado de estar entre os principais males a atormentar o país, é angustiante. Testemunhar a prescrição de mais um processo contra o ex-presidente Lula, o caso do sítio de Atibaia, que envolvia acusação de corrupção e lavagem de dinheiro, sem o julgamento de mérito da questão, é desestimulante. Tomar consciência de que há mais de um ano o Supremo Tribunal Federal não decide se o presidente Bolsonaro deve depor, de forma presencial ou por escrito, no inquérito em que é acusado de tentar interferir indevidamente da Polícia Federal, é desconcertante.

Mas eis que nas últimas horas tomo conhecimento de que a colega Leylane Silva, auditora de carreira como eu, e atual chefe da Controladoria-Geral da União no Maranhão, se inscreveu no processo que vai escolher o novo Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão. Que novidade alvissareira e revigorante! É imprescindível que os bons tentem mudar o “estado de coisas”. A trajetória de Leylane encerra uma história de retidão e sucesso. De origem humilde, nasceu em São Luís Gonzaga/MA, onde, sempre estudando em escola pública, concluiu o ensino médio. Deixou o interior para se graduar em contabilidade na Universidade Federal do Maranhão, instituição pela qual, anos mais tarde, também se formaria em direito. Aos 14 anos começou a trabalhar como menor- estagiário do Banco do Brasil, e aos 19 anos ingressou, pela via meritória do concurso público, na Procuradoria da Fazenda Nacional, na função de Técnico de Finanças e Controle. Prestou novamente concurso e, com 23 anos, alcançou o cargo de Auditor Federal da CGU (um dos mais desejados do país). Na CGU, aos 38 anos, veio a ser a primeira mulher a dirigir a entidade no Maranhão.

Formação em direito e contabilidade; décadas de prática na atividade de controle da gestão pública e diversas experiências como palestrante e instrutora de cursos de: licitação, fiscalização de recursos governamentais, investigação, combate à corrupção e detecção de fraudes. Intercâmbio na Universidade George Washington nos EUA, para aperfeiçoamento sobre a estrutura anticorrupção americana. Integrou inúmeras equipes em todo Brasil de trabalhos da CGU em parceria com outras instituições de controle. A carreira de Leylane, aqui sintetizada, a credencia, cabalmente, a assumir os mais elevados cargos da República, a exemplo daquele de Conselheira do TCE/MA.

Não que Leylane seja irrepreensível – não é. Nem mesmo temos, costumeiramente, as mesmas opiniões sobre aspectos técnicos de nossas auditorias. Já divergimos bastante, por vezes com muita rispidez, mas sempre dentro da transparência e integridade pelas quais as relações profissionais devem se pautar. E possivelmente vamos ter várias outras discordâncias. Eu e Leylane não temos a mesma visão sobre política e não votamos nos mesmos candidatos. Mas não é disso que se trata. Isso não importa. Sou testemunha da dedicação e empenho de Leylane no cumprimento de suas atribuições funcionais. Quantos sábados, domingos e feriados trabalhando, para desempenhar com primazia suas tarefas? Quantas viagens, sem as condições materiais mais adequadas, para cumprir sua missão? Quantas vezes não foi necessário avançar noites e madrugadas para dar conta do trabalho?

Hoje, quando tanto se vulgariza o termo democracia, é indispensável lembrar, especialmente no estado mais pobre do Brasil, e no âmbito de atuação do TCE, que a democracia passa, inapelavelmente, por cuidar para que os recursos públicos, transformados em programas, em áreas como saúde, educação e assistência social, cheguem, satisfatoriamente, aos cidadãos mais necessitados do Maranhão – quem percorre, por décadas, os nossos mais desassistidos rincões, monitorando a apropriada gestão de recursos, e vê a aflição dos desvalidos, sabe do que falo. E, ademais, que os responsáveis por eventuais desvios de verbas estatais sejam exemplarmente punidos – quer um sultão ou um plebeu. Isso também é democracia. Ulysses Guimarães disse: “temos ódio e nojo à ditadura”. Os democratas por inteiro, que não tergiversam diante dos malfeitos, acrescentam: “e da corrupção também”.

Que os deputados estaduais do Maranhão “façam a coisa certa”: conduzam Leylane Silva ao plenário do Tribunal de Contas do Maranhão. Mais do que Leylane, ganharão a própria Corte de Contas e a sociedade, por dispor do labor de tão habilitada profissional, e, de quebra, oportunizarão ato inicial da busca pela equidade de gênero, garantindo presença feminina em tão nobre espaço, hoje, e historicamente, dominado por homens.

*Auditor da CGU; ex-auditor da Controladoria-Geral do Estado do Maranhão; ex-auditor do Tribunal de Contas de Roraima ([email protected])

Leylane da Silva, da CGU, fala em ‘romper status quo’ e estuda judicializar vaga no TCE-MA
Política

Graduada em Ciências Contábeis e Direito pela UFMA, com vasta experiência em ações de prevenção e combate à corrupção, superintendente da CGU no Maranhão é a primeira mulher a se inscrever para a disputa, mas esbarra em manobra da Alema

Primeira mulher na história a se inscrever para a disputa por uma vaga na cúpula do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Maranhão, instituição predominantemente dominada por homens desde sua instalação, em 1947, a auditora federal de carreira Leylane Maria da Silva, superintendente da CGU (Controladoria Regional da União) no Maranhão, pode quebrar o modelo patriarcal e indecoroso de indicação para corte, tradicionalmente usada como espécie emprego público vitalício para familiares e demais apaniguados do chefe do Executivo estadual, mesmo quando a indicação é do Legislativo.

Para isso, segundo diz ela própria em entrevista ao ATUAL7, pretende “romper o status quo” de que a vaga na corte de Contas maranhense é estabelecida por indicação política, já que o cargo, pelas regras estabelecidas pela Constituição, é de “caráter técnico”.

Diante da manobra executada pelos membros do Palácio Manuel Beckman, sede do Poder Legislativo, de usarem um decreto supostamente inconstitucional para presentar o colega de Parlamento Marcelo Tavares (PSB) com o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas estadual, a superintendente da CGU no Maranhão não descarta também levar o caso à Justiça.

Graduada em Ciências Contábeis e Direito pela UFMA (Universidade Federal do Maranhão), dona da vasta experiência comprovada em ações de prevenção e combate à corrupção, sem ligação partidária nem aproximação política com deputados estaduais, que são os responsáveis pela sabatina dos inscritos para a vaga, ela acredita na seriedade das instituições democráticas e que a escolha para a vaga no tribunal deve levar em conta o conhecimento e capacidade técnica dos candidatos.

“Estou confiando no currículo, na seriedade das instituições, no caráter técnico que deve ter uma escolha dessa natureza”, defende.

Se o decreto apontado como inconstitucional cair no Judiciário, e o currículo dos inscritos à vaga no TCE-MA for levado em conta, Leylane da Silva pode ser a primeira mulher na história a compor o pleno da corte maranhense de Contas. Na CGU-MA, ela já é a primeira mulher a ocupar o cargo de superintendente regional no estado.

Um dos inscritos pretende levar à Justiça o processo de escolha para o TCE, em razão de decreto que impõe o apoio de pelo menos 14 deputados para a inscrição. A senhora também vai judicializar a questão? Algumas pessoas tem me cobrado isso, me perguntado. Estou estudando, ainda não posso dizer que sim, mas estou estudando a judicialização. É uma possibilidade.

O que levou a senhora a pleitear essa vaga? Primeiro a minha experiência profissional. Acho que posso contribuir muito com esse processo do Tribunal de Contas, pelo conhecimento que tenho, de 19 anos de CGU. Todo esse tempo eu trabalhei com controle de recursos públicos, que é uma atividade precípua do Tribunal de Contas do Estado.

Então, eu tenho uma experiência de órgão federal e acho que posso contribuir muito nesse processo de melhorar a gestão pública no Maranhão. A gente precisa disso porque os indicadores socioeconômicos do estado são muitos ruins, e isso, de uma certa medida, passa pela atribuição do Tribunal de Contas. Então, isso que me levou. É um passo importante profissionalmente. Já tenho uma experiência de gestão, e isso também contribuiu muito para essa decisão.

Integrantes do Ministério Público de Contas procuraram a Assembleia e têm conversado formalmente e informalmente a respeito dessa vaga. A senhora também procurou, em algum momento, o Poder Legislativo ou apenas se inscreveu? Apenas me inscrevi. Preparei toda a documentação e protocolei. Não procurei ninguém do Poder Legislativo. Eu estou confiando no currículo, na seriedade das instituições, no caráter técnico que deve ter uma escolha dessa natureza.

Há uma certeza no meio de que a vaga, antes mesmo da abertura para inscrições, já seria do Marcelo Tavares. A senhora tinha conhecimento disso quando resolveu se inscrever? Já tinha comentários de bastidores falando sobre isso, mas mesmo assim eu decidi me inscrever. Eu acho que a gente tem que romper esse status quo que se apresenta. É um processo social e faz parte da democracia a gente não aceitar as coisas como dadas, como prontas.

A CGU ela faz um controle interno dos servidores e divulga relação de implicados em casos de corrupção, de improbidade. O TCE, embora se tenha muitos rumores a respeito de supostas ilegalidades e irregularidades no âmbito da corte, não há histórico de que alguém tenha levado isso adiante. A senhora chegando lá, confirmando algum desses rumores, a senhora pretende denunciar seus pares ou… A CGU é o órgão central de transparência do governo federal, órgão central de corregedoria. Essa divulgação é feita das punições que são aplicadas a servidores públicos, e está no Portal da Transparência. A administração pública como um todo deveria fazer isso, também. O Governo do Estado deveria fazer, as prefeituras deveriam fazer, os outros poderes deveriam fazer, o controle externo também deveria fazer.

É claro que não posso dizer que, caso eu seja conselheira, isso dependeria de uma decisão minha. Mas se dependesse de uma decisão minha, sim, porque isso é uma medida de transparência. Quem já respondeu a algum processo administrativo e que foi implicado nesse processo, essa decisão deveria ser de conhecimento público. Então, dependendo de uma decisão minha, isso, claro, se tornará público. Deveria ser: todos os entes adotarem a mesma providência em seus portais de transparência.

Alguém entrou em contato com a senhora, para lhe pressionar ou pedir que seja retirada a inscrição? Não, não. Quem entrou contato foram apenas pessoas que tomaram conhecimento, amigos, e falaram comigo positivamente.

Othelino Neto e Jairo Cavalcanti articulam nota conjunta concordando que vaga no TCE é da Alema
Política

Apesar de fim do imbróglio, vaga a ser aberta com aposentadoria de Nonato Lago deve ser decida na Justiça. Manobra tenta garantir assento para Marcelo Tavares

O presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, deputado Othelino Neto (PCdoB), e o chefe do Ministério Público que atua junto ao TCE (Tribunal de Contas do Estado), Jairo Cavalcanti, articularam uma chamada “nota técnica” conjunta em que concordam que a vaga de conselheiro na corte, a ser aberta com a aposentadoria de Nonato Lato, é da Alema.

“A vacância de cargo atualmente ocupado por conselheiro livremente escolhido pelo chefe do Poder Executivo estadual deverá corrigir a proporção das distribuições das vagas por meio de indicação de novo conselheiro pela Assembleia Legislativa”, diz trecho.

Segundo a nota, a próxima vaga a ser aberta no TCE-MA, com aposentadoria do conselheiro Edmar Cutrim, também deve ser indicada pela Alema. Somente quando da aposentadoria do conselheiro Raimundo Oliveira é que a vaga seria do MP de Contas.

“Por conseguinte, a próxima vacância de cargo atualmente ocupado por conselheiro livremente escolhido pelo chefe do Poder Executivo estadual deverá, necessariamente, ser destinada a conselheiro escolhido pelo chefe do Poder Executivo estadual dentre os membros do Ministério Público de Contas integrantes da lista encaminhada pelo TCE-MA, estabelecendo a representatividade do órgão ministerial.”

O documento põe fim a um dos imbróglios que envolve o assunto. O outro, sobre uma imposição supostamente inconstitucional que está sendo usada para garantir a vaga para o deputado licenciado Marcelo Tavares (PSB), deve ser decido na Justiça.

Conforme mostrou o ATUAL7, o advogado Márcio dos Santos Rabelo, inscrito para a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas maranhense, afirmou que vai judicializar a escolha para o cargo caso a Assembleia Legislativa use como critério para inscrição um decreto da década passada que impõe a necessidade de assinatura de pelo menos um terço dos 42 deputados da Casa como obrigatoriedade para que a documentação apresentada pelos pretendentes seja analisada.

“Posso entrar no Judiciário depois da decisão definitiva da Assembleia, se impedir a gente de passar para a próxima fase do certame. No meu entendimento, isso é quase uma briga de Davi contra Golias, uma vez que a Assembleia está fechada com o candidato Marcelo Tavares. Isso no Maranhão é típico, o coronelismo, a cultura do coronel no Maranhão é muito forte, essas relações políticas”, disse.

Além de Rabelo, também se inscreveram para a vaga, a ser aberta na corte com a aposentadoria do conselheiro Nonato Lago, o deputado licenciado Marcelo Tavares, ainda secretário-chefe da Casa Civil do governo Flávio Dino (PSB), e a superintendente da CGU (Controladoria Regional da União) no Maranhão, Leylane Maria da Silva.

De acordo com o artigo 2º do decreto legislativo 151/1990, que seria inconstitucional, os interessados em integrar o TCE do Maranhão devem ter o apoio de um terço dos 42 deputados da Assembleia Legislativa estadual, não podendo o parlamentar assinar mais de uma indicação.

Tavares, no caso, já tem a assinatura de todos os membros do Palácio Manuel Beckman em apoio ao seu nome para conselheiro do Tribunal de Contas maranhense, manobra que impossibilita que qualquer outra pessoa entre na disputa pela vaga.

Leylane da Silva, superintendente da CGU-MA, se inscreve para vaga de conselheira no TCE, mas esbarra em manobra pró-Tavares
Política

Decreto Legislativo estabelece que inscrito precisa ter apoio de um terço da Alema. Chefe da Casa Civil já tem assinatura de todos os membros da Casa

A superintendente da CGU (Controladoria Regional da União) no Maranhão, Leylane Maria da Silva, é uma das três pessoas que se inscreveram para o TCE (Controladoria-Geral da União) na vaga a ser aberta com a aposentadoria do conselheiro Nonato Lago. Os outros dois são o deputado licenciado Marcelo Tavares (PSB), ainda secretário-chefe da Casa Civil do governo Flávio Dino (PSB), e o advogado Márcio dos Santos Rabelo.

Apesar de ostentar invejável curriculum e experiência comprovada em conhecimentos jurídicos e contábeis, e da idoneidade moral e reputação ilibada, a chefe da CGU no Maranhão esbarra em um decreto legislativo, em tese inconstitucional, que está sendo usado como manobra para garantir a vaga na corte de contas maranhense a Tavares, antecipadamente.

De acordo com o artigo 2º do decreto legislativo 151/1990, usado como um dos critérios para a inscrição, os interessados em integrar o TCE do Maranhão devem ter o apoio de um terço dos 42 deputados da Assembleia Legislativa estadual, que representa 14 deputados, não podendo o parlamentar assinar mais de uma indicação.

Tavares, no caso, inscrito desde a sexta-feira 20, já tem a assinatura de todos os membros do Palácio Manuel Beckman em apoio ao seu nome para conselheiro do Tribunal de Contas maranhense, impossibilitando que qualquer outra pessoa entre na disputa pela vaga.